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Ato pró-anistia anima bolsonaristas; governistas minimizam impacto

do UOL

Do UOL, em São Paulo, e em Brasília

06/04/2025 22h25

O ato de hoje na avenida Paulista, em São Paulo, foi avaliado por políticos bolsonaristas como crucial para pressionar o Congresso a acelerar a tramitação do projeto de lei que anistia os presos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro. Já a base governista avalia que a proposta perde força.

O que aconteceu

Parlamentares bolsonaristas usaram o ato para pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar a votação da anistia. Durante a manifestação, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido de Bolsonaro na Casa, disse que já tem o apoio de 162 deputados e que governadores de diferentes partidos presentes no ato ajudariam a pressionar mais parlamentares. O mesmo número de assinaturas no requerimento de urgência —recurso utilizado para acelerar a tramitação de propostas no Legislativo — foi informado pelo deputado a jornalistas na última quinta-feira (9).

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Deputado está colhendo assinaturas individuais de parlamentares para apresentar o pedido de urgência do projeto da anistia no plenário da Câmara. São necessárias 257 rubricas. Caso o pedido seja aprovado, a proposta poderá ser incluída na ordem do dia e votada a qualquer momento.

Amanhã, nós vamos publicar o nome e a foto deles para vocês agradecerem a esses deputados. E vamos divulgar também o nome e a foto de quem ainda está indeciso. Até quarta-feira, presidente Bolsonaro, nós vamos ter, com a ajuda do Caiado, do Zema, do Tarcísio, do Wilson Lima, de Jorginho Mello e de todos os governadores que estão aqui, teremos, sim, as 257 assinaturas, se Deus quiser. E aí será pautado, querendo ou não, na Câmara dos Deputados.
Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara dos Deputados.

Governador de São Paulo diz que manifestação "pode dar um impulso" na tramitação do projeto. Único governador a discursar no ato, Tarcísio de Freitas (Republicanos) classificou o ato como um "evento bem prestigiado" e um "movimento interessante que pode dar um impulso e sensibilizar parlamentares que ainda estão na dúvida de assinar o requerimento de urgência" do projeto.

[A união de governadores e parlamentares de direita] mostra força e que há uma convergência na pauta. E acho que se engana quem pensa que a direita está fragmentada ou desunida porque os interesses individuais vão prevalecer, mas não vão. (...) Saio com a sensação de que o ato vai sensibilizar os parlamentares para que a anistia possa ser pautada.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

Questionado sobre a pressão dos protestos pró-anistia sobre o colega de partido e presidente da Câmara, Tarcísio ponderou. "Tudo tem que ser construído e conversado. De certa forma é um tema que traz sensibilidade e, se a gente for pegar na história do Brasil, em diversas oportunidades, a gente teve a anistia, (...), então não é uma novidade na nossa história, é um elemento de pacificação", disse.

Também presente na avenida Paulista, Sérgio Moro (União Brasil) corrobora opinião do governador paulista. Ao UOL, o senador do União Brasil disse que o ato "irá impulsionar o projeto da anistia para os manifestantes do 8/1 ou a revisão de penas que o próprio STF parece estar pronto para fazer".

Tinha muita gente na Paulista e uma presença expressiva de governadores, senadores e deputados. Não há como não reconhecer o excesso no tratamento dado pelo STF até agora aos manifestantes.
Sérgio Moro (União Brasil- PR)

Magno Malta (PL) também enalteceu o ato. Em declaração ao UOL após o protesto, o senador afirmou: "Foi maravilhoso. O impacto disso no Congresso tem que ser positivo, e eu acho que vai ser, porque a única coisa que parlamentar tem medo é do povo".

Líder do PL no Senado, Carlos Portinho, diz que, se aprovado na Câmara, projeto também terá maioria entre senadores. Ele avalia o ato como um movimento "com muita adesão, não só da população, como de diversos governadores". Sobre o projeto de anistia, ele afirma: "Avançando e passando na Câmara, como vai acontecer em breve porque houve um alinhamento entre os partidos, passará no Senado".

Governistas minimizam manifestação

Líder do PT na Câmara diz que ato foi "um fracasso". Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que o projeto de lei da anistia "perde força" com as pesquisas divulgadas no final de semana. O levantamento da Genial/Quaest indica que 56% acham que os envolvidos no 8 de Janeiro devem continuar presos. Já o DataFolha indica que 67% do eleitorado acha que Bolsonaro deveria abrir mão da candidatura.

Eles querem ganhar no grito, mas não é assim que funciona. Vai ter efeito contrário. A demonstração foi fraqueza.
Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara.

Líder do PDT na Câmara saiu em defesa de Motta e criticou o ataque "desnecessário". Na avaliação de Mário Heringer (PDT-MG) atacar o presidente da Câmara "é um movimento errado dessa tática errática do bolsonarismo".

Exposição e ataque, principalmente público, a outras autoridades só serve para satisfação dos egos e suas claques. Não converte. O Hugo, apesar de jovem, tem maturidade e inteligência suficientes para respeitar as instituições e não cair em armadilhas. Reconheço a legitimidade do ato, mas refugo o conteúdo belicoso.
Mário Heringer, líder do PDT na Câmara.

Interlocutores de Motta afirmam que ele não deve ceder às pressões do PL. Na semana passada, o presidente da Câmara consultou os líderes individualmente sobre o projeto e conseguiu vencer a obstrução do PL para votar projetos importantes na Casa. Como mostrou o UOL, as lideranças do Centrão não querem assinar a urgência do projeto e ficaram irritadas com as declarações de Cavalcante sobre o apoio dos parlamentares à anistia.

Sete governadores participaram do ato na avenida Paulista. Pouco antes da manifestação, Bolsonaro se reuniu com apoiadores. São eles: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO), Jorginho Mello (PL-SC), Mauro Mendes (União-MT) e Wilson Lima (União-AM).

Questionado pelo vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), quatro políticos da direita e centrão disseram que os partidos apoiam a anistia. Tarcísio, Valdemar Costa (presidente do PL), Caiado e Zema responderam que suas respectivas siglas endossam o projeto.

Quatro dos sete governadores são citados para concorrer à presidência em 2026. Caiado chegou a lançar sua pré-candidatura em Salvador. Zema e Ratinho Júnior também são cotados como opções. Já Tarcísio é o nome que mais aparece para substituir Jair Bolsonaro, caso a inelegibilidade do ex-presidente seja mantida.

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