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Brasileiros acusados de traficar armas nos EUA tinham passaporte e visto

Arma apresentada pelo governo dos EUA como traficada por grupo de brasileiros - Divulgação
Arma apresentada pelo governo dos EUA como traficada por grupo de brasileiros Imagem: Divulgação
do UOL

Do UOL, no Rio

09/04/2025 12h39Atualizada em 10/04/2025 10h14

O grupo de 18 brasileiros acusados de traficar armas e fentanil nos EUA conseguiu passaportes junto à Polícia Federal e vistos para entrada em território norte-americano em consulados no Brasil, apurou o UOL.

O que aconteceu

Todos eles foram presos em uma investigação que durou um ano. A maioria saiu de Minas Gerais e havia entrado naquele país pouco antes de passar a ser alvo das autoridades locais. Segundo o governo dos EUA, 11 estavam em situação irregular no momento da prisão.

Alguns dos alvos têm ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital), além de outras duas facções menores do Brasil. A informação é do departamento de Justiça dos EUA. A investigação aponta ainda que um dos acusados ameaçou de morte um informante da polícia, afirmando que as armas eram da facção paulista.

Investigação nos EUA

A operação "Take Back America" (Traga a América de Volta), que visa combater a atuação do cartel e gangues estrangeiras nos EUA, apurou vendas ilegais de armas de fogo em Massachusetts durante um ano. Segundo a acusação, apresentada em 19 de março deste ano, os brasileiros atuaram em várias comunidades de Massachusetts.

PCC, "Tropa do Sete" e "Trem Bala" forneciam armamento. O Departamento de Justiça afirmou que algumas das armas de fogo estavam ligadas a atividades relacionadas a estas facções criminosas brasileiras.

Desde o início da investigação, 110 armas, incluindo pistolas, rifles e espingardas, foram apreendidas. Segundo o governo dos EUA, os armamentos foram traficados, principalmente, de áreas na Flórida e Carolina do Sul para Massachusetts. Quantidades não contabilizadas de fentanil, opioide 50 vezes mais potente que a heroína, também foram apreendidas.

Esses réus desempenharam um papel em trazer armas mortais para Massachusetts, alguns como traficantes e outros como possuidores ilegais.
Leah B. Foley, procuradora dos Estados Unidos

A pena nos EUA para tráfico de armas de fogo e conspiração é de até cinco anos de prisão, três anos de liberdade supervisionada e multa de até $ 250 mil (R$ 1,4 milhão). Já pena para posse de arma por estrangeiro ilegal é de até 15 anos de prisão, três anos de liberdade supervisionada e multa de até $ 250 mil.

Os brasileiros estão sujeitos à deportação após a conclusão de qualquer sentença imposta, segundo o governo norte-americano. "As sentenças são impostas por um juiz do tribunal distrital federal com base nas Diretrizes de Sentença dos EUA e estatutos que regem a determinação de uma sentença em um caso criminal", diz a Procuradoria.

Quem são os 18 brasileiros presos:

