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Guaidó diz que tem apoio militar para derrubar Maduro: o que se sabe sobre novo capítulo da crise na Venezuela

30/04/2019 10h05

Em um vídeo publicado no Twitter, o líder da oposição, Juan Guaidó, aparece falando diante de homens uniformizados, afirmando que tem o apoio de militares e convocando o povo para acabar com o que chama de "usurpação" de poder promovida por Maduro.

O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, anunciou a "fase final" de sua tentativa de pôr fim ao governo do presidente Nicolás Maduro - e diz que tem apoio militar para tanto.

Em um vídeo aparentemente gravado em uma base da força aérea e publicado nas redes sociais, ele aparece junto a homens de uniforme e de outro líder da oposição, Leopoldo López, que cumpria prisão domiciliar após ter sido considerado culpado por incitar a violência durante protestos contra o governo em 2014.

Guaidó pede que os militares o ajudem a acabar com a "usurpação" do poder por Maduro.

O governo chamou o episódio de "pequena tentativa de golpe".

Logo após o anúncio de Guaidó, imagens mostram bombas de gás sendo lançadas contra manifestantes contrários ao presidente venezuelano, que se concentravam em frente à base aérea La Carlota.

Nicolás Maduro postou no Twitter um comentário sobre a situação no país: "Nervos de Aço! Conversei com os comandantes de todas as REDI e ZODI do país, que me manifestaram sua total lealdade ao povo, à Constituição e à Pátria. Convoco à máxima mobilização popular para assegurar a vitória da paz. Venceremos!"

REDI e ZODI são as siglas para Regiões de Defesa Integral e Zonas de Defesa Integral, respectivamente.

De que lado os militares tem estado até agora?

Os militares até agora vinham apoiando Maduro e rechaçando o pleito de Guaidó - ele se declarou presidente interino em janeiro e tem o apoio de vários países, incluindo os Estados Unidos e o Brasil.

No vídeo publicado em seu Twitter, Guaidó diz que tem o apoio de "bravos soldados" em Caracas.

"Povo da Venezuela, vamos às ruas (...) para apoiar o fim da usurpação, que é irreversível. (...) As Forças Armadas Nacionais tomaram a decisão certa, elas têm o apoio do povo de Venezuela, e o apoio da nossa constituição. Elas vão estar do lado certo da história ", diz ele.

López disse que foi libertado por militares que declararam lealdade a Guaidó.

Em resposta ao caso, o ministro da Informação venezuelano, Jorge Rodríguez, postou no Twitter que o governo estava enfrentando um pequeno grupo de "traidores militares" que, segundo ele, estavam tentando promover um golpe.

Guaidó, que é não só líder da oposição, mas também presidente da Assembleia Nacional, tem pedido aos militares que o apoiem desde que se declarou presidente interino.

Ele argumenta que o presidente Maduro é um "usurpador" porque foi reeleito em votações que foram amplamente questionadas.

O vídeo parece ter gravado ao amanhecer na base aérea de La Carlota, na capital Caracas.

Imagens feitas posteriormente pela agência de notícias Reuters mostram Guaidó e López com dezenas de homens uniformizados em uma rodovia em Caracas.

Muitos estavam usando braçadeiras azuis sinalizando seu apoio a Guaidó. A filmagem mostra gás lacrimogêneo sendo disparado contra eles e contra apoiadores.

A agência de notícias Reuters informou ter havido tiros na base militar La Carlota e num comício liderado por Guaidó do lado de fora da base aérea, onde se concentra o grupo contrário a Maduro.

López, que lidera o partido Popular do qual Guaidó faz parte, pediu aos venezuelanos que se juntem a eles: "Todos os venezuelanos que querem a liberdade devem vir para cá, interromper a ordem, se juntar a nós e encorajar nossos soldados a se unirem ao nosso povo. Bom dia, Venezuela, vamos fazer isso juntos ".

Apostas

Não se sabe se a liberação de Leopoldo López, tradicional líder antichavista que desafiou Maduro em 2014, é apenas mais uma das muitas ofensivas da oposição contra Maduro.

Como o presidente venezuelano continua no poder, muitos analistas chegaram a acreditar que o chamado "efeito Guaidó" poderia diluir.

E foi exatamente quando muitos pensavam que o projeto encabeçado por Juan Guaidó para tirar Nicolás Maduro do poder da Venezuela estava prestes a fracassar, o líder oposicionista fez um movimento inesperado e de impacto.

Este último e inesperado passo vem num momento em que protestos recorrentemente convocados pelo líder da oposição, que em 23 de janeiro invocou a Constituição e se declarou presidente interino do país, pareciam estar enfraquecendo.

No entanto, segundo o correspondente da BBC News Mundo em Caracas, Guillermo D. Olmo, a "situação é muito incerta". "Mas Guaidó conseguiu apresentar fatos de algo que anunciava há semanas, que 'a cadeia de comando na Venezuela foi quebrada'", observa.

Reações

O senador americano Marco Rubio, defensor ferrenho de Guaidó, recorreu ao Twitter para pedir aos militares que apoiem o presidente da Assembleia Nacional.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, demonstrou suporte a Guaidó. No Twitter, ele escreveu que "saúda a adesão dos militares a Constituição e ao presidente encarregado da Venezuela".

"É necessário o mais pleno apoio ao processo de transição democrática de forma pacífica", postou Almagro.

Também no Twitter, Vladimir Padrino, atual ministro da Defesa da Venezuela, disse que as Forças Armadas estão permanecendo leais a Maduro. Ele também critica os "covardes" e "traidores" que estariam por trás do que chama de "golpe".

"As Forças Armadas permanecem firmes na defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas. Todas as unidades militares empregadas nas oito regiões de defesa reportaram que as as coisas estão normais nos quarteis e nas bases militares, que estão sob o comando de seus comandantes locais."

Padrino diz que rejeita o "movimento de golpe" e chama os envolvidos na ação de "pseudolíderes".

Nas redes sociais, os líderes da região se dividiram quanto ao movimento de Guaidó e López.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou "energeticamente" o que considera como "tentativa de golpe de Estado" por parte de uma "direita que é submissa a interesses estrangeiros".

Morales também disse ter certeza que a Revolução Bolivariana se imporá a "esse novo ataque do império".

O líder boliviano culpou os Estados Unidos por "promover golpes de Estado", na busca de "provocar violência e morte" no país.

Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, disse que condena "o golpe de Estado em andamento" e afirmou que Cuba oferece apoio e lealdade a Nicolás Maduro, "o presidente constitucional de nossa nação irmã e ao seu governo chavista e bolivariano".

Já o presidente da Colômbia, Iván Duque, convocou o povo e os militares venezuelanos a ficar "do lado certo da história", rechaçando "a ditadura e a usurpação de Maduro".

Seguindo uma terceira via, o governo espanhol defendeu em sua conta no Twitter a realização imediata de eleições para que um novo presidente seja escolhido.

"O governo da Espanha deseja que não se produza um derramamento de sangue na Venezuela e reitera seu apoio a um processo democrático pacífico no país", diz a mensagem.

No Brasil, o Ministério da Defesa informou que acompanha a situação na Venezuela e que as informações ainda são preliminares.

Uma reunião no Palácio do Planalto foi convocada para discutir o assunto nesta terça-feira, segundo o vice-presidente, general Hamilton Mourão. Além do presidente Jair Bolsonaro e do vice, está prevista a participação dos ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e do Itamaraty, Ernesto Araújo.

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