Nunes ataca ministro de Lula e insinua que Alexandre Silveira protege Enel
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), voltou a atacar hoje o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e disse que o chefe da pasta protege a Enel, empresa responsável por distribuir energia elétrica na capital paulista. As declarações foram dadas em entrevista ao UOL conduzida pelos jornalistas Adriana Ferraz, Diego Sarza e Raquel Landim.
Críticas à Enel e a Silveira
O prefeito afirmou que Silveira está "agindo contra o interesse público" e que há uma relação próxima do ministro com o presidente do conselho de administração da Enel, Eduardo Martins. "É muita coincidência", completou. O UOL entrou em contato com o Ministério de Minas e Energia e com a Enel e aguarda um retorno.
Nunes critica o pedido de renovação de contrato feito pela Enel no mês passado à Aneel. O movimento da concessionária e de outras empresas de energia ocorreu após a Agência Nacional de Energia Elétrica aprovar novas regras que permitir a renovação da concessão por mais 30 anos. Os contratos das concessionárias têm encerramento previsto entre 2025 e 2031. No início do mês, o prefeito de São Paulo já havia chamado as mudanças de "malandragem" do governo Lula.
É de se estranhar que o contrato da Enel vai vencer em 2028. Por que estão querendo antecipar? Não deveria renovar nem em 2028, deveria estar se preparando para substituir ou decretar caducidade, que é o ideal.
E o governo federal vai em uma linha totalmente contrária. Vou dizer nome e sobrenome: Alexandre Silveira, agindo contra o interesse público. As relações dele são muito próximas com a Enel, inclusive um amigo é muito próximo e presidente do Conselho de Administração da Enel. Isso é público. É uma coincidência.
Erro no Smart Sampa
Nunes disse que "praticamente não tem" erro no programa de reconhecimento facial. Reportagem do UOL mostrou que as câmeras do Smart Sampa confundiram um aposentado de 80 anos com um estuprador foragido. O idoso ficou cerca de 10 horas na delegacia até ser liberado e não houve registro no sistema.
Em um universo de mil pessoas [presas corretamente], você ter um caso. [...] Na rotina da Polícia Municipal, da Polícia Civil e da Polícia Militar, quando você faz a abordagem das pessoas e não é possível fazer a identificação. Não está com RG na hora. É um procedimento normal levar a pessoa à delegacia para identificar por meio do exame.
A gente tem feito ações constantes para melhorar. Nós estamos há seis meses com o Smart Sampa. Em seis meses, mil foragidos presos. E a gente vai continuar trabalhando para poder evitar que tenha falhas.
A gente trabalha com 92% de similaridade entre o banco de dados e a identificação da câmera. Por que a câmera identifica e faz o reconhecimento facial? Porque a gente tem o banco de dados de foragidos que está lá a foto dele. Então, quando aquela foto similar, em 92% passa em uma câmera, dá o alerta e faz a abordagem.
Câmeras corporais
O prefeito disse que há limitação de recurso e depois afirmou que não é "apaixonado" pelo tema das câmeras corporais. O emedebista defendeu novamente o programa de monitoramento municipal e que colocou o instrumento nos uniformes dos agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que cuidam do trânsito.
Não diria que sou um apaixonado pelo tema. Mas vou seguir o que o Tarcísio [de Freitas] aprendeu, vou colocar no momento adequado [as câmeras corporais na GCM]. O meu foco mais do que monitorar meu policial é ir atrás do bandido, estou determinado em colocar bandido na cadeia.
Tenho hoje 20 mil câmeras na cidade, com mais 5 mil que eu agreguei do privado, 25 mil. Vou ter agora nas minhas motos e nos meus carros, que estou monitorando. Se eu tiver uma ação indevida de um policial municipal, eu vou ter as câmeras identificando ele, não vou punir só o criminoso.
Polícia Municipal
Nunes voltou a defender a mudança do nome da GCM para Polícia Municipal e disse que "não tem o menor sentido" não apoiar a alteração. Segundo ele, a troca daria mais respeito ao trabalho dos guardas civis metropolitanos. A mudança foi aprovada pelos vereadores, mas o STF barrou —ontem, o ministro Flávio Dino manteve o veto as alterações.
É questão de coerência [aprovar a mudança do nome]. Me mostra onde está na Constituição a Polícia Judiciária, a Polícia Legislativa.[...] Quando você chega numa área de conflito, de crime, uma coisa é falar chegou o guarda, outra é chegou a polícia.
Ninguém está querendo algo que não seja: 'olha, vamos chamar de polícia algo que não exerce atividade policial'. Ela exerce atividade policial.
Fiscalização da GCM
Um dia após dizer que o patrulhamento da atividade policial não é sempre benéfico, Nunes defendeu a fiscalização da GCM. "Colocar instituições externas para ficar controlando a corregedoria? Não vai ter corregedoria que vai dar sossego para policial. Se ele cometer abuso, tem que ser demitido e responder, mas tem que ter razoabilidade", disse o prefeito ontem na Câmara dos Vereadores.
Tenho corregedoria na minha Polícia Municipal. Normalmente, eu tenho, por ano, 60 casos que são acatados de denúncias. É a média. E, por ano, na média, 20 policiais municipais são afastados. Então a gente valoriza e é necessário. Se você não tem corregedoria, você perde a mão.
[O policial] tem que ser fiscalizado. [...] Tem que ter, se não temos as laranjas podres no meio e acaba contaminando. Você tem que valorizar as Forças Armadas com pessoas boas, preparadas, com vocação e sem transgredir naquilo que lhe é de competência. Agora, você colocar instituições externas para ficarem controlando a corregedoria, você não vai ter corregedoria que vai dar sossego para o policial.
Futuro em 2026
Nunes disse que "não tem pretensão" para se candidatar ao governo de São Paulo em 2026, caso Tarcísio de Freitas (Republicanos) siga para uma campanha presidencial. O emedebista afirmou que pensou, ao final das eleições em 2024, que nunca mais passaria por outra campanha eleitoral. "As coisas vão mudando", repetiu o prefeito.
O Tarcísio vai ser candidato à reeleição e eu vou ser o maior cabo eleitoral dele, vou trabalhar muito, porque é interesse da cidade de São Paulo continuar essa parceria com o governador Tarcísio aqui no estado.