Topo
Notícias

Europa sofreu enchentes históricas em 2024, seu ano mais quente

15/04/2025 08h17

A Europa registrou recorde de calor em 2024, mas também suas piores enchentes em mais de uma década, destacando o contraste dos eventos extremos da mudança climáticas. 

Da cheia do Rio Danúbio, que arrastou tudo em seu caminho, às inundações devastadoras na região espanhola de Valência, que deixaram centenas de mortos, as chuvas colocaram a rede fluvial da Europa à prova. 

O ano de 2024 foi um dos 10 mais chuvosos no continente desde 1950, informou o observatório europeu Copernicus nesta terça-feira (15) em um relatório publicado em colaboração com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). 

Foram "as enchentes mais intensas" que a Europa já viu "desde 2013", disse em uma coletiva de imprensa Samantha Burgess, do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), encarregado do Copernicus. 

As enchentes afetaram 413.000 pessoas e causaram a morte de pelo menos 335. Os danos são avaliados em 18 bilhões de euros (cerca de 116 bilhões de reais). 

Os desastres ocorreram no ano mais quente já registrado no mundo. 

Segundo climatologistas, um planeta mais quente, que acumula mais água em sua atmosfera, sofre chuvas mais violentas e inundações, uma ameaça que pesa particularmente sobre a Europa. 

Em setembro, a tempestade Boris despejou em apenas cinco dias o nível de chuvas esperadas para três meses, causando grandes inundações e graves danos em oito países do centro e leste europeu. 

Um mês depois, fortes tempestades alimentadas pelo ar quente e úmido do Mediterrâneo despejaram chuvas torrenciais na Espanha, causando inundações devastadoras em Valência e matando 232 pessoas.

- "Pontos quentes" -

No início de 2024, todos os meses registraram enchentes significativas no continente, observa o relatório: janeiro no Reino Unido, fevereiro no norte da Espanha, março e maio no norte da França e junho na Alemanha e Suíça. 

O fluxo dos rios foi excepcionalmente alto. Alguns, como o Tâmisa, no Reino Unido, ou o Loire, na França, atingiram seu nível mais alto em 33 anos durante a primavera e o outono do hemisfério norte. 

As chuvas foram particularmente intensas no oeste da Europa, enquanto os países do leste, em média, apresentaram temperaturas mais secas e quentes. 

Esse "forte contraste" não está diretamente ligado à mudança climática, mas aos sistemas de pressão opostos que influenciam a cobertura de nuvens e o transporte de umidade, explicou Burgess. 

No entanto, as tempestades de 2024 foram "provavelmente mais violentas devido a uma atmosfera mais quente e úmida", explicou. "Com o aquecimento global, estamos testemunhando eventos extremos mais frequentes e intensos", acrescentou. 

Isso confirma as projeções dos especialistas climáticos do IPCC, segundo os quais a Europa é uma das regiões onde o risco de inundações mais aumentará devido ao aquecimento global. 

Desde a década de 1980, a Europa vem se aquecendo duas vezes mais rápido que a média mundial. 

É "o continente que mais está esquentando", tornando-se um dos "pontos quentes" da mudança climática, destaca Florence Rabier, diretora do ECMWF. 

Em 2024, o calor na superfície do continente atingiu níveis jamais vistos. 

Isso contribuiu para o aumento das temperaturas nos mares e oceanos, que também atingiram níveis recordes no ano passado, e para o derretimento das geleiras europeias a um ritmo sem precedentes. 

"É urgente agir, dado que a gravidade do risco pode atingir níveis críticos ou catastróficos até meados ou o final do século", disse Andrew Ferrone, coordenador científico da UE na ONU Clima. 

Apenas metade das cidades europeias têm planos de adaptação para enfrentar eventos climáticos extremos, como inundações e ondas de calor. 

"Isso representa um progresso encorajador em comparação aos 26% em 2018", observa o relatório. 

"Mas alguns países do sudeste da Europa e do Cáucaso do Sul estão ficando para trás. Por isso, precisamos avançar mais rápido, ir mais longe e juntos", destacou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

dep-np/bl/jz/zm/jc

© Agence France-Presse

Notícias

publicidade