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Europa reage à ofensiva protecionista de Trump e prepara medidas retaliatórias contra EUA

04/04/2025 06h26

A União Europeia ainda tenta processar o complexo regime tarifário anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, enquanto finaliza um primeiro pacote de medidas de retaliação às tarifas do aço e do alumínio impostas no mês passado.  A resposta às tarifas de 25% sobre a exportação de automóveis também está sendo preparada, caso as negociações com Washington fracassem. O comissário europeu do Comércio, Maros Sefcovic, deve falar com seus colegas norte-americanos nesta sexta-feira (4).

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

As reações dos líderes europeus ao tarifaço de Washington oscilam entre apelos ao diálogo a ameaças abertas. Apesar do presidente americano, Donald Trump, ter anunciado um tarifário mais agressivo do que o esperado, Bruxelas quer evitar uma guerra comercial transatlântica com os EUA, pelo menos a curto prazo. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aposta na diplomacia em vez do confronto. A afirmação de Von der Leyen de que "existe uma alternativa" indica que as tarifas retaliatórias da Europa não deverão ser tão duras.

Bruxelas quer diálogo, mas prepara contramedidas. A União Europeia pretende anunciar um pacote de tarifas sobre produtos norte-americanos, represálias contra os gigantes digitais e o setor financeiro dos EUA, que pode atingir até 26 bilhões de euros. A retaliação europeia será realizada em duas etapas: a primeira, relacionada às tarifas impostas por Trump ao aço e alumínio no mês passado, deve entrar em vigor em meados de abril, a outra, visando as sobretaxas anunciadas pela Casa Branca esta semana, em meados de maio.

Especialistas acreditam que a melhor resposta da União Europeia seria uma combinação de medidas comerciais, incluindo tarifas retaliatórias específicas e acordos comerciais com outros parceiros no mundo. Com isso, o acordo UE-Mercosul, aprovado no final do ano passado, ganha fôlego. Os europeus querem acelerar o processo para implementá-lo. A revisão jurídica e a tradução do acordo nos idiomas dos dois blocos devem terminar em junho. Para o acordo entrar em vigor, será preciso antes resolver as pendências e submeter o texto ao Conselho Europeu, além do Congresso Nacional no Brasil e outros legislativos do Mercosul.

Tarifas provocam tremores na Europa

A Alemanha, cuja economia está estagnada, será um dos países do bloco europeu mais prejudicados pelas novas tarifas dos EUA. O PIB alemão deve ser reduzido em 0,3%, o que representa um crescimento econômico abaixo de zero, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Ifo. O país, que é o maior produtor de carros da Europa, terá fortes impactos no setor automotivo e também nos produtos farmacêuticos, maquinaria, entre outros. O dano à indústria alemã está sendo estimado em € 200 bilhões.

Após ter o vinho, champagne e a indústria aeronáutica prejudicados, a França pediu a suspensão de todos os novos investimentos nos EUA até que a postura americana seja esclarecida. Além das tarifas retaliatórias, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que Bruxelas deveria usar a lei anti-coerção, que dá ao bloco ampla margem de manobra para impor restrições comerciais e de investimento a um governo estrangeiro que está usando o comércio como arma.

A Itália, terceira economia da zona euro que destina 10% de suas exportações aos EUA, também está no topo da lista de países mais afetados pelas tarifas de Trump, ao lado da Irlanda e Finlândia.

Efeitos negativos

As novas tarifas de 20% sobre os produtos europeus devem disparar a inflação na União Europeia, além de provocar um impacto direto nas taxas de juros nos próximos meses. Os alimentos, transportes e medicamentos vão custar mais caro. Ursula von der Leyen lamentou o caos que está sendo criado por Trump no sistema global de comércio. "Parece não haver ordem na desordem", criticou.

Em geral, as indústrias químicas, de máquinas e de equipamentos do bloco europeu são os setores mais vulneráveis às tarifas. Porém, o estrago poderá ser muito maior com 70% de todas as exportações da UE para os EUA afetadas pelas tarifas. Este conflito tarifário coloca em risco € 8,6 trilhões em comércio e investimentos bilaterais. No ano passado, as importações de produtos americanos pelo bloco europeu totalizaram € 334 bilhões, contra € 532 bilhões de exportações da UE para a maior economia do mundo.

Nesta sexta-feira (4), as bolsas europeias abriram em queda, seguindo a tendência dos mercados financeiros mundiais fortemente abalados desde o anúncio do tarifaço anunciado por Donald Trump.

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