  1. Guilherme Fernandes Tavares, 31 anos - residia em Marlborough, acusado de exercer o comércio de armas de fogo.
  2. Lucas Henrique Moreira De Paiva, 22 anos - residia em Malden, Weymouth e Chelsea, acusado de exercer o comércio de armas de fogo.
  3. Victor Eduardo Santos De Souza, 21 anos - residia em Framingham e Revere, acusado de exercer o comércio de armas de fogo: o acusado teria vendido para um informante da polícia uma arma caseira, sem número de série, dificultando o rastreamento.
  4. Rafaell Martins Ferreira, 27 anos - residia em Boston, acusado de exercer o comércio de armas de fogo.
  5. Riquelme Henrique De Aguilar Ferreira, 21 anos - residia em Framingham e Revere, acusado de exercer o comércio de armas de fogo: o acusado teria vendido para um informante da polícia uma arma caseira, sem número de série, dificultando o rastreamento, e postava fotos com armas traficadas em suas redes sociais.
  6. Lucas Ferreira da Silva, 27 anos - residia em Malden, acusado de envolvimento no negócio de comércio de armas de fogo.
  7. Floriano De Souza, 50 anos - residia em Yarmouth, acusado de conspiração para se envolver no negócio de tráfico de armas de fogo: o acusado teria descoberto, em setembro do ano passado, um informante da polícia que estava atuando disfarçado no esquema como comprador. Ele ameaçou o informante dizendo que as armas eram do PCC e que a facção iria atrás dos familiares dele no Brasil.
  8. Israel Yurisson Dos Santos, 24 anos - residia em Marlborough, acusado de exercer o comércio de armas de fogo: no Brasil, ele respondeu a um processo por tráfico de drogas em Vespasiano, Minas Gerais, em 2020.
  9. Alason Ferreira Peixoto, 22 anos - residia em West Yarmouth, acusado de envolvimento no negócio de tráfico de armas de fogo: foi investigado depois de seu carro ter sido flagrado por câmeras de vias públicas a caminho da Carolina do Sul, onde as leis armamentistas são mais flexíveis. Ele foi acusado, num primeiro momento, de ter comprado dois rifles e uma pistola para posterior revenda em Barnstable. Ao todo, fez sete vendas para informantes. Em setembro do ano passado, foi preso.
  10. Gideoni De Oliveira Moutinho, 32 anos - residia em Malden, Weymouth e Chelsea, acusado de exercer o comércio de armas de fogo.
  11. Lucas Nascimento Silva, 27 anos - residia em West Yarmouth, acusado de envolvimento no negócio de tráfico de armas de fogo.
  12. Vanderson Rocha Oliveira, 31 anos - residia em Boston, indiciado por envolvimento no negócio de tráfico de armas de fogo.
  13. João Vitor Dos Santos Gonçalves Pimenta, 20 anos - esidia em Malden, acusado de exercer o comércio de armas de fogo: em julho de 2024, um informante da polícia comprou com ele uma arma caseira, feita com impressora 3D. Um mês depois, o mesmo informante comprou com ele dois rifles AR-15.
  14. Talles Provette De Faria, 34 anos - residia em Barnstable e Plymouth, acusado de envolvimento no negócio de tráfico de armas de fogo e distribuição de fentanil: o acusado foi denunciado por um informante da polícia que negociou com ele, em março de 2024, a compra de duas pistolas e de munições. Dois meses depois, o mesmo informante negociou com ele a compra de 50 gramas de fentanil. No Brasil, ele já havia sido preso em 2019 e tem antecedentes criminais por tráfico de drogas, porte de arma e roubo. Há um mandado de prisão em aberto, de 2022, em Caratinga (MG).
  15. Patrick Rodrigues De Oliveira, 34 anos - residia em Framingham, acusado de envolvimento no negócio de tráfico de armas de fogo.
  16. Marcos Paulo Silva, 24 anos - residia em Boston, acusado de exercer o comércio de armas de fogo.
  17. João Victor Da Silva Soares, 21 anos - residia em Everett, acusado de conspiração para se envolver no negócio de comércio de armas de fogo: um informante da polícia comprou com ele, em agosto de 2024, dois rifles AR-15.
  18. Kessi Jhonny Firmino Sales, 23 anos - residia em West Yarmouth, acusado de porte ilegal de arma de fogo por estrangeiro ilegal: identificado após a prisão de Alason Ferreira-Peixoto. No celular de Alason havia fotos que mostravam ambos com armas.

A reportagem não conseguiu contatar os advogados dos 18 brasileiros. O espaço segue aberto para manifestações.

PCC nos EUA

Laços antigos. Em 2020, um relatório federal obtido pelo UOL mostrava que o PCC, à época, mantinha pelo menos 387 integrantes em 16 países estrangeiros. Entre esses países, os EUA.

Nos Estados Unidos foram identificados pelo menos oito integrantes batizados pela facção criminosa paulista cinco anos atrás. A suspeita de investigadores brasileiros era a de que membros do PCC estivessem naquele país, para além de traficar cocaína, aprimorar ações de lavagem de dinheiro.

Lista de sanções. No final de 2021, o Departamento do Tesouro dos EUA incluiu o nome do PCC numa lista para sanções financeiras em razão da associação ao narcotráfico. Na prática, isso incluiria novas ferramentas dos EUA para sancionar estrangeiros envolvidos com tráfico internacional de drogas.

Em maio de 2023, o Serviço de Imigração anunciou ter prendido, em Massachusetts, um membro do PCC condenado por assassinato no Brasil. Em março de 2024, o brasileiro Diego Macedo Gonçalves do Carmo, acusado de lavar R$ 1,2 bilhão para o PCC, foi sancionado nos EUA.

O que dizem a PF e Embaixada

Polícia Federal disse que informações pessoais têm acesso restrito. Questionada sobre quando e onde cada um dos 18 presos conseguiu passaportes brasileiros, a PF informou que os dados são de acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo.

"Não podendo ser fornecidas pelos órgãos e entidades do poder público a terceiros, exceto diante de previsão legal específica ou consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem", disse a PF à reportagem.

Procurados pelo UOL, Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil não responderam. A reportagem procurou a Embaixada e os cinco Consulados no país (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo) em 7 de abril deste ano, sem retornos. Caso tenha resposta, o texto será atualizado.

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