Trump "pausa" tarifas por 90 dias, mas intensifica guerra comercial com a China
O presidente americano, Donald Trump, deu uma guinada em sua guerra comercial nesta quarta-feira (9), ao anunciar uma "pausa" de 90 dias nas tarifas aplicadas para dezenas de países, com exceção da China, sobre a qual imporá taxas de 125% em resposta à retaliação de Pequim.
"É preciso ser flexível", justificou o republicano a jornalistas na Casa Branca. Ele reconheceu que seu anúncio de uma ofensiva tarifária generalizada na semana passada "assustou um pouco" os investidores e os deixou "febris".
Trump admitiu estar acompanhando de perto o mercado de títulos do Tesouro dos EUA, considerado um valor-refúgio, que vem sofrendo nos últimos dias.
Em sua plataforma Truth Social, o presidente acusou a China do que considera uma "falta de respeito" e puniu o país com tarifas alfandegárias de 125%, "com efeito imediato".
Mais tarde, Trump disse que "não imagina" ter que aumentar novamente as tarifas. "Não acho que seja necessário. Calculamos com muita precisão", acrescentou.
Horas depois de zombar de seus parceiros comerciais, dizendo que estavam "lhe beijando o traseiro" para negociar acordos "sob medida", Trump recuou parcialmente.
Como mais de 75 países solicitaram negociações, ele autorizou "uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida durante esse período, de 10%, também com efeito imediato". Ele os premiou por, segundo ele, não terem retaliado.
Isso significa que mantém o imposto universal de 10% que entrou em vigor no sábado, no qual já estavam incluídos a maioria dos países latino-americanos, e do qual ficam excluídos Belarus, Cuba, Coreia do Norte e Rússia.
Canadá e México também estão sujeitos a um regime especial que implica tarifas de 25% (10% para os hidrocarbonetos canadenses), exceto para os produtos contemplados no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC).
No entanto, ninguém escapa dos tributos anteriormente impostos sobre o alumínio, o aço e os automóveis.
Após a decisão de Trump, a bolsa de Wall Street disparou (Dow Jones +7,9%, S&P 500 +9,5% e Nasdaq +12,2%). O preço do petróleo, deprimido pelo risco de recessão, começou a subir.
- Uma "estratégia" -
Horas antes da reviravolta, o presidente havia aconselhado aproveitar a queda das bolsas para "comprar" ações.
As pesquisas mostram uma crescente desconfiança dos norte-americanos em relação ao seu presidente imprevisível, mas seus apoiadores tentaram defendê-lo.
"Essa foi a estratégia dele desde o início", afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, sobre o presidente, que aposta nas tarifas para reduzir o déficit comercial, equilibrar as contas públicas e relocalizar diversas atividades industriais.
Um de seus assessores mais próximos, Stephen Miller, elogiou a "estratégia magistral" e a "ousadia" de Donald Trump, que, segundo ele, tiveram como efeito "isolar" Pequim.
O republicano gerou pânico no mundo inteiro ao anunciar, há uma semana, tarifas alfandegárias adicionais sobre produtos de 60 parceiros comerciais. A China foi a mais atingida, com um aumento de 104%, que acabou ficando em 124%.
Essas tarifas permaneceram em vigor por apenas cerca de doze horas antes de serem suspensas ? com exceção de Pequim.
A China respondeu anunciando que aumentará suas tarifas alfandegárias sobre produtos dos Estados Unidos para 84%, em vez dos 34% inicialmente previstos, a partir de quinta-feira às 04h01 GMT (01h01 em Brasília).
A União Europeia adotou nesta quarta-feira suas primeiras contramedidas contra mais de 20 bilhões de euros (R$ 133,7 bilhões) em bens "fabricados nos Estados Unidos".
A lista inclui produtos agrícolas como soja, aves e arroz. Também prevê sobretaxas de até 25% sobre madeira, motocicletas, produtos de plástico e equipamentos elétricos.
- Riscos para o comércio -
Mas Bruxelas disse estar disposta a suspender as medidas "a qualquer momento" se alcançar um acordo "justo e equilibrado" com Washington.
Resta saber como Pequim reagirá ao ataque de Donald Trump, que assegurou que a China "quer" um acordo, mas não "sabe muito bem como fazê-lo".
A guerra comercial mundial gera temores de aumento da inflação, queda no consumo e no crescimento.
Ela poderia reduzir o comércio de bens entre as duas maiores economias do mundo "em até 80%" e eliminar "quase 7%" do PIB global a longo prazo, alertou nesta quarta-feira a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala.
Além disso, não está descartada uma escalada diplomática entre China e Estados Unidos, cuja relação já é tensa.
Pequim instou nesta quarta-feira seus cidadãos a tomarem precauções extremas caso viajem aos Estados Unidos.
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