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Auxiliar de creche é julgada na França após bebê de 11 meses morrer por ingestão de soda cáustica

Bandeira da França na Torre Eiffel, em Paris - Mehdi Taamallah/NurPhoto via Getty Images
Bandeira da França na Torre Eiffel, em Paris Imagem: Mehdi Taamallah/NurPhoto via Getty Images

02/04/2025 13h38

Os jornais franceses relatam nesta quarta-feira (2) o primeiro dia do julgamento de mais um crime sórdido ocorrido na França: uma auxiliar de creche de um grupo privado em Lyon (sudeste) é acusada de matar um bebê de 11 meses depois de obrigá-lo a ingerir uma quantidade substancial de Destop, um desentupidor de ralo à base de soda cáustica.

O jornal Le Figaro descreve o sofrimento atroz de Lisa, a criança que agonizou durante quatro horas antes de morrer em 22 de junho de 2022, vítima de queimaduras que destruíram seus órgãos internos.

Diante do tribunal do júri de Lyon, a assistente de creche Myriam Jaouen, 30 anos, reconheceu na terça-feira (1), no primeiro dia do julgamento, ter feito o bebê beber o produto letal, mas negou ter tido a intenção de matá-la.

A ré pode ser condenada à prisão perpétua por assassinato de menor de 15 anos, em um veredicto que será anunciado na quinta-feira (3).

No dia da tragédia, quando o pai de Lisa a deixou na creche "Danton Rêve", do grupo privado "People & Baby", a acusada era a única auxiliar presente no estabelecimento. Em seu depoimento, Myriam disse ter ficado irritada com o choro persistente do bebê, enquanto ela estava ocupada olhando um penteado para os cabelos no telefone celular.

"Perdi a cabeça", admite auxiliar

Myriam alegou "ter perdido a cabeça" com o choro. Entretanto, fazia apenas cinco minutos que o pai tinha deixado a criança no local, quando ela teve a ideia de silenciar o bebê, fazendo a menina engolir uma garrafa cujo conteúdo ela desconhecia, de acordo com suas declarações iniciais. Depois, Myriam admitiu que sabia que era um frasco de Destop, mas insistiu que achava que o dano à menina seria pequeno.

A dor desesperadora das queimaduras se manifestou tão rápido, que Myriam passou a procurar na internet o que fazer depois de uma criança ingerir o produto tóxico. Às colegas