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'Tarifaço' de Trump pode ter efeito positivo para o bolso do brasileiro

O presidente dos EUA, Donald Trump, segura um gráfico enquanto faz comentários sobre tarifas recíprocas  - BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, segura um gráfico enquanto faz comentários sobre tarifas recíprocas Imagem: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
do UOL

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/04/2025 05h30

As tarifas de 10% anunciadas sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, anunciadas pelo presidente Donald Trump na semana passada, começaram a valer no sábado (5). A medida aumenta a incerteza a respeito dos rumos da economia do Brasil, que tem nos EUA seu segundo maior parceiro comercial, mas pode render um efeito positivo para o bolso do brasileiro: a desaceleração da inflação.

O que aconteceu

EUA vão cobrar tarifa de 10% sobre as exportações brasileiras. Essa é a menor porcentagem imposta pelo governo americano no "tarifaço", aplicada sobre países que, até o anúncio da medida, tinham déficit comercial com os EUA.

Decisão atinge produtos que antes estavam livres de cobrança. Entre os principais bens produzidos no Brasil e enviados para os EUA aparecem o petróleo bruto, o aço, aeronaves e suas partes, e o café torrado."Tarifaço" começou a valer no sábado (5). A proposta das cobranças mínimas de 10% sobre as importações realizadas foi justificada por Trump como um ato de "reciprocidade" contra as tarifas aplicadas sobre os produtos fabricados nos EUA.

Efeitos das tarifas para os consumidores brasileiros serão indiretos. "No curto prazo, o brasileiro não deve sentir um aumento de preços por causa dessa medida, porque ela não recai nas importações que chegam ao nosso país", afirma Meireles. "Diretamente, o preço pago aqui não aumenta", complementa Gilberto Braga, professor do Ibmec.

Cenário abre caminho para reduzir ritmo da inflação brasileira. A avaliação dos economistas considera que a busca dos exportadores por outros mercados tende a estimular a distribuição dos produtos no território nacional. "Existe a possibilidade de um aumento de oferta local dessas categorias sobretaxadas pelas medidas de reciprocidade e até do preço final baixar para o brasileiro", estima Braga.

Maior oferta global é outro ponto positivo contra o aumento dos preços. Outro ponto favorável para limitar a inflação brasileira passa pela maior disponibilidade global de diversos produtos taxados pelos Estados Unidos. Tal efeito será originado pela preferência nacional para fugir das elevadas tarifas. "Os mercados europeu e asiático vão olhar para o Brasil e pensar: 'já que o meu produto vai aumentar 30%, 40% se eu mandar para os Estados Unidos, eu vou mandar para o Brasil'", pondera Isoppo.

Teremos um aumento da oferta local, com a diminuição da exportação, e um aumento da oferta internacional, com o redirecionamento de produtos importados que iriam para o mercado americano e podem vir para o Brasil. Isso ajuda na inflação.
Erick Isoppo, especialista em comércio exterior

Alerta sobre o "tarifaço" de Trump já foi avaliado pelo BC. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), os diretores da autoridade monetária destacam o ambiente "desafiador" diante da "incerteza" a respeito da política comercial dos Estados Unidos e seus efeitos.

Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países.
Ata da 269ª reunião do Copom

Possibilidade de arrefecimento maior do PIB cresce

A chance de maior desaceleração da economia nacional é real.

A guerra comercial, somada à taxa de juros de dois dígitos, deve contribuir para a desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) — a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no Brasil. "Qualquer barreira comercial afeta o PIB de quem exporta, porque reduz as vendas externas, diminui receita e inibe investimentos", explica Meireles.

Podemos esperar pela inflação sobre produtos hoje isentos e uma eventual desaceleração mais forte da economia.
Gilberto Braga, professor do Ibmec

Duração das medidas anunciadas por Trump será decisiva. Meireles estima um impacto "na casa de alguns décimos de ponto percentual", dependendo da quantidade de setores afetados pelo '"tarifaço" e da duração das medidas. As últimas estimativas do mercado financeiro apontam para uma alta do PIB na casa de 2% neste ano.

Não é algo que sozinho vai derrubar a economia brasileira, mas certamente atrapalha. É menos dinheiro entrando, menos potencial de expansão pra empresas que dependem do mercado dos EUA
Bruno Lessa Meireles, professor da Universidade Brasil

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