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EUA vão taxar todos os produtos brasileiros em ao menos 10%, anuncia Trump

do UOL

Do UOL, em São Paulo, e colunista do UOL, em Nova York

02/04/2025 17h13Atualizada em 02/04/2025 19h19

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou hoje um "tarifaço" global sobre impostos de importação, com os produtos brasileiros sendo taxados em ao menos 10%. A data foi nomeada pelo republicano como o "Dia de Libertação".

Ele anunciou sua nova política comercial, adotando a regra da reciprocidade entre os países. Para isso, portanto, adotará critérios de como os produtos americanos são taxados no exterior. A meta é a de começar a corrigir o déficit de US$ 1,2 trilhão que o país soma com o resto do mundo.

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O que aconteceu

EUA vão impor tarifa de 25% sobre todos os carros importados a partir de 3 de abril. Já as autopeças serão taxadas a partir de 3 de maio. Hoje, a taxa é de 2,5%.

A forma de calcular a taxa aos países será a de aplicar tarifas que representam metade do que os bens americanos são taxados. Por exemplo, o Japão coloca impostos de 46% em média contra bens americanos. A partir de agora, os americanos colocarão impostos de 24% sobre os bens japoneses. A lógica será usada com as demais nações.

O piso, no entanto, é de 10%. Essa é a tarifa aplicada ao Brasil, por exemplo. Segundo as contas da Casa Branca, a médias das tarifas brasileiras aos EUA é também de 10%.

Durante o anúncio do tarifaço, Trump usou uma tabela para demonstrar as novas taxas aos países e a União Europeia.

Veja alguns dos países taxados por Trump:

  • Alemanha - 10%
  • Arábia Saudita - 10%
  • Argentina - 10%
  • Austrália - 10%
  • Bolívia - 10%
  • Brasil - 10%
  • China - 34%
  • Colômbia - 10%
  • Equador - 10%
  • El Salvador - 10%
  • Egito - 10%
  • Emirados Árabes Unidos - 10%
  • Índia - 26%
  • Israel - 17%
  • Japão - 24%
  • Noruega - 15%
  • Nova Zelândia - 10%
  • Peru - 10%
  • Reino Unido - 10%
  • Sérvia - 37%
  • Suíça - 31%
  • Turquia - 10%
  • Ucrânia - 10%
  • União Europeia - 20%
  • Uruguai - 10%
  • Venezuela - 15%
  • Vietnã - 46%

Clique aqui e confira a lista completa de países taxados pelo republicano.

Para fazer o cálculo da média de 10% que o Brasil teoricamente cobra, os americanos calcularam não apenas as tarifas aplicadas pelo Brasil. Também foi contabilizada a barreira não tarifária, obstáculos tributários e outras medidas que dificultam as vendas de bens dos EUA no mercado nacional, além da exigência de licenças de importação para o setor agrícola.

O anúncio deixou o setor privado brasileiro com um sentimento misto. "É ruim, mas é bom", afirmou um negociador das empresas nacionais. O ponto positivo é que outros terão tarifas mais altas e que o Brasil ficou no piso adotado pela Casa Branca.

Nos bastidores, membros do governo brasileiro se queixaram do fato de que o cálculo de Trump não considera que os EUA aplicam uma tarifa de 40% sobre calçados do país e 81% sobre o açúcar, por exemplo.

A perspectiva é de que, quem negociar primeiro, acabará tendo vantagens no mercado americano. Retaliações, portanto, não seriam o caminho mais óbvio para o Brasil. O temor é de que outros ofereçam acordos mais favoráveis aos bens americanos.

Nem os aliados mais próximos de Trump foram poupados. A Argentina terá impostos de 10%, o mesmo do Brasil. Israel receberá tarifas de 17%. El Salvador, outro país alinhado com a Casa Branca, também será afetado em 10%. Já a Venezuela, considerada como inimiga, terá uma tarifa de 15%.

O anúncio

Republicano definiu o decreto como histórico e afirmou que o tarifaço é uma ação "recíproca" com os outros países, que ele diz estarem roubando os EUA. "Agora é a nossa vez de ficarmos prósperos. A nossa dívida será paga e tudo isso ocorrerá de forma muito rápida", disse, acrescentando que irá fazer os "EUA ricos novamente", retomando o "sonho americano". O anúncio foi feito em um evento, aberto a algumas pessoas e à imprensa, em um dos jardins da Casa Branca.

