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Dia da Libertação: Trump anuncia novas tarifas que terão impacto no comércio global e no Brasil

02/04/2025 07h31

O presidente americano, Donald Trump, deve anunciar nesta quarta-feira (2) um novo pacote de tarifas sobre importações, intitulado de "Liberty Day" (Dia da Libertação). As medidas visam estabelecer taxas recíprocas a países que já aplicam impostos sobre produtos dos Estados Unidos. Embora o Brasil não esteja entre os principais alvos dessa nova política tarifária, os impactos podem ser significativos, afetando tanto as exportações quanto o mercado interno do país. 

O presidente americano, Donald Trump, deve anunciar nesta quarta-feira (2) um novo pacote de tarifas sobre importações, intitulado de "Liberty Day" (Dia da Libertação). As medidas visam estabelecer taxas recíprocas a países que já aplicam impostos sobre produtos dos Estados Unidos. Embora o Brasil não esteja entre os principais alvos dessa nova política tarifária, os impactos podem ser significativos, afetando tanto as exportações quanto o mercado interno do país. 

Luciana Rosa correspondente da RFI em Nova York

Trump definiu ontem os últimos detalhes deste um novo pacote de tarifas comerciais "recíprocas", que devem entrar em vigor na quarta-feira (2). O anúncio oficial está previsto para acontecer durante uma cerimônia no Jardim das Rosas, na Casa Branca. 

A secretária de imprensa do governo, Karoline Leavitt, confirmou o cronograma em entrevista coletiva na terça-feira (1°). Segundo ela, Trump passou os últimos dias reunido com sua equipe econômica trabalhando nas medidas, que têm como objetivo combater o que ele chama de "décadas de práticas comerciais desleais".

Questionada sobre o risco de que as tarifas possam ser uma estratégia equivocada, Leavitt foi categórica: "Não haverá erro. Vai funcionar". 

Nas últimas semanas, o governo americano analisou diferentes modelos de taxação sobre importações. Uma das propostas avaliadas foi a imposição de uma tarifa fixa de 20% sobre todos os produtos estrangeiros, o que, segundo assessores, poderia gerar mais de US$ 6 trilhões (cerca de R$ 34 trilhões) em arrecadação para os Estados Unidos. 

Em conversa com jornalistas no Salão Oval, Trump afirmou que os Estados Unidos serão "gentis" ao aplicar as novas tarifas, que afetarão uma ampla lista de países, incluindo nações aliadas. "O que eles fazem conosco, nós faremos com eles", justificou o líder republicano. 

A porta-voz da Casa Branca revelou ainda que diversos governos estrangeiros tentaram contatar Trump para discutir a medida, mas reforçou que o presidente americano preferiu não conversar com ninguém. Segundo ela, o presidente americano está priorizando os interesses dos Estados Unidos. 

O que esperar do anúncio 

No dia 13 de fevereiro, Trump já havia assinado um memorando instruindo as autoridades comerciais americanas a revisar as tarifas aplicadas por cada país e estabelecer medidas de retaliação específicas. Na semana passada, após anunciar novos impostos para o setor automotivo, Trump indicou que muitas dessas medidas poderão ser mais brandas do que o esperado. "Vamos tornar isso muito flexível. Acho que as pessoas ficarão surpresas. Em muitos casos, será menor do que as tarifas que nos cobraram por décadas", declarou Trump a jornalistas.

Em 2024, os Estados Unidos importaram US$ 1,2 trilhão (cerca de R$ 6 trilhões) a mais do que exportaram, atingindo um recorde no déficit comercial ? um dos principais alvos da nova política tarifária. Segundo o jornal Washington Post, a equipe econômica de Trump elaborou um plano que prevê tarifas de aproximadamente 20% sobre a maioria dos US$ 3 trilhões (cerca de R$ 15 trilhões) em bens importados anualmente pelo país.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que as nações mais afetadas serão aquelas que contribuem significativamente para o déficit comercial americano e impõem as maiores taxas sobre produtos dos Estados Unidos. Ele classificou essas nações como os "Dirty 15" (os 15 sujos).

