'Me sinto preparado': Mello Araújo assumirá Prefeitura de SP pela 1ª vez

Após mais de cem dias de gestão, o vice-prefeito de São Paulo, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), vai assumir interinamente a cadeira de prefeito pela primeira vez no próximo dia 20.
O que aconteceu
Mello Araújo assumirá a prefeitura enquanto Ricardo Nunes (MDB) viaja à Ásia em busca de investimentos para a compra de ônibus elétricos. É a primeira vez que o ex-comandante da Rota ocupará um cargo no Executivo —antes disso, além da trajetória na Polícia Militar, ele comandou a Ceagesp durante o governo Bolsonaro (PL).
"O prefeito vai ficar dez dias fora, e eu já sou o prefeito. Não tenho dificuldade nenhuma", afirmou o vice-prefeito. A declaração foi dada em entrevista ao UOL, após ele ser questionado se se considera preparado para assumir a prefeitura de forma definitiva em 2026, caso Nunes dispute o governo do estado.
Nunes tem cogitado concorrer ao governo paulista, se Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrar na corrida presidencial. Pessoas próximas afirmam que o governador abriria mão da reeleição se o pedido viesse diretamente de Bolsonaro, que está inelegível até 2030 por decisão do TSE. "Bolsonaro vai ser o candidato a presidente. Isso não impede que o prefeito queira ser candidato a alguma coisa, não impede o governador de querer ser candidato", disse Mello Araújo.
Mello Araújo evitou se aprofundar sobre uma possível saída de Nunes da prefeitura para tentar o Palácio dos Bandeirantes. Disse que a tendência é ele cumprir o mandato até o fim, mas admitiu que sempre existe a possibilidade de uma candidatura.
É normal durante a gestão, o prefeito sempre se afasta e o vice assume. Essa que é a função. Então, me sinto preparado, não tenho problema nenhum. Já cheguei a ouvir: "ah, o coronel é radical". Radical no quê? Em ser honesto, em carregar valores. Se isso aí é ser radical, então, eu sou radical.
Ricardo Mello Araújo, vice-prefeito de SP
'Quer emprego?'
Sem se identificar de imediato, o vice-prefeito tem abordado usuários de drogas oferecendo moradia e oportunidades de trabalho. Ele afirma priorizar ações na "cracolândia" e em áreas com concentração de dependentes químicos, por considerar isso uma missão pessoal.
"Deus me trouxe para essa parte, foi acontecendo", disse ele, destacando a importância de ir a campo para enfrentar o problema. Segundo Mello Araújo, não é possível entender a realidade apenas de dentro do gabinete.
Na última quarta-feira, ele esteve na rua São Leopoldo, na zona leste, para tentar convencer usuários a saírem dali. Cada uma de suas ações é registrada em vídeo, e as agendas são divulgadas nas redes sociais logo em seguida. O motivo da divulgação, segundo ele, é educativo: quer que os pais mostrem às crianças a realidade da cracolândia. "Hoje temos essa ferramenta do vídeo, você pode mostrar para o seu filho que, se entrar nisso, será difícil sair", afirmou.
Durante a visita, foi abordado por um homem que criticou as condições de um abrigo municipal. Ele contou que não era usuário de droga, mas que dependia dos espaços da prefeitura para dormir, já que fazia bicos. Mello Araújo pediu para sua equipe anotar o nome do abrigo, prometeu fazer uma visita surpresa ao local e perguntou se o homem queria um emprego. "Não, eu ganho mais fazendo meus bicos", respondeu o rapaz.
Outro homem, de 34 anos, chegou a perguntar sobre internação e vagas em abrigos, mas optou por permanecer onde estava. A reportagem apurou que pelo menos cinco pessoas decidiram tentar abrigo ou emprego após a abordagem do vice-prefeito.
Sem orçamento próprio, ele depende da articulação com secretarias e subprefeituras para implementar suas ações. As vagas de emprego oferecidas, por exemplo, são do Cate e têm requisitos a serem cumpridos. O salário muda conforme a habilidade requisitada em cada oportunidade. Na quinta-feira, um homem que havia sido abordado por Mello Araújo na semana anterior conseguiu um emprego de R$ 2.300.
A forma como eu trato eles é como se eu tratasse meu filho. Não quero meu filho com 50 anos de idade morando em casa e eu pagando tudo para ele. Quero que ele tenha independência, que arrume um emprego, que ele possa ter o próprio apartamento, possa ter independência. Isso que eu quero para o meu filho, eu quero para esse povo aqui. Não quero que eles dependam da prefeitura. A gente tem que ajudar um pouco, dar um empurrãozinho, mas não quero que sobrevivam às nossas custas.
Mello Araújo