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Tarifas de Trump taxam ilhas sem habitantes e povoadas por pinguins

Ilhas Heard, no Oceano Antártico, em imagem de 2006 - eddie_2541/Creative Commons
Ilhas Heard, no Oceano Antártico, em imagem de 2006 Imagem: eddie_2541/Creative Commons
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/04/2025 06h37Atualizada em 03/04/2025 07h25

As ilhas Heard e Mcdonald, que não têm habitantes e estão povoadas por pinguins, estão entre os territórios com taxação anunciada pelo presidente Donald Trump na tarde de ontem.

O que aconteceu

Ilhas remotas nunca fizeram transações comerciais com os EUA e, ainda assim, estão na lista dos 185 territórios taxados com "tarifas recíprocas". No anúncio de ontem, Trump afirmou que a "taxação em massa" tinha como objetivo dar uma resposta aos países que cobram tarifas sobre os produtos americanos.

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A Casa Branca justificou a taxa dizendo que são territórios australianos, e aplicou o valor "mínimo", de 10%. O mesmo montante foi aplicado à Austrália e ao Brasil, e a medida passa a valer em 5 de abril. Veja a lista de todos os países taxados e a sua porcentagem de taxação aqui.

Para visitar as ilhas Heard e Mcdonald é necessária uma permissão especial da Austrália. Uma embarcação que sai do país em direção à ilha leva, em média, duas semanas para chegar.

Outra ilha remota, com 18 moradores e habitadas por ursos polares, também foi taxada. A ilha vulcânica de Jan Mayen, território da Noruega, foi taxada em 15%, assim como o país europeu. Ela não tem população nativa e todos os seus moradores são pesquisadores ou militares, que são trocados semestralmente.

O anúncio

Republicano definiu o decreto como histórico e afirmou que o tarifaço é uma ação "recíproca" com os outros países, que ele diz estarem roubando os EUA. "Agora é a nossa vez de ficarmos prósperos. A nossa dívida será paga e tudo isso ocorrerá de forma muito rápida", disse, acrescentando que irá fazer os "EUA ricos novamente", retomando o "sonho americano". O anúncio foi feito em um evento, aberto a algumas pessoas e à imprensa, em um dos jardins da Casa Branca.

Em discurso, Trump afirmou que, por décadas, outros países impunham tarifas altíssimas aos EUA, "inclusive com barreira não monetárias para dizimar a nossa indústria". O presidente norte-americano comentou que, em muitos casos, as limitações não monetárias eram piores que as monetárias.

Agora não é tarde demais. Nós começaremos a ser mais espertos, inteligentes, e voltaremos a ser ricos. Porque tanto da nossa riqueza foi tirada de nós e não podemos deixar isso acontecer. Nós podemos ser tão ricos, mais que qualquer outro país. Mas precisamos ficar espertos porque os EUA não podem ficar com tarifas unilaterais, nessa rendição econômica.
Donald Trump, ao anunciar as tarifas

Trump ainda declarou que suas tarifas recíprocas são "gentis" e poderiam ter sido muito mais altas. Ele chamou as taxas de "tarifa recíproca descontada". Após o anúncio, o presidente estadunidense assinou duas ordens executivas que contribuem para consolidar as novas políticas tarifárias.

Desde o início da semana, o governo Trump tem feito sinalizações ao setor empresarial norte-americano e ao mercado financeiro. A gestão reforçou que o objetivo do tarifaço é forçar países a negociar uma maior abertura aos produtos norte-americanos.

Mais cedo, autoridades da Itália, da França e do Reino Unido começaram a discutir sobre possíveis respostas ao anúncio. Ontem, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei que estabeleceu mecanismos de reação, apesar de não citar diretamente os EUA.

Brasil seguirá negociando com os EUA

O colunista do UOL Jamil Chade apurou que o governo brasileiro continuará a negociar com os EUA, mesmo após o anúncio das tarifas. Num telefonema hoje, o chanceler Mauro Vieira e o representante de Comércio da Casa Branca, Jamieson Greer, estabeleceram que, depois de conhecer a taxa que será aplicada sobre o Brasil, as equipes dos dois países irão se reunir na próxima semana para continuar a negociar e tentar obter um acordo. Na conversa, foram ainda tratados temas como a tarifa ao aço.

A aposta pelas negociações era o caminho preferido pelo Brasil, com a tentativa de acertar uma redução de tarifas, cotas e isenções. Como o UOL revelou anteontem, não existem esperanças por parte do governo Lula e nem do setor empresarial de que o Brasil possa ser poupado do tarifaço.

Caso necessário, o Itamaraty considera que tem espaço legal para elevar as tarifas para os produtos americanos, sem violar os compromissos do país na OMC (Organização Mundial do Comércio). Pelas regras, o Brasil poderia subir as taxas para até 35%, sem incorrer em uma ilegalidade nos tratados. Um dos problemas é que tal medida poderia afetar as próprias empresas nacionais, que dependem desses produtos americanos. Uma das saídas, portanto, seria uma retaliação em serviços, remessas de royalties por empresas americanas e até no setor de propriedade intelectual.

O Brasil não está entre os maiores responsáveis pelo déficit americano. De fato, por anos, foram os EUA que tiveram vantagem no comércio. Ainda assim, nas conversas bilaterais, os americanos se queixaram de um tratamento injusto sobre o etanol dos EUA e barreiras como o sistema tributário.

Um terceiro caminho, ainda que simbólico, seria levar a disputa para a OMC. Governos como o do Canadá já adotaram a medida e a iniciativa teria como objetivo demonstrar que o Brasil atua pelas regras do comércio, e não por vias unilaterais. Mas com os mecanismos de solução de disputas inoperantes, qualquer ação na OMC levaria anos para trazer qualquer resultado.

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