Ibovespa reduz fôlego após superar 132 mil pontos com tarifas sob holofote
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa perdia o fôlego no começo da tarde desta quinta-feira, após superar os 132 mil pontos mais cedo, enquanto agentes financeiros continuam analisando os potenciais reflexos das tarifas recíprocas anunciadas na véspera pelo presidente Donald Trump a parceiros comerciais dos Estados Unidos.
Por volta de 12h30, o Ibovespa tinha variação positiva de 0,02%, a 131.215,11 pontos, tendo chegado a 132.552,11 na máxima até o momento. Na mínima, marcou 130.181,74 pontos. O volume financeiro somava R$13,6 bilhões.
No caso do Brasil, Trump anunciou uma tarifa de 10%, o que muitos estrategistas consideraram uma notícia positiva ou menos negativa, uma vez que outras economias tiveram taxas maiores, como China, que teve 34%, além dos 20% aplicados anteriormente, enquanto União Europeia ficou em 20% e Japão em 24%.
Na visão da economista Iana Ferrão, do BTG Pactual, para o Brasil, é um cenário menos desfavorável do que muitos temiam.
"Por um lado, os produtos brasileiros perderão parte da competitividade em relação aos fabricados nos EUA, que não pagam a taxa, e alguns setores podem sofrer mais. Por outro, como as tarifas para outros países tiveram aumento maior, determinados segmentos do Brasil podem ganhar competitividade relativa."
A economista também destacou que setores de commodities podem se beneficiar se conquistarem parte de mercados que os EUA eventualmente percam, caso sofram retaliações de seus parceiros comerciais.
Para Ferrão, o "tarifaço" dos EUA pode desencadear respostas de outros parceiros comerciais, provocando uma guerra comercial, com resultado negativos para a economia global. Mas, acrescentou, o Brasil perderá menos do que os demais. "A magnitude dessa perda dependerá de quanto a economia mundial se deteriorará."
O anúncio desencadeou receios sobre os efeitos nocivos ao crescimento da maior economia do mundo, o que derrubava a moeda norte-americana - inclusive ante o real - e o rendimento dos Treasuries. Tal movimento reverberava nas taxas dos DIs no Brasil, favorecendo ações de empresas sensíveis a juros na B3.
Em Nova York, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, recuava 4%.
DESTAQUES
- ITAÚ UNIBANCO PN avançava 1,59%, em dia benigno para bancos no Ibovespa, com o índice do setor financeiro subindo 1,29%. BRADESCO PN mostrava acréscimo de 2,17%, BANCO DO BRASIL ON tinha alta de 0,63% e SANTANDER BRASIL UNIT valorizando-se 1,55%.
- AUREN ON subia 7,04%, acompanhada de perto por ENGIE BRASIL ON, que ganhava 4,72%. A Folha de S.Paulo publicou que o governo avalia flexibilizar cortes de geração de energia por usinas eólicas e parques solares. Ambas as empresas vinham sofrendo com essas restrições.
- PETROBRAS PN caía 3,28%, em dia bastante negativo no setor, pressionado pelo tombo dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent desabava 6,88% após anúncio das tarifas pelos EUA e com a Opep+ acelerando aumentos na produção. BRAVA ON afundava 9,74%.
- VALE ON recuava 2,13%, também contaminada pelas preocupações sobre o crescimento da economia global, enquanto os futuros do minério de ferro na China tiveram uma queda modesta, de 0,32%, com a demanda sazonal pelo produto ajudando a amortecer a pressão negativa sobre os preços.
- SUZANO ON era negociada em baixa de 3,78%, tendo como pano de fundo uma queda de mais de 1% do dólar ante o real e agentes buscando avaliar os reflexos das tarifas anunciadas por Trump. KLABIN UNIT mostrava declínio de 2,02%.
- COGNA ON subia 3,35%, após queda na véspera, quando a companhia realizou evento com investidores. De acordo com o Citi, a discussão sobre as futuras vias de crescimento da empresa foi de natureza mais qualitativa e detalhes limitados sobre potenciais alavancas de eficiência no futuro foram fornecidos pelos executivos na apresentação.