Ibovespa fecha em queda com desconforto persistente sobre tarifas
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira pelo quarto pregão seguido, com Vale e Petrobras entre as maiores pressões negativas em meio ao declínio dos preços do minério de ferro e do petróleo no exterior, enquanto persistem as preocupações com o desfecho da guerra comercial deflagrada pelos Estados Unidos.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,32%, a 123.931,89 pontos, sem fôlego para sustentar a alta dos primeiros negócios, quando chegou a 127.651,6 pontos. Na mínima do dia, marcou 123.454,24 pontos. O volume financeiro no pregão somou R$27,6 bilhões.
"Investidores continuam ajustando posição, tentando se habituar com o novo ambiente de mercado", afirmou Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos.
Os EUA confirmaram nesta terça-feira a tarifa de 104% sobre produtos da China a partir das 03h01 (horário de Brasília) de quarta-feira, após Pequim não suspender tarifas retaliatórias sobre os produtos norte-americanos até o prazo desta terça-feira estabelecido pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Mais cedo, o Ministério do Comércio da China afirmou que "a ameaça dos EUA de aumentar as tarifas contra a China é erro em cima de erro, expondo mais uma vez a natureza chantagista do lado norte-americano" e que "se os EUA insistirem em seguir seu caminho, a China lutará até o fim".
Trump ameaçou Pequim na véspera com a taxa de 104% sobre as importações vindas da China se a segunda maior economia do mundo não recuasse da decisão de igualar as tarifas "recíprocas" anunciadas pelos EUA na semana passada.
A Casa Branca disse que quase 70 países entraram em contato para começar a negociar sobre as tarifas do presidente Donald Trump. A secretária de imprensa, Karoline Leavitt, ainda afirmou que se a China estender a mão, Trump seria "incrivelmente gentil, mas ele fará o que for melhor para o povo americano."
Wall Street começou a segunda sessão da semana com fortes ganhos, mas o ímpeto se dissipou ao longo do pregão e o S&P 500 fechou em baixa de 1,57%, a pontos. Na máxima do dia, chegou a 5.267,47 pontos (+4,01%).
"Nós estamos diante de uma avalanche de manchetes: quem está pronto para negociar, quem não está, o que Trump disse, o que ele quis dizer... é quase impossível prever o próximo movimento", afirmou a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, em relatório a clientes.
"Uma esperança é que o pior já tenha sido precificado e que os mercados só possam se recuperar a partir daqui. Mas o problema é: o pior continua piorando, e não há um limite razoável à vista na Casa Branca", acrescentou.
DESTAQUES
- VALE ON caiu 5,48%, com os contratos futuros do minério de ferro recuando pela terceira sessão consecutiva nesta terça-feira na China, em meio às tensões comerciais entre EUA e China. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian caiu 3,15%, terminando em 738,5 iuanes (US$100,73) a tonelada. No início da sessão, os preços atingiram 735,5 iuanes, o menor valor desde 19 de novembro de 2024.
- PETROBRAS PN reverteu os ganhos e recuou 3,56%, conforme o petróleo voltou a enfraquecer no exterior, com o Brent fechando o dia em baixa de 2,16%. A presidente da estatal afirmou na véspera que a companhia não deve alterar preços de combustíveis em cenário turbulento. Uma fonte disse à Reuters que o ministro de Minas e Energia teria pedido para a CEO para que a Petrobras analisasse um novo corte no valor médio do diesel, diante do recuo acentuado e recente do preço do barril do petróleo no mercado internacional.
- BRAVA ENERGIA ON fechou em baixa de 4,2%, sucumbindo à piora dos preços do petróleo, em dia também marcado pela divulgação de dados preliminares de março mostrando uma produção total bruta de 71.757 boe/d, encerrando o primeiro trimestre com 71.057 boe/d. Ainda no setor, PETRORECONCAVO ON cedeu 2%, tendo também no radar dados de março mostrando produção média de 27.715 mil boe/d; enquanto PRIO ON caiu também 2%.
- MAGAZINE LUIZA ON desabou 13,41%, tendo como pano de fundo relatório do Citi cortando a recomendação da ação para "venda/alto risco" e reduzindo o preço-alvo de R$8 para R$7,70. Para os analistas, que afirmam estar ainda cautelosos com o cenário macroeconômico do país, antecipar um ciclo de demanda positiva parece excessivamente otimista neste momento. Eles também citaram competição acirrada no setor. Na véspera, o Mercado Livre anunciou investimento de R$34 bilhões no Brasil em 2025. Em Nova York, MERCADO LIBRE subiu 1,75%.
- MINERVA ON recuou 2,95% na esteira de proposta aprovada pelo conselho de administração para aumento de capital no montante de até R$2 bilhões, que será votada em assembleia geral extraordinária a ser realizada em 29 de abril. Sob os termos da proposta, o aumento de capital de até R$2 bilhões contará com a subscrição particular de até 386,8 milhões de novas ações ordinárias pelo preço de emissão de R$5,17 cada -- um desconto de quase 20% em relação ao fechamento da segunda-feira. O aumento de capital prevê ainda bônus de subscrição.
- ITAÚ UNIBANCO PN fechou negociada com variação positiva de 0,03%, com o setor também sofrendo com a deterioração do humor nos mercados. BRADESCO PN caiu 2,75%, BANCO DO BRASIL ON perdeu 0,18%, SANTANDER BRASIL UNIT encerrou com decréscimo de 1,51% e BTG PACTUAL UNIT perdeu 0,15%. No noticiário do setor, o Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal abriu nesta terça-feira uma investigação preliminar para apurar eventual ocorrência de "crime contra o sistema financeiro nacional" na compra de ativos do Banco Master pelo BRB, informou à Reuters uma fonte com conhecimento direto da iniciativa.
- CPFL ENERGIA ON avançou 3,39%, registrando no melhor momento máxima histórica intradia a R$40,06 (+7%). Durante o pregão, a companhia divulgou que três diretores (de cinco) da Aneel votaram a favor da companhia em processo sobre o reajuste das tarifas da distribuidora CPFL Paulista, que discute a incorporação de R$4,67 bilhões no processo tarifário. Um deles pediu vista do processo, adiando o desfecho final. Analistas do JPMorgan e do Citi consideraram a notícia uma surpresa positiva, avaliando que pode se traduzir em dividendos extraordinários.
- EMBRAER ON valorizou-se 0,82%, tendo no radar declarações do presidente-executivo da fabricante de aviões de que as tarifas anunciadas por Trump, da forma que estão, trarão mais complexidade e custos para a empresa, mas não devem mudar os planos da companhia. "A gente vai seguir nossos planos e vamos ter que achar uma forma de lidar com essa situação. Mas acreditamos que tem espaço para uma negociação bilateral e multilateral nesse sentido da aviação", disse. O CFO da Embraer também citou que a controlada Eve tem planos de lançar BDRs (recibos de ações negociados no Brasil) até o final do ano.