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PCDs superam burocracia e preconceito em busca do sonho de dirigir

Dani Amaral usa os pés para dirigir - Reprodução/ Instagram
Dani Amaral usa os pés para dirigir Imagem: Reprodução/ Instagram
do UOL

Simone Machado

Colaboração para o UOL

03/04/2025 12h00

Poder dirigir é o sonho de muitos jovens que esperam ansiosos completar 18 anos e poder tirar a habilitação. E cada vez mais surgem exemplos de pessoas, em especial mulheres, que superam desafios pelo prazer de dirigir.

Assim foi com a influenciadora Laura Simões, de 24 anos, que se tornou a primeira pessoa com Síndrome de Down a ter o documento no Brasil. A jovem, que mora em Alagoas, sonhava em dirigir e ser mais independente, tirou a habilitação em 2020.

"Fiz o mesmo processo que qualquer outra pessoa. Cheguei lá como a Laura, não como uma menina que tem Síndrome de Down. Fui reprovada na primeira vez, tanto na prova teórica quanto na prática, mas passei na segunda tentativa. Nunca achei que não fosse conseguir, sempre estive confiante", disse em entrevista ao UOL, na época.

"Fácil não é — tem que ser resiliente, determinada, e querer muito — mas não acho que seja mais difícil tirar a carteira para uma pessoa com Síndrome de Down. Pensar isso é um preconceito e eu estou aqui para provar que sim, conseguimos", acrescentou.

Dirigindo apenas com os pés

O processo enfrentado por Laura é muito semelhante ao que a influenciadora e palestrante Dani Amaral, de 31 anos, que possui deficiência física, percorreu para tirar habilitação.

Dani perdeu os dois braços, ainda na infância, após um acidente no sítio em que morava com a família. Mas isso não a impede de ser independente e dirigir e ser independente. Com adaptações no veículo e usando os pés, ela tirou habilitação assim que completou a maioridade.

"Desde muito cedo meus pais me incentivavam muito, sabe, a aprender a fazer as coisas sozinha. Conforme eu fui crescendo, fui aprendendo a comer sozinha, a cuidar do meu cabelo e depois mais velho aprendi a cozinhar. Quando eu tinha 18 anos eu vi minhas amigas começando a tirar a CNH e eu senti muita vontade também. Sempre gostei muito de carro, via meu pai dirigindo e tinha vontade de aprender", conta.

O primeiro contato com um volante foi no carro da família, um Del Rey. Morando em um sítio no interior do Paraná, foi com a ajuda do pai e do então namorado - que hoje é seu marido - que a influenciadora começou a aprender a dirigir com os pés.

"Eu ficava observando eles dirigirem e pedi para me explicarem como tudo funcionava. Até que um dia eu decidi tentar. Percebi que conseguiria segurar o volante com a perna esquerda e com a direita controlar o acelerador, freio e embreagem. Meu marido ia mudando as marchas e eu consegui dirigir pela primeira vez", recorda.

Com a certeza que poderia dirigir, tendo como única necessidade que fosse um veículo automático, o próximo passo foi buscar uma autoescola. Porém nesse momento, ela esbarrou em algumas dificuldades.

"A primeira autoescola que fui me disse que eu não podia dirigir e, se um dia eu conseguisse, precisaria de muitas adaptações no carro, e que dificilmente uma autoescola teria um carro assim para me atender", conta.

Inconformada com a notícia, Dani passou a pesquisar sobre o processo para tirar habilitação e viu que poderia fazer as aulas práticas usando um veículo próprio. Foi quando ela comprou um carro automático e buscou outra autoescola.

"Passei por um perito do Detran e ele avaliou ali que, realmente, a única dificuldade que eu tinha era com a marcha e poderia fazer as aulas no carro automático. Fiz o cadastro do meu carro junto a autoescola para que eu pudesse fazer as aulas com ele e dessa vez fui tratada de maneira bem inclusiva", relata.

Dani fez as aulas e prova teórica e depois foi para a fase prática, com aulas e a avaliação. Em todas ela passou de primeira e conseguiu tirar a habilitação.

"Hoje eu falo que a minha CNH é uma das minhas maiores conquistas. Primeiro pela luta que foi para conseguir tirar e segundo porque é o que me dá realmente a independência e autonomia que eu sempre quis. Hoje eu pego o carro e eu vou para as cidades vizinhas sozinha e passo o dia for, às vezes resolvendo as coisas. Para mim é muito libertador", finaliza.

O processo para tirar habilitação

No Brasil, qualquer pessoa acima de 18 anos pode solicitar a CNH, desde que cumpra os requisitos exigidos pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). O direito de dirigir também é garantido pela Resolução 267 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) às pessoas com deficiência, seja ela intelectual ou motora.

O processo de habilitação segue os mesmos trâmites que os demais candidatos, mas com algumas especificidades. Primeiro, a pessoa com síndrome de Down deve passar por exames realizados por profissionais credenciados pelo Detran. O laudo médico indicará se há necessidade de adaptações no veículo. Não há cobrança de nenhuma taxa extra para isso.

Depois, o processo segue o mesmo padrão de aulas teóricas e práticas. É necessário fazer o curso teórico em uma autoescola credenciada e ser aprovado na prova escrita.

Concluída essa etapa, o candidato inicia as aulas práticas, que podem ser feitas em um veículo adaptado, caso seja necessário.

Por fim, a pessoa é avaliada por um examinador do Detran para testar sua capacidade de dirigir o veículo com segurança.

Caso a avaliação médica indique alguma limitação motora ou cognitiva que exija adaptação no veículo, a pessoa pode obter uma CNH especial, que constará as necessidades daquele motorista.

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