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'Transe narcótico': bárbaros no Império Romano lutavam sob efeito de drogas

Ilustração divulgada junto ao estudo mostra um guerreiro germânico fazendo uso de estimulantes - Divulgação/Stanislav Kontny via Praehistorische Zeitschrift
Ilustração divulgada junto ao estudo mostra um guerreiro germânico fazendo uso de estimulantes Imagem: Divulgação/Stanislav Kontny via Praehistorische Zeitschrift
do UOL

Colaboração para o UOL

09/04/2025 05h30

Um estudo feito por especialistas poloneses chegou à conclusão de que parte dos povos que atacaram Roma fazia uso de substâncias como ópio, fungos e cannabis. Colheres encontradas nos cintos dos guerreiros podem ter sido usadas como depósitos de estimulantes consumidos em meio às batalhas.

Como foi feito o estudo?

Os pesquisadores divulgaram a análise de 241 objetos do Império Romano. O estudo "Em transe narcótico, ou estimulantes nas comunidades germânicas do período romano", liderado por pesquisadores nas áreas de biologia, história e arqueologia, foi publicado em novembro de 2024 na revista científica Praehistorische Zeitschrift.

Pequenas colheres foram encontradas com equipamentos de guerra da época. Uma delas, feita de prata, tinha 67 milímetros de comprimento e foi encontrada em uma sepultura do período romano; outra era feita de chifre e foi descoberta "em um local de sacrifício de guerra", segundo a pesquisa. Outros utensílios do tipo foram encontrados em túmulos cujas características correspondem aos padrões do Império Romano.

Uma das colheres, de apenas 37 milímetros de comprimento e com uma "tigela" de 15 milímetros de diâmetro, foi encontrada em uma sepultura do século 4º. "Provavelmente [a colher] era usada em volta do pescoço ou presa à cintura, como evidenciado por um orifício na parte superior do cabo, através do qual uma corda ou tira poderia ter sido transpassada", diz o estudo.

Exemplos de colheres analisadas pelos pesquisadores. À direita, detalhes de um talher cujo cabo era mais comprido que os demais - Divulgação/Praehistorische Zeitschrift - Divulgação/Praehistorische Zeitschrift
Exemplos de colheres analisadas pelos pesquisadores. À direita, detalhes de um talher cujo cabo era mais comprido que os demais
Imagem: Divulgação/Praehistorische Zeitschrift

Segundo a pesquisa, os cintos utilizados pelos guerreiros que lutavam para derrubar o Império Romano tinham encaixes específicos em suas extremidades. A forma e o tamanho das colheres encontradas correspondem ao encaixe identificado nestes cintos e, para os especialistas, essas colheres eram usadas para o manuseio de substâncias psicoativas por parte dos guerreiros que formavam as tropas.

Os objetos indicados poderiam ter sido usados de forma excelente para dosar estimulantes.
Trecho do estudo publicado na Praehistorische Zeitschrift

As substâncias utilizadas

Para os especialistas, os povos germânicos (que habitavam o norte da Europa) não consumiam apenas bebidas alcoólicas em busca de estímulos extras. Segundo a pesquisa, diferentes substâncias eram usadas na "mobilização de soldados em combate", no "alívio do estresse" ou "simplesmente na compensação do medo".

Os especialistas listaram as matérias-primas vegetais que podem ter sido usadas pelos germânicos. "Em tempos pré-históricos, a flora europeia oferecia uma grande variedade de espécies de plantas e fungos com propriedades psicoativas", dizem na pesquisa. A papoula do ópio (Papaver somniferum L.), usada também pelos antigos egípcios por seus efeitos medicinais e narcóticos, era provavelmente o psicoativo mais usado pelos povos em guerra.

Por volta de 1000 a.C., o cultivo de papoulas para fins medicinais e alimentares era difundido por toda a Europa e Ásia. Representações antigas da papoula em obras de arte incluem representações dela com símbolos de poder espiritual e religioso e ritual, e escritos de várias culturas antigas indicam que os benefícios, bem como os perigos do uso da papoula, eram bem conhecidos. Trecho do estudo

Plantas e fungos também faziam parte das substâncias utilizadas. São exemplos: a cannabis (Cannabis sp.), a ephedra (Ephedra sp.), a beladona mortal (Atropa belladonna L.), o meimendro (Hyoscyamus niger L.), a mandrágora (Mandragora officinarum L.); e fungos alucinógenos, como o capim-da-liberdade (Psilocybe semilanceata) e o agárico-mosca (Amanita mus-caria). "O material vegetal ou do cogumelo seco permitiu fazer vários preparados que conservavam a sua atividade biológica e podiam ser utilizados como estimulantes ou narcóticos", explica a pesquisa.

Essas substâncias eram consumidas de diferentes formas, segundo os especialistas. Uma das possibilidades era fazer uso do psicoativo de forma líquida, após dissolver a substância em álcool. Os guerreiros bárbaros, no entanto, também teriam o conhecimento necessário para manusear diferentes preparações, transformando o material em pó para ingestão pelo sistema respiratório.

As pequenas colheres analisadas eram usadas justamente neste consumo. O talher era usado para levar a substância ao nariz ou à boca —a depender do material e da forma de consumo. Para os especialistas, os bárbaros sabiam a quantidade necessária de estimulante que precisariam usar, e a colher também tinha a função de dosar a quantidade da substância.

O Império Romano no Ocidente caiu em 476, após anos de ataques. Francos, vândalos, visigodos, ostrogodos, anglos, saxões, jutos, hérulos, burgúndios e lombardos são exemplos de povos que habitavam a região. Tais povos, conhecidos como bárbaros, representavam um potencial numérico muito grande e uma ameaça efetiva ao Império. Após a queda do Império Romano, as áreas dominadas pelos povos germânicos deram origem a uma série de reinos fragmentados.

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