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Organização Mundial do Comércio é vítima colateral da guerra econômica de Donald Trump

14/04/2025 09h51

Em seu aniversário de 30 anos de existência, a Organização Mundial do Comércio (OMC) recebe do presidente americano Donald Trump, um verdadeiro presente de grego em forma de guerra comercial. A instituição assiste impotente o líder americano destruir as regras que ela ajudou a estabelecer para regulamentar o comércio mundial.

Jérémie Lanche, correspondente da RFI em Genebra

"Ninguém se importa com a OMC. Ministros vão a Washington, Bruxelas ou Pequim para tentar negociar algo, mas, aqui em Genebra, não acho que haja muitas pessoas com importância política nos corredores da OMC", diz o professor de Relações Internacionais do Instituto de Pós-Graduação de Genebra, Cédric Dupont, que tem seu escritório a 500 metros da sede da organização.

"O que os Estados Unidos estão fazendo é ilegal em si. Se têm um problema com outros países, eles devem discutir isso na OMC. Eles não estão fazendo isso e vão além, ignorando completamente as tarifas vigentes. Para eles, a OMC não existe", diz o especialista.

A organização, fundada em janeiro de 1995, mas cuja certidão de nascimento data dos Acordos de Marrakech, de abril de 1994, deveria estar no centro do impasse sobre os impostos de importação americanos.

Mas em vez disso, a instituição, que tem a função de fiscalizar o comércio internacional, se tornou um espectador impotente, reduzido a contar os danos causados ??pela guerra econômica de Trump.  Se o presidente americano não se desviar de seu plano inicial, seu "tarifaço" pode causar uma queda de 1% do comércio de bens em 2025.

A cifra representa centenas de bilhões de dólares a menos para a economia global. "Trump está voltando ao estilo de negociação do século 19. Ele ameaça você com um canhão na sua cabeça e depois diz que podemos conversar", resume Dupont.

A maior conquista da OMC é a imposição da chamada cláusula da Nação mais favorecida (NMF). Segundo ela, as vantagens comerciais estabelecidas por um país devem ser concedidas a todos seus parceiros comerciais - exceto em circunstâncias excepcionais, como zonas regionais de livre comércio. Com seus impostos alfandegários personalizados, Donald Trump atacou esse princípio fundamental da globalização.

Retirada dos EUA da OMC

Cédric Dupont salienta que os Estados Unidos representam 15% do comércio mundial, o que significa que 85% das trocas comerciais globais não passam pelo país. "O resto do mundo poderia dizer: OK, temos um problema com os Estados Unidos, resolveremos isso fora da OMC, mas manteremos a organização para preservar e estabilizar os 85% restantes", diz.

Mas Washington também está impedindo a renovação de juízes no órgão de apelação da OMC, que é responsável por resolver, em última instância, disputas entre Estados. Desde 2019 e seu primeiro mandato, Trump bloqueia o procedimento, convencido de que a OMC favorece demais seu rival chinês, uma política mantida por Joe Biden.

Como resultado, processos se acumulam na OMC, sem que o órgão consiga resolver as disputas.

Mas a situação não impediu que o Canadá e a China apresentassem uma queixa contra Washington por suas tarifas.

Donald Trump congelou a contribuição financeira dos EUA para a OMC. Isso representa 11,4% do modesto orçamento da organização. O risco de sanção é mínimo, mas o medo agora é de uma retirada pura e simples da principal economia do mundo. "Isso deixaria marcas. Outros países que comercializam muito com os Estados Unidos, na América Latina e Central, por exemplo, poderiam se perguntar qual o sentido de permanecer na OMC", sugere Cédric Dupont.

A hipótese, que parecia absurda há apenas algumas semanas, agora é considerada verossímil por diplomatas. Neste caso, o que aconteceria com a instituição? "No momento, não custa quase nada aos Estados Unidos permanecer na OMC", explica Cédric Dupont. "Eles podem roubar informações e descobrir o que outros países estão fazendo. É uma maneira barata de controlar o que está acontecendo", acredita o especialista.

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