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Ações para comprar e vender nos próximos meses pós-tarifas do Trump

do UOL

Colunista do UOL

03/04/2025 14h01

Donald Trump sacudiu os mercados globais ao anunciar o "tarifaço do Dia da Libertação" ontem, com taxas que variam de 10% a 50%, afetando tanto inimigos quanto aliados dos EUA. A China foi uma das mais impactadas, com uma taxa de 34%, que, somada à tarifa anterior de 20%, eleva a taxação real para 54%. O país já ameaçou retaliar.

Aliados como Japão (24%), Israel (17%) e Coreia do Sul (25%) também foram atingidos. O Vietnã terá uma tarifa de 46%, enquanto a União Europeia enfrentará 20%. O Brasil foi menos penalizado, recebendo a taxa mínima de 10%.

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As novas tarifas para produtos brasileiros entram em vigor no sábado (5), mas algumas cobranças específicas, como a de 25% sobre carros começaram hoje, e autopeças serão taxadas a partir de 3 de maio. O aço e o alumínio já enfrentam uma taxa de 25% desde março.

Especialistas indicam que o Brasil pode se beneficiar exportando mais para mercados afetados, como China e outros países asiáticos. Mas diante dessa guerra comercial, quais setores e ações da bolsa podem ganhar ou perder? Descubra nesta coluna.

Situação amena para o Brasil

Um levantamento da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) e da fintech Vixtra analisou os 10 produtos mais exportados pelo Brasil aos EUA em 2024 para entender o impacto da tarifa de 10%.

O Brasil exportou US$ 40,33 bilhões para os EUA e importou US$ 40,6 bilhões, gerando um superávit de US$ 300 milhões para os americanos, segundo Leonardo Baltieri, cofundador da Vixtra. Ele destaca que esse fluxo comercial se mantém e se complementa porque o Brasil vende commodities e produtos primários e os EUA fornecem bens industrializados e tecnológicos.

Para José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB, a tarifa de 10% não é um grande problema, mas o alto custo de produção brasileiro sim. Ele sugere que o Brasil pode ocupar mercados afetados pelas tarifas de Trump, como a China e o Sudeste Asiático, desde que reduza seus custos internos. Além disso, considera injusto que commodities e manufaturados sejam taxados igualmente e acredita que isso possa ser negociado.

Já a taxa de 25% sobre carros não afeta o Brasil, pois o país não exporta veículos para os EUA há anos, devido à concorrência chinesa. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) confirmou ao UOL que essa tarifa não impacta diretamente os fabricantes brasileiros, dado que não "exportam regularmente veículos aos EUA".

Quanto às autopeças, o efeito é leve, já que os EUA representaram 17,5% das exportações do setor em 2024, totalizando US$ 1,37 bilhão, segundo Baltieri.

Setores como siderurgia, mineração, agronegócio e celulose podem encontrar novas oportunidades ao exportar para mercados alternativos, como a China. Além disso, Castro vê boas perspectivas para a indústria brasileira de calçados, que pode se beneficiar da perda de competitividade da China, cuja taxa subiu para 34%.

Ações e setores mais impactados pelas tarifas de Trump

O setor de bens de capital deve ser um dos mais afetados, especialmente empresas que vendem para os EUA e dependem de um mercado americano aquecido. Fernando Marx, contribuidor do TC, cita Tupy (TUPY3), Iochpe Maxion (MYPK3) e Randon (RAPT4) como impactadas. "Elas são afetadas tanto por vender aos Estados Unidos como por um mercado americano mais fraco, que deve desacelerar após as tarifas", afirma.

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, destaca ainda Weg (WEGE3), Aeris (AERI3) e Metal Leve (LEVE3). Segundo ele, "a Weg é uma empresa muito robusta, então deve sentir os efeitos das tarifas em uma proporção menor, até por ter parques de geração instalados".

No setor de commodities, as produtoras de etanol também podem sofrer, segundo Marx, pressionando Raízen (RAIZ3), Jalles Machado (JALL3) e São Martinho (SMTO3). O Bradesco BBI acredita que o Brasil conseguirá absorver a oferta adicional no mercado doméstico, sendo neutro para SMTO3 e recomendando compra para JALL3. O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos EUA, com produção de 36,8 bilhões de litros em 2024.

Nas petroleiras, a queda do petróleo nos próximos meses preocupa mais do que as tarifas de Trump. O petróleo Brent já recuou, por volta das 12h, para US$ 69,59 e o WTI para US$ 66,12 devido as taxas dos EUA e aumento de produção de petróleo por oito países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+).

Ivan Stamborowski, analista CFA da Oby Capital, lista Petrobras (PETR4), Prio (PRIO3), Brava (BRAV3) e Petrorecôncavo (RECV3) como afetadas. "Prio exporta quase tudo, mas seu principal cliente é a China. O impacto maior seria pela queda do petróleo, mas dentro do setor ela tem o melhor perfil de fluxo de caixa e sofre menos", explica. Para as demais, o impacto maior seria na desvalorização das ações e na possível redução dos dividendos da Petrobras caso o Brent fique abaixo de US$ 70 por muito tempo. Coincidentemente as petroleiras operam hoje em queda.

Entre as empresas de proteína animal, Minerva (BEEF3) pode sentir o maior impacto no curto prazo, pois 15% de suas vendas vêm dos EUA, segundo o Goldman Sachs. No entanto, a companhia pode redirecionar exportações para Uruguai e Argentina. Já JBS (JBSS3) vende 7% de carne suína e 13% de frango para os EUA, mas divide opiniões: alguns analistas acreditam que sua produção nos EUA pode compensar as tarifas, como aponta Renato Reis, analista da Blue3 Research.

Outras ações que podem ser impactadas são a CSN (CSNA3), CBA (CBAV3) e, fora do radar setorial, Ambev (ABEV3).

Apesar da visão negativa, Reis acredita que muita coisa já foi colocada no preço e rebalancear a carteira no curto prazo não deve ser algo tão vantajoso. Para o analista é importante acompanhar os efeitos dessas tarifas nos resultados trimestrais futuros.

Ações que podem se beneficiar e vale a pena comprar

A XP indica uma cesta de seis ações que podem aproveitar as mudanças no comércio global. Empresas favorecidas pela migração da demanda chinesa por grãos dos EUA para o Brasil incluem SLC Agrícola (SLCE3), BrasilAgro (AGRO3) e Rumo (RAIL3).

A Unipar (UNIP6) deve se beneficiar de um dólar mais forte nos próximos meses, segundo a XP. Já a mineradora Aura Minerals (AURA33) pode ser uma alternativa para investidores buscando proteção contra a inflação global, por sua exposição ao ouro.

Com o aumento do preço do aço nos EUA, Gerdau (GGBR4) pode escapar das tarifas por ter sede americana e ainda pagar bons dividendos, aponta Queiroz, da L4 Capital. No entanto, Fernando Marx, do TC, alerta que uma piora na economia americana pode limitar esses ganhos na Gerdau.

Reis, da Blue3 Research, está otimista com Gerdau, JBS e Portobello (PTBL3), porque têm uma produção relevante nos EUA. "Vão ficar mais competitivas em relação ao resto do mundo, a cotação pode melhorar se o lucro avançar e com isso também há crescimento dos dividendos", avalia. Mas faz a ressalva que caso a cotação avançar demais, o dividend yield (retorno em dividendos) será moderado.

Diante da possibilidade de um aumento na demanda chinesa por aço e minério, Queiroz aposta em Vale (VALE3), CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3) e Usiminas (USIM5). Mesmo com a tarifação de 25%, ele destaca que a China está taxada em 54% no total, dando vantagem às empresas brasileiras. Para CSN e Usiminas, a estratégia é valorização das ações, enquanto Vale, Gerdau e CSN Mineração são mais interessantes para dividendos.

Rafael Passos, sócio da Ajax Asset, acredita que setores como celulose, papel e mineração serão pouco afetados e podem se beneficiar pelo aumento do fluxo de commodities para a China. "Se abre um espaço maior para o Brasil, que pode encontrar uma saída estratégica para o mundo", diz. Ele cita Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11), Vale, CSN Mineração e CBA (CBAV3) como potenciais ganhadoras.

Outras empresas que podem aproveitar as oportunidades são Boa Safra (SOJA3) e Três Tentos (TTEN3).

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