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Fotógrafa brasileira publica livro com fotografias feitas por imigrantes em Paris

08/04/2025 09h18

O livro Les Sources (As fontes em português) é o resultado da segunda etapa do projeto Parcours (Percursos) da fotógrafa e antropóloga brasileira radicada na França, Andrea Eichenberger. A obra reúne relatos e fotografias feitas pelos moradores de uma habitação social do 11° Distrito de Paris, principalmente imigrante, que fazem uma radiografia em imagens de onde moram e de si.

"A Rua de Godefroy Cavaignac", publicado no início de 2024, foi o primeiro livro da série Percursos. A obra foi resultado de um ateliê de fotografia realizado por Andrea Eichenberger, em parceria com a socióloga e urbanista brasileira Camila Gui Rosatti, como moradores do 11° distrito de Paris. Eles receberam uma máquina fotográfica compacta analógica na mão e foram convidados a fazer um retrato de uma das ruas do bairro, a rua Godefroy Cavaignac.

"A ideia é olhar a cidade pelos olhos dos seus moradores e, a partir das fotos que eram realizadas, a gente colhia histórias", conta a fotógrafa à RFI.

Andrea Eichenberger, que mora na França há mais de 20 anos, se inspirou no escritor francês, ou melhor, parisiense, Georges Perec, para desenvolver esse projeto.

"A gente se inspira no que Georges Perec chamava de 'l'Infra-ordinaire', aquelas coisas da vida cotidiana que a gente não olha", resumindo, as coisas banais que não prestamos mais atenção. Seguindo o exemplo do Perec, que parava em um ponto da cidade e o descrevia à exaustão, Andrea Eichenberger propõe fazer essa descrição com a fotografia. "Também é ocasião de desenvolver um trabalho de aprendizado da fotografia, porque as pessoas vão fotografar, a gente vai analisar junto essas imagens, vai ver o que funcionou, o que não funcionou", conta.

Percursos de imigrantes africanos

No segundo volume da série "Percursos", publicado no final do ano, Andreia Eichenberger foca em um único endereço do 11° Distrito de Paris: a habitação social "Les Sources", que acolhe principalmente imigrantes.

O livro revela o percurso de 10 residentes do local, todos vindos de países africanos. O dispositivo é quase o mesmo da primeira etapa. Os participantes do Les Sources receberam uma câmera compacta analógica e foram convidados a fotografar cenas de sua vida cotidiana, mas receberam uma formação quase individual.

O alojamento social é um local provisório, onde as pessoas têm o direito de ficar no máximo três anos. "Nesses 3 anos, elas têm que tirar documentos, encontrar uma moradia, um trabalho fixo. Elas têm preocupações existenciais que são muito mais importantes do que um ateliê de fotografia e acabei fazendo esse projeto individualmente, encontrando as pessoas uma por uma nas casas delas", lembra. Ela acha que isso, e o fato de ser também imigrante, acabou criando uma maior proximidade com os participantes do projeto.

Os moradores do Les Sources fotografaram muito o alojamento onde moram, parentes e amigos, mas também a rua, os locais de trabalho. Várias imagens têm efeitos ou elementos amadores, como o dedo na frente da câmera. Tem também fotos super estéticas, algumas tiradas por crianças. Para a fotógrafa, "o importante é que as pessoas se sintam representadas nesse conjunto de imagens".

Dispositivo facilitador do diálogo

Cada série de imagens coloridas é acompanhada de relatos, ou melhor, de diálogos entre Andrea Eichenberger e os fotógrafos moradores que descobrem pela primeira vez as fotos que fizeram. Os textos complementam as fotos e ajudam a descrever a personalidade e a vivência de cada imigrante.

"As fotografias acabam sendo um pretexto para que as pessoas contem histórias. A partir do momento em que as pessoas vão fotografar os lugares que elas frequentam na cidade, elas vão contar suas histórias", acredita.

Retratos em preto e branco feitos pela fotógrafa brasileira completam o percurso de cada morador. Andrea Eichenberger observou que as pessoas se sentem "valorizadas" com essas "fotografias em preto e branco, que saem da imagem que a gente está acostumado a ver, que é essa imagem de telefone que é colorida geralmente".

A fotógrafa e antropóloga brasileira está desenvolvendo o terceiro livro dessa série que coloca a fotografia como um dispositivo facilitador do diálogo. Ela ressalta que a "experiência que a fotografia promove" é o principal objetivo desse projeto. "Estar junto, trocar, conversar, dar atenção, no caso aos imigrantes, a essas pessoas que normalmente são consideradas apenas como números", pontua.

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