EUA quer 'reviver' bases militares no Canal; Panamá descarta
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, sugeriu nesta quarta-feira (9) que as tropas do seu país retornem ao Panamá, para proteger o Canal interoceânico do que chamou de "influência maligna" da China, uma ideia descartada pelo governo panamenho.
Hegseth, que concluiu uma visita de dois dias ao Panamá, disse que os exercícios conjuntos de defesa que os dois países realizam regularmente representam "uma oportunidade de reviver" uma "base militar" ou "estação aeronaval" onde operem "tropas americanas".
"Não podemos aceitar bases militares nem locais de defesa", respondeu o ministro da Segurança panamenho, Frank Ábrego, em entrevista coletiva com Hegseth.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descarta o uso da força para retomar o controle da via, que os americanos entregaram ao Panamá em 1999, sob tratados bilaterais.
Washington considera uma ameaça à segurança nacional e regional a operação dos portos de Balboa (Pacífico) e Cristobal (Atlântico), nas duas entradas do canal, pela Hutchison Holdings, empresa sediada em Hong Kong.
"Estamos focados em trabalhar com os nossos parceiros panamenhos para garantir que não se permita que a influência maligna da China cresça ainda mais, e que, de fato, ela seja expulsa do Canal", disse Hegseth, que participou no Panamá de uma conferência de segurança regional.
Pequim afirmou hoje que os comentários do secretário representam "um ataque malicioso" à China, para difamar e minar a sua cooperação com o Panamá.
- Sem custo -
Os Estados Unidos e a China são os principais usuários do Canal. A tensão em torno da visita de Hegseth ao Panamá também é alimentada pelo fato de Trump considerar injusto que os Estados Unidos paguem pedágio para usar o Canal, apesar de terem-no construído.
O chefe do Pentágono informou que Estados Unidos e Panamá concordaram em buscar um mecanismo para que os navios de guerra americanos atravessem o Canal rapidamente e "sem custo": "Seria importante que, em momentos de contingência, nossas tropas pudessem passar primeiro e gratuitamente."
O ministro panamenho de Assuntos do Canal, José Ramón Icaza, explicou que não se trata de um trânsito "sem custos", e sim de medidas para "compensar" esses gastos americanos.
Frank Ábrego ressaltou que qualquer acordo sobre pedágios deve respeitar os tratados que determinam que todos os navios devem pagar as mesmas tarifas em função da sua capacidade e carga, sem importar o seu país de procedência ou destino.
Na conferência da qual participou, Hegseth disse que o Exército chinês "tem uma presença excessiva no hemisfério ocidental", e que as empresas chinesas "estão confiscando terras e infraestrutura crítica em setores estratégicos", como energia e telecomunicações.
"A guerra com a China certamente não é inevitável. Não a buscamos", ressaltou o americano, acrescentando que seu país "enfrentará" essas "ameaças" com seus aliados.
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