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Temperatura do planeta tem ficado mais alta a cada ano, aponta relatório do Copernicus

15/04/2025 11h00

As consequências já começam a ser sentidas na Europa, onde o aquecimento tem sido duas vezes mais rápido que a média global nos últimos 40 anos. O programa Copernicus da União Europeia (UE), em colaboração com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), publicou um relatório nesta terça-feira (15), confirmando o agravamento do aquecimento global na Europa e as convulsões que tem provocado.

O documento afirma que o aquecimento no continente é o mais rápido do planeta; cerca de duas vezes mais rápido que a média global desde a década de 1980. O aquecimento do planeta provoca maior absorção de água da atmosfera e, como consequência, maior volume de chuvas, o que ocasiona inundações.

Em 2024, quase um terço da rede hidrográfica europeia registrou enchentes. O lado oeste da Europa é mais afetado por chuvas extremas, enquanto que o leste se tornou mais seco e quente.

No ano passado, o termômetro bateu recordes em 48% do continente. Os países do leste e sudeste são os que mais sofrem com as altas temperaturas. Por outro lado, durante o inverno, as geadas se tornam mais raras, já que as áreas afetadas são cada vez menores.

"O calor pode causar estresse no corpo, influenciado não apenas pela temperatura, mas também por outros fatores ambientais, como vento e umidade", diz Copernicus.

"As altas temperaturas noturnas também podem ser prejudiciais à saúde, pois oferecem pouco alívio do estresse térmico diurno". A afirmação foi feita pelos autores do estudo.

Em noites tropicais, a temperatura não fica abaixo de 20°C. E esta tendência tem se espalhado pelo território europeu. Na década de 1970, 20% da região experimentou pelo menos uma dessas noites quentes. Esse percentual subiu para 35 pontos na década atual.

O sul e o sudeste da Europa estão particularmente expostos, com um recorde de 13 dias consecutivos de onda de calor em julho e 23 noites tropicais em 2024.

2024 mais quente da história

O ano passado é considerado o ano mais quente da história do clima global e europeu, lembra o relatório. Os três anos mais quentes registrados desde que as indicações meteorológicas começaram a ser analisadas no século XIX ocorreram depois de 2020; e os dez mais quentes foram todos depois de 2007.

A superfície terrestre não é a única a ser afetada pelo calor exponencial. Nos últimos cinco anos, o Mar Mediterrâneo, por exemplo, aqueceu 1,2°C desde a década de 1980. Isso representa o dobro da média global dos oceanos, que é 0,6°C. Em 2024, a temperatura nos mares europeus era de 13,7°C, índice 0,69°C acima da média do período 1990-2020.

Inundações mais frequentes

De acordo com o documento elaborado pelo Copernicus, o continente europeu é uma das regiões onde o risco de inundações aumentará significativamente nas próximas décadas.

Atualmente, metade das cidades europeias possui planos de adaptação para lidar com esses eventos climáticos extremos.

Duas Europas

O ano de 2024 foi um dos dez mais chuvosos desde 1950 na Europa Ocidental, onde vários países tiveram de 30 a 40 dias a mais de chuva. Do outro lado do continente, vários territórios orientais tiveram até 50 dias a menos de chuva. "O ano foi caracterizado por chuvas mais frequentes e maiores que a média nas regiões ocidentais e chuvas menos frequentes e mais brandas nas regiões orientais", apontou o documento.

"Esse contraste do oeste com o leste é explicado pela circulação atmosférica que prevaleceu na Europa em 2024", explicou a doutora em ciências oceânicas e climáticas, Samantha Burgess.

"Tínhamos sistemas de alta pressão atmosférica sobre a Europa Oriental. Resultado? Menos nuvens e, consequentemente, menos precipitação. Somam-se a isso os ventos quentes e secos que sopram do norte da África em direção à Europa Central. Além disso, a Europa inclui uma grande parte do Ártico, a área que aquece muito mais rapidamente do que qualquer outra, empurrando a média para cima", disse.

No entanto, de acordo com a doutora em ciências oceânicas e climáticas, "os dados não mostram nenhuma tendência de longo prazo que indique que a Europa Ocidental esteja ficando mais nublada". Na verdade, segundo Samantha Burgess, é justamente o oposto: graças às políticas ambientais europeias, a qualidade do ar está melhorando, o que reduz os aerossóis que podem formar nuvens.

"A precipitação foi muito mais intensa devido a uma atmosfera mais quente e com mais umidade em 2024", explica Samantha Burgess. 

Inudações

E esta alteração climática com fortes chuvas teve consequências que puderam ser vistas na rede fluvial europeia. O fluxo dos rios Loire, na França, e Tâmisa, na Inglaterra, foi o mais forte dos últimos 33 anos. As inundações representam um dos riscos mais graves a médio prazo para a sociedade. Em 2024, 30% da rede ultrapassou o limite máximo de inundação e 12% o patamar crítico; um fenômeno que não era visto desde 2013.

No ano passado, 335 pessoas morreram nesse tipo de eventos climáticos, incluindo 232 durante o episódio extremo de "queda de frio" em três regiões da Espanha, entre 28 de outubro e 4 de novembro. Em Valência, a região mais atingida, os níveis de precipitação foram todos excedidos, com 771,8 mm em 24 horas. A marca foi a segunda maior da história.

"O caso de Valência não é isolado. Houve diversos eventos em 2024 ligados a esses fenômenos de precipitação intensa e localizada. Isso pode ter sido alimentado por altas pressões atmosféricas, que contêm mais água, e pelas altas temperaturas do Mediterrâneo e do Atlântico", explicou o diretor do serviço Copernicus sobre mudanças climáticas, Carlo Buontempo.

A conta é alta

De acordo com os números citados no relatório e retirados do Banco de Dados Internacional de Desastres, o valor de perdas causadas por desastres climáticos no ano passado é estimado em €18,2 bilhões (algo em torno de R$ 120,82 bi). Acredita-se que as enchentes sejam responsáveis ??por 85% deste valor.

A porcentagem de cidades europeias que implementam iniciativas de adaptação para lidar com ondas de calor e excesso de água no futuro já chega a 51%. Há sete anos, este índice era de 26%.

Cerca de 19.000 ações de adaptação foram registradas em 2022 nos setores de água (17%), construção (13,6%), meio ambiente (11,7%), terras (10,8%), agricultura (9,3%) e saúde (7,6%). Em 35% destes casos, as ações são medidas tecnológicas ou físicas, como a reciclagem de água, a construção de edifícios mais resilientes, o mapeamento de riscos e a criação de sistemas de alerta de desastres. Soluções baseadas na natureza (cidades mais verdes e reintegração da natureza) representam 26% das ações.

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