Irã retoma negociação com os EUA sobre programa nuclear e defende 'acordo digno'
Os Estados Unidos e o Irã retomam as discussões neste sábado (12) em Omã sobre o programa nuclear iraniano. As negociações foram interrompidas em 2018, após a retirada dos EUA do acordo entre Teerã e as grandes potências. Os dois países serão representados pelo emissário americano para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e pelo ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi.
A reunião começou no início da tarde deste sábado, com a mediação do ministro das Relações Exteriores de Omã, Badral Busaidi. Antes do encontro, Araghchi afirmou na televisão estatal que o Irã busca um acordo "justo, em pé de igualdade". Segundo ele, há "chances" de se chegar a um compromisso se os EUA adotarem a mesma posição.
De acordo com uma fonte de Omã, as negociações visam reduzir a tensão na região, obter a liberação de prisioneiros e chegar a "acordos limitados" sobre sanções americanas contra o Irã em troca de um "controle" de seu programa nuclear.
Enfraquecido pelos ataques de Israel a seus aliados regionais - o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza - Teerã busca obter um alívio das medidas, que sufocam sua economia. O presidente americano, Donald Trump, ameaça organizar uma operação militar contra o país caso um acordo não seja alcançado.
Na véspera, em declarações a jornalistas a bordo do avião presidencial Air Force One, o líder republicano afirmou que deseja que "o Irã seja um país maravilhoso, incrível, feliz". "Mas eles não podem ter a arma nuclear", acrescentou.
De Teerã, Ali Shamjani, conselheiro do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, declarou horas antes do encontro que a República Islâmica quer um acordo "real e justo" com os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano. "As propostas importantes e aplicáveis estão prontas", declarou Shamjani, que criticou a postura teatral e as frases de efeito de Trump diante das câmeras sobre o assunto.
Já Steve Witkoff afirmou em entrevista ao jornal The Wall Street Journal que a posição americana "começa pelo desmantelamento" do programa nuclear iraniano. "Isso não quer dizer, é claro, que não tentaremos encontrar também outras formas de chegar a um compromisso entre os dois países", acrescentou.
Indefinição do formato das conversas
Até o momento, não há detalhes sobre o conteúdo e o formato das conversas entre os representantes dos dois países em Omã, já que o Irã rejeita um diálogo direto e os Estados Unidos insistem nesse ponto. Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump quer que as negociações ocorram frente a frente, na mesma sala, porque "o presidente acredita na diplomacia".
Mas segundo a agência estatal de notícias iraniana Tasnim, as delegações iniciarão negociações "indiretas" nesta tarde, com a mediação do chefe da diplomacia omanita, Badral Busaidi.
Desta forma, Teerã está "dando uma verdadeira chance à diplomacia, de boa fé e com total vigilância", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baqai, na sexta-feira. "Os Estados Unidos deveriam valorizar essa decisão, que foi tomada apesar de sua retórica hostil", acrescentou.
As negociações ocorrem após semanas de farpas trocadas entre os dois países, que não mantêm relações diplomáticas há 45 anos. Diante da ameaça militar de Trump, o regime iraniano alertou, na quinta-feira (10), que o comportamento do presidente americano pode resultar em medidas dissuasivas, como a expulsão dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que supervisiona o programa nuclear.
O Departamento de Estado americano respondeu alertando que expulsar os inspetores da agência da ONU "seria uma escalada" e "um erro de cálculo".
Enriquecimento de urânio
Após a saída de Washington do acordo de 2015 e o restabelecimento das sanções contra o Irã, o país deixou de aplicar os compromissos estabelecidos pelo texto. Teerã aumentou o nível de enriquecimento de urânio para 60%, muito acima do limite de 3,67%, aproximando-se do nível de 90%, necessário para a fabricação de uma bomba atômica.
Segundo Karim Bitar, professor de Relações Internacionais na Sciences Po de Paris, as negociações deste sábado não devem se concentrar exclusivamente no programa nuclear iraniano. "O acordo deverá incluir a suspensão do apoio do Irã aos seus aliados regionais", prevê.
Os conflitos na Faixa de Gaza e no Líbano intensificaram as tensões entre o Irã e Israel, que recentemente realizaram ataques militares recíprocos pela primeira vez. Para Bitar, "a única e exclusiva prioridade do Irã é a sobrevivência do regime e, idealmente, a obtenção de um pouco de oxigênio, um alívio das sanções, para relançar sua economia, já que o regime se tornou bastante impopular".
(Com informações da AFP)