Juiz arquiva acusações de corrupção contra prefeito de Nova York
Um juiz arquivou, nesta quarta-feira (2), as acusações de corrupção contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, e fechou as portas para uma possível reabertura do caso, como pediu o Departamento de Justiça (DOJ) de Donald Trump, que alegou que o processo afetava a luta contra a imigração na cidade.
Em um documento de 78 páginas, o juiz Dale Ho do Tribunal do Distrito Sul de Nova York concordou em "conceder" a moção proposta pelo DOJ para rejeitar as acusações por corrupção contra o prefeito, que corria o risco de ir a julgamento a partir de abril.
Adams era acusado de financiamento ilegal de campanha política e de receber subornos de funcionários e empresários da Turquia.
Mas o mais importante para o prefeito: o juiz fechou a porta que o DOJ pretendia deixar aberta para retomar o caso no futuro.
"O DOJ não está buscando encerrar esse caso de uma vez por todas. Em vez disso, seu pedido, se deferido, deixaria o prefeito Adams aberto a uma nova acusação a qualquer momento e por qualquer motivo", argumentou o juiz.
Isso criaria "a inevitável percepção" de que o prefeito "ainda pode estar mais em dívida com as exigências do governo federal do que com as vontades de seus eleitores" para realizar as políticas antimigração de Trump em Nova York, até então um santuário da imigração que limitava a cooperação com as autoridades migratórias.
A ordem da administração do republicano em meados de fevereiro provocou um terremoto político e a renúncia de diversos promotores de Nova York e Washington, entre eles a titular em exercício do tribunal nova-iorquino Danielle Sassoon, designada por Trump por considerar que "equivalia a um quid pro quo".
- "Cheiro de acordo" -
O número dois do DOJ, Emil Bove, que foi advogado de Trump no único caso que o levou ao banco dos réus pelo pagamento à ex-atriz de cinema pornô Stormy Daniels, argumentou que o processo contra o prefeito o impedia de combater a imigração irregular na cidade de 8,5 milhões de habitantes e interferia em sua campanha para a reeleição em novembro deste ano.
"Hoje viramos uma página" em um caso "sem fundamento que nunca deveria ter chegado aos tribunais", celebrou Adams, outrora uma das figuras em ascensão do Partido Democrata, que se considerava o "Biden do Brooklyn" (em referência ao presidente democrata Joe Biden).
O prefeito, que antes de entrar na política foi capitão da polícia de Nova York, cortejou o magnata republicano desde sua vitória nas eleições de novembro.
Após se reunir com Thomas Homan, o czar das fronteiras de Trump, em fevereiro, Adams assinou uma ordem executiva permitindo, no mês seguinte, que agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE) tivessem acesso à prisão de Rikers Island ? um ato que, segundo o juiz, "parece ser contrário à lei da cidade de Nova York", que recebeu mais de 200 mil imigrantes desde a primavera de 2022.
"Isso tudo tem cheiro de um acordo: arquivamento da acusação em troca de concessões na política de imigração", disse o juiz, esclarecendo que sua decisão "não se refere a se o prefeito Adams é inocente ou culpado".
Ho, que tentou resistir ao máximo à decisão das autoridades de Washington, afirmou que sua função "é lançar luz sobre as razões pelas quais o DOJ decidiu arquivar este caso, deixando o julgamento mais importante para o público".
Desde que foi formalmente acusado em setembro passado, Adams manteve sua inocência e se recusou a renunciar, apesar de muitos de seus colaboradores terem se afastado, incluindo quatro de seus principais adjuntos.
Apenas a governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, também democrata, tem o poder de destituí-lo, mas até agora resistiu a fazê-lo.
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