Bancos brasileiros devem mostrar tendência mista no 1º tri, com mudança contábil sob holofote, vê Safra
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A análise dos balanços de bancos brasileiros no primeiro trimestre será ofuscada pelas implicações de mudanças nos padrões contábeis, afirmaram analistas do Safra em relatório a clientes nesta segunda-feira, com a prévia dos resultados de Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander Brasil.
Eles também avaliam que esses bancos devem manter a mesma aversão ao risco e tom cauteloso, tendo em vista o cenário macroeconômico e de taxa Selic elevada.
Entre os incumbentes, Daniel Vaz e equipe mantiveram Itaú Unibanco como "top pick". Eles avaliam que o "momentum" positivo para o lucro deve continuar, somando R$10,95 bilhões nos primeiros três meses de 2025, apesar de um declínio marginal esperado na carteira de crédito devido à sazonalidade negativa do cartão de crédito e flutuação cambial.
A margem financeira (NII) também deve registrar uma queda modesta na base sequencial, afetada por menos dias úteis no trimestre e menor contribuição da margem com mercado. "Nós estimamos provisões de R$8,8 bilhões, devido a uma leve alta na inadimplência de 15 a 90 dias, mas nenhuma mudança relevante no custo de risco", afirmaram.
Eles também citaram que não veem preocupações relacionadas às mudanças contábeis trazidas pela Resolução nº 4966 do Banco Central. O Itaú divulga seu balanço no dia 8 de maio.
Para o Bradesco, que publica balanço um dia antes, em 7 de maio, os analistas esperam que o "pass-through" de spreads e a eficiência de funding sejam um bom presságio para o desempenho da margem financeira de clientes e compensem o impacto do aumento das taxas de juros na margem com mercado, em linha com o feedback que tiveram em reunião recente com executivos do banco.
"Como o apetite ao risco está se inclinando para a otimização dos retornos ajustados ao risco, prevemos que o crescimento do crédito será impulsionado principalmente por linhas garantidas, com o índice de inadimplência e os níveis de custo de risco permanecendo relativamente estáveis em relação ao trimestre anterior", acrescentaram.
Vaz e equipe também avaliam que o desempenho sólido da divisão de seguro deve ajudar ainda mais o lucro no trimestre, projetado em R$5,42 bilhões.
O Banco do Brasil, na visão dos analistas do Safra, deve mostrar margens de crédito pressionadas por custos de financiamento mais altos e volumes menores. "Ainda assim, prevemos um poder de lucro mais forte relacionado à margem não creditícia (resultados de tesouraria)", acrescentaram, calculando um lucro líquido de R$9,253 bilhões para o trimestre.
Em relação à inadimplência, eles estimam pressão sequencial de tendências mais fracas de qualidade de ativos no segmento de agronegócio. As provisões líquidas totais devem ficar em torno de R$10,14 bilhões. Também veem NII e receitas estáveis. O BB divulga suas demonstrações financeiras do primeiro trimestre em 13 de maio.
No caso do Santander Brasil, que abre a temporada dos bancos em 30 de abril, os analistas preveem lucro líquido de R$3,70 bilhões, em resultado afetado negativamente pela sazonalidade e taxas de juros mais altas. "Esperamos que o NII com clientes permaneça estável em relação ao trimestre anterior, com margens de depósito mais altas sendo compensadas pelo menor crescimento da carteira de crédito e um NII de mercado negativo."
Os analistas preveem um custo de risco estável na base trimestral, avaliando que a qualidade dos ativos permanece sob controle, mas ponderaram que um ligeiro aumento no segundo semestre do ano parece possível devido às atuais condições macroeconômicas. "No geral, o trimestre deve refletir a postura cautelosa do banco para 2025, mas o ROE deve permanecer no nível de 16%-17%."