Primo de brasileiro-palestino morto em prisão israelense está em 'masmorra'
Salah Al-Din Yasser Hamad, primo do brasileiro-palestino morto em uma prisão israelense no fim de março, "está desnutrido e sob maus-tratos em uma masmorra", segundo a Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil).
O que aconteceu
Jovem de 17 anos, que também é brasileiro-palestino, está preso há quase cinco meses. De acordo com a federação, a unidade prisional fica em um campo de concentração militar na Cisjordânia, território mantido por Israel sob ocupação militar.
Salah chorou ao receber a notícia da morte do primo, diz Fepal. Ele teria sido informado do óbito de Walid Khaled Abdallah por um jovem enviado para a mesma cela onde ele está preso. Solto dias depois, um outro rapaz que estava no mesmo local relatou sobre o episódio à família de Salah, ainda de acordo com a entidade árabe palestina.
Advogado conseguiu autorização para que a família visite o jovem na prisão. O encontro com os parentes deve ocorrer hoje, diz a Fepal.
Pais de Salah quase não o reconheceram na prisão. O primeiro encontro com a família um mês após a prisão, em dezembro de 2023. "Eu o achei muito diferente. Estava com a cabeça raspada e muito mais magro", disse Nadia Yasser Hamada, mãe de Salah, em vídeo ao site da Fepal. O segundo encontro ocorreu no fim de fevereiro, com Yasser Salah Hamad, pai do jovem.
Eu não o reconheci. Foi Salah quem veio ao meu encontro, porque eu não conseguia identificá-lo. Ele nunca teve barba, pois é muito novo, mas estava com uma barba enorme e muito magro, desnutrido.
Yasser Salah Hamad, pai do brasileiro-palestino preso
Governo brasileiro tem conhecimento do caso. O UOL apurou que a situação de Salah e de outros brasileiros na região está sendo monitorado. Procurado, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) diz que não comenta eventuais solicitações de assistência consular.
Palestino-brasileiro morreu de fome em prisão
Walid desmaiou no pátio de uma prisão na cidade de Megiddo, no norte de Israel, em 22 de março. Outros adolescentes detidos na mesma prisão pediram ajuda aos guardas, mas foram ignorados. Eles mesmos carregaram o brasileiro-palestino, levaram o garoto até o portão do pátio, e os agentes o retiraram do local, segundo a ONG internacional Defesa das Crianças Palestinas (DCIP, na sigla em inglês).
Depois, o brasileiro-palestino foi levado para a clínica da prisão. A equipe médica tentou ressuscitá-lo com um desfibrilador e adrenalina, mas sem sucesso.
Autópsia indica que ele passou fome, sofreu desidratação por diarreia e complicações infecciosas. As condições foram agravadas por desnutrição prolongada e privação de atendimento médico, de acordo com a DCIP.
Exame revelou que adolescente sofria de extrema perda de massa muscular e gordura corporal. Os detalhes são de um médico da família dele que compareceu ao exame. O brasileiro-palestino também tinha sarna nas duas pernas e na virilha. O estado do tórax e do abdômen indicavam que ele sofreu um trauma contundente. O intestino grosso tinha edemas, associados a uma lesão que ele pode ter sofrido.
O adolescente sofreu por meses, diz ONG. "A autópsia de Walid indica que os guardas da prisão o deixaram passar fome e abusaram dele sistematicamente por meses até que ele finalmente desmaiou, bateu a cabeça e morreu", afirmou Ayed Abu Eqtaish, um dos diretores do DCIP.