Topo
Entretenimento

Quer ser modelo? Veja dicas para não cair no golpe do book fotográfico

Beatriz Rosa ao lado da fotógrafa Edna Medici. À direita, a jovem como modelo profissional - Getty Images/iStockphoto
Beatriz Rosa ao lado da fotógrafa Edna Medici. À direita, a jovem como modelo profissional Imagem: Getty Images/iStockphoto

Diana Carvalho

Do BOL, em São Paulo

02/08/2018 06h00

A história de Beatriz Rosa, de 18 anos, inspira muitas meninas que sonham em seguir a carreira de modelo. Ela, que foi descoberta enquanto ajudava os pais coveiros, no Cemitério da Saudade, em Jacareí, no interior de SP, contou com o olhar e a generosidade da fotógrafa Edna Medici, que realizou o seu primeiro ensaio sem cobrar nada. Hoje, Beatriz é uma das apostas da Ford Models.

Casos como o de Beatriz, no entanto, não acontecem com frequência. Jovens que sonham com as passarelas chegam, muitas vezes, a cair em ciladas. Prática antiga, mas ainda o comum, o golpe do book fotográfico persiste e continua fazendo suas vítimas.

Leia também:

A estudante Júlia Moreira*, de 21 anos por pouco não foi uma delas. Tudo começou quando ela foi abordada em uma rede social. "Sempre postava fotos de biquíni, fotos com amigas, marcando localização de balada... Um dia recebi a mensagem de um cara que, primeiro, se identificou como produtor de festas. Logo depois ele disse que trabalhava para várias agências de modelos e que o meu perfil era interessante", relembra.

"Desconfiei, mas mesmo assim resolvi dar crédito e ele me passou o endereço de uma 'seleção para comercial'. Fui com uma amiga, mas, chegando lá, percebi que era um estúdio fotográfico. Eles queriam me cobrar R$ 2.100,00 por um 'book'. O pacote incluía a divulgação em agências e produtoras. Não topei, mas perdi um dia de trabalho!", conta a estudante de moda, que trabalha como auxiliar de produção em um ateliê de São Paulo.

Profissão modelo; ensaio fotográfico; estúdio de fotografia; maquiadora; fotógrafo; jovem modelo é fotografada; book de fotos - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Agências vendem book fotográfico prometendo trabalhos como modelo, mas tudo não passa de uma simples venda de fotos, e por um valor alto (imagem ilustrativa)
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O depoimento de Júlia é semelhante a diversas reclamações espalhadas pela internet, que acusam agências de garantirem trabalhos como modelo cobrando um valor alto por um ensaio de fotos. De acordo com a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP), é fundamental que o cliente leia atentamente o contrato, verificando o que exatamente está sendo oferecido, por exemplo, um book ou trabalhos como modelo.

"O que for oferecido verbalmente também deve constar no contrato”, alerta o órgão, que orienta o cliente a guardar todas as mensagens e documentos encaminhados pela agência, as quais poderão ser importantes no caso de um eventual não cumprimento daquilo que foi prometido.

"Se o consumidor tiver documentos (mensagens, folhetos publicitários, entre outros documentos) que demonstrem que houve uma oferta enganosa por parte da empresa, ele pode procurar o órgão de defesa do consumidor de sua cidade (como o Procon-SP) ou o poder judiciário", afirma a assessoria da Fundação.

"O cliente deve estar sempre atento ao que é prometido. Algumas agências são, de fato, regulamentadas e possuem autorização para atuar. Porém há uma diferença muito grande quando a agência ou alguém que se diz representante faz uma promessa ou antecipa um determinado resultado que, na verdade, não está dentro de sua esfera de decisão – como garantir um trabalho como modelo. Com isso, o caso pode ser considerado uma propaganda enganosa ou propaganda abusiva, que induz o consumidor ao erro", explica o advogado Dori Boucault, especialista em direitos do consumidor e do fornecedor.

Agência profissional não vende book

Anderson Baumgartner, diretor geral da WAY Model, com a modelo Caroline Trentini - Divulgação/ WAY Model - Divulgação/ WAY Model
Anderson Baumgartner, diretor geral da WAY Model, com a modelo Caroline Trentini
Imagem: Divulgação/ WAY Model
Para Anderson Baumgartner, diretor da WAY Model, agência de São Paulo que atua há mais dez anos no mercado e tem em seu casting nomes como Alessandra Ambrósio e Carol Trentini, é preciso tomar cuidado com impostores.

"Primeiro de tudo é preciso se informar sobre a agência: com quem trabalham, quem representam e que tipo de trabalho fazem. Se for abordado(a) na rua, não dê o telefone. Pegue o cartão da pessoa. Depois disso, faça o mesmo: pesquise e ligue para saber se existe, de fato, um representante”, alerta Baumgartner, que atua há 20 anos no segmento.

O diretor também faz questão de ressaltar que, assim como a WAY, a maioria das agências profissionais não vende book. "Nosso trabalho é agenciar modelos e apresentá-los para o mercado de trabalho".

"Quando a modelo é aprovada em nosso casting, precisamos de material para vendê-la, mas isso é feito por fotógrafos variados. Nós não fazemos e nem vendemos books", enfatiza.

Dicas para quem quer ser modelo

Esqueça aquele ensaio bem produzido, com maquiagem e penteado impecável. Segundo Baumgartner, para uma primeira avaliação, quanto mais naturalidade melhor.

"Acontece, muitas vezes, de a candidata vir até a WAY trazendo um book que fez especialmente para isso - muitas vezes pago com esforço, pois acham que, para vir até nós, precisam de um book... Pelo contrário, preferimos ver a candidata com fotos naturais, sem produção alguma, feitas pela câmera do telefone mesmo. Quanto mais natural a modelo estiver, melhor”, explica.

Além disso, o velho argumento de que, para ser modelo, é preciso ser alta e magra vem sendo quebrado cada vez mais. Prova disso são os novos rostos e corpos em campanhas publicitárias, desfiles e ensaios de moda praia.

A modelo Ashley Graham, por exemplo, ficou conhecida como um dos nomes de maior sucesso do segmento plus size nos EUA. Apesar do reconhecimento, a modelo ainda lida, diariamente, com o preconceito. No entanto, em suas redes sociais, ela faz questão de ressaltar suas conquistas e inspirar outras meninas que desejam seguir no mundo da moda.

O seu peso, a sua pele, o seu cabelo, a sua religião, nada disso determina se você é uma modelo de verdade ou não. Para todas as garotas por aí com sonhos e esperanças, continuem lutando por ele e não deixem perdedores te desanimarem"

Ashley Graham em resposta a um comentário ofensivo no Instagram

Para o diretor da WAY Model, a diversidade ganhou, felizmente, o seu merecido espaço. "Há mercados que têm suas especificidades e demandam alguns padrões, como os desfiles de prêt-à-porter ou alta costura, por exemplo. Tudo depende do perfil da marca. Temos hoje em dia supermodelos baixas, curvilíneas e as plus size fazendo muito sucesso no mundo. Acredito que isso tende a aumentar cada vez mais. Viva a diversidade", finaliza.

* O nome da entrevistada foi alterado a pedido

Quer receber notícias de Entretenimento de graça por mensagem no seu Facebook? Clique AQUI e digite Entretenimento após acessar o Messenger. É muito simples!

Entretenimento

publicidade