Em discurso, ele afirmou que, por décadas, outros países impunham tarifas altíssimas aos EUA, "inclusive com barreira não monetárias para dizimar a nossa indústria". O presidente norte-americano comentou que, em muitos casos, as limitações não monetárias eram piores que as monetárias: "Eles manipularam as suas moedas, subsidiaram as suas exportações, roubaram nossa propriedade intelectual e impuseram taxas absurdas com regras injustas", acrescentou.

Trump usou o anúncio para atacar líderes estrangeiros por estarem "roubando" os EUA, indicando que a agricultura americana estaria sendo "brutalizada" por outros países, mas que a partir de agora ela será reforçada. "Será, de fato, a era de ouro dos EUA voltando. Estamos voltando muito fortes."

Agora não é tarde demais. Nós começaremos a ser mais espertos, inteligentes, e voltaremos a ser ricos. Porque tanto da nossa riqueza foi tirada de nós e não podemos deixar isso acontecer. Nós podemos ser tão ricos, mais que qualquer outro país. Mas precisamos ficar espertos porque os EUA não podem ficar com tarifas unilaterais, nessa rendição econômica.
Donald Trump, ao anunciar as tarifas

Trump ainda declarou que suas tarifas recíprocas são "gentis" e poderiam ter sido muito mais altas. Ele chamou as taxas de "tarifa recíproca descontada". Após o anúncio, o presidente estadunidense assinou duas ordens executivas que contribuem para consolidar as novas políticas tarifárias.

Desde o início da semana, o governo Trump tem feito sinalizações ao setor empresarial norte-americano e ao mercado financeiro. A gestão reforçou que o objetivo do tarifaço é forçar países a negociar uma maior abertura aos produtos norte-americanos.

Mais cedo, autoridades da Itália, da França e do Reino Unido começaram a discutir sobre possíveis respostas ao anúncio. Ontem, o Senado brasileiro aprovou um projeto de lei que estabeleceu mecanismos de reação, apesar de não citar diretamente os EUA.

Brasil seguirá negociando com os EUA

O colunista do UOL Jamil Chade apurou que o governo brasileiro continuará a negociar com os EUA, mesmo após o anúncio das tarifas. Num telefonema hoje, o chanceler Mauro Vieira e o representante de Comércio da Casa Branca, Jamieson Greer, estabeleceram que, depois de conhecer a taxa que será aplicada sobre o Brasil, as equipes dos dois países irão se reunir na próxima semana para continuar a negociar e tentar obter um acordo. Na conversa, foram ainda tratados temas como a tarifa ao aço.

A aposta pelas negociações era o caminho preferido pelo Brasil, com a tentativa de acertar uma redução de tarifas, cotas e isenções. Como o UOL revelou anteontem, não existem esperanças por parte do governo Lula e nem do setor empresarial de que o Brasil possa ser poupado do tarifaço.

Caso necessário, o Itamaraty considera que tem espaço legal para elevar as tarifas para os produtos americanos, sem violar os compromissos do país na OMC (Organização Mundial do Comércio). Pelas regras, o Brasil poderia subir as taxas para até 35%, sem incorrer em uma ilegalidade nos tratados. Um dos problemas é que tal medida poderia afetar as próprias empresas nacionais, que dependem desses produtos americanos. Uma das saídas, portanto, seria uma retaliação em serviços, remessas de royalties por empresas americanas e até no setor de propriedade intelectual.

O Brasil não está entre os maiores responsáveis pelo déficit americano. De fato, por anos, foram os EUA que tiveram vantagem no comércio. Ainda assim, nas conversas bilaterais, os americanos se queixaram de um tratamento injusto sobre o etanol dos EUA e barreiras como o sistema tributário.

Um terceiro caminho, ainda que simbólico, seria levar a disputa para a OMC. Governos como o do Canadá já adotaram a medida e a iniciativa teria como objetivo demonstrar que o Brasil atua pelas regras do comércio, e não por vias unilaterais. Mas com os mecanismos de solução de disputas inoperantes, qualquer ação na OMC levaria anos para trazer qualquer resultado.

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