Embora a Casa Branca ainda não tenha divulgado uma lista oficial, o Wall Street Journal identificou os países com os maiores déficits comerciais com os Estados Unidos. No topo da lista estão China, União Europeia, México e Canadá, seguidos por nações asiáticas como Vietnã, Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Tailândia, Malásia, Camboja e Indonésia. Também aparecem Suíça, Índia e África do Sul, ambos membros do Brics.

Apesar de Trump ter mencionado o Brasil ao falar sobre tarifas de reciprocidade em um discurso no Congresso, o país não estaria entre os 15 mais afetados pela medida.

Brasil: impactos e previsões

Economistas apontam que o Brasil mantém tarifas de importação relativamente altas para diversos produtos americanos, enquanto as taxas aplicadas pelos Estados Unidos sobre mercadorias brasileiras são significativamente menores. Com essa diferença, Brasília pode entrar no foco da política comercial americana.

Washington é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, 12% das exportações brasileiras tiveram como destino os Estados Unidos, totalizando US$ 40,4 bilhões (cerca de R$ 202 bilhões). No mesmo período, 15,5% das importações brasileiras vieram dos Estados Unidos, somando US$ 40,7 bilhões (aproximadamente R$ 204 bilhões). Com isso, o saldo comercial entre os dois países foi praticamente equilibrado, enquanto a corrente de comércio representou 3,6% do PIB brasileiro no último ano.

Entre os principais produtos exportados para os Estados Unidos estão óleos brutos e combustíveis de petróleo, ferro e aço, aeronaves, café e celulose. Já nas importações, o Brasil é altamente dependente de motores e máquinas não elétricos, combustíveis, aeronaves e gás natural americanos.

Embora os Estados Unidos sejam um parceiro comercial essencial, o Brasil historicamente impôs tarifas elevadas sobre produtos americanos. Segundo o Banco Mundial, a tarifa média brasileira em 2022 foi de 11,3%, com taxas mais altas para bens de consumo e quase zeradas para combustíveis. Em contraste, os Estados Unidos aplicam tarifas médias de apenas 2,2% sobre produtos brasileiros, com valores um pouco maiores para bens de consumo, mas quase nulos para bens de capital e combustíveis.

Caso os Estados Unidos adotem o modelo de tarifas recíprocas, igualando as taxas cobradas pelo Brasil, os impactos poderiam ser significativos. De acordo com uma estimativa do Bradesco, a taxação média americana sobre produtos brasileiros saltaria de 2,2% para 11,3%, o que resultaria em uma redução de cerca de US$ 2 bilhões (aproximadamente R$ 10 bilhões) nas exportações brasileiras ? uma queda de 5% no total exportado.

Além disso, para compensar essa perda, o real poderia sofrer uma depreciação de cerca de 1,5%, com um impacto potencial ligeiramente inferior a 0,1 ponto percentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como reflexo da desvalorização cambial.

Reações do mercado e possíveis consequências globais

Os mercados financeiros já estão reagindo negativamente às incertezas em torno dessas novas tarifas. Jay Woods, estrategista-chefe da Freedom Capital Markets, disse ao canal CNBC que a falta de clareza tem causado pânico no mercado. Ele acrescentou, no entanto, que "manter a perspectiva correta é essencial diante das correções recentes". 

Além disso, há especialistas apontando que o aumento dos preços devido às tarifas pode impulsionar a inflação nos Estados Unidos e em outros países. O analista econômico do Bankrate, Mark Hamrick, também alerta que "os riscos de recessão aumentam tanto para os Estados Unidos quanto globalmente" se uma guerra comercial se concretizar.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, trabalha com a possibilidade de retaliação caso os Estados Unidos imponham tarifas generalizadas. Ela afirmou que, embora a Europa prefira negociar, está pronta para responder, utilizando seu poder comercial, tecnológico e de mercado. "A Europa não começou esse confronto. Não queremos necessariamente retaliar, mas, se for necessário, temos um plano sólido e iremos utilizá-lo", indicou Von der Leyen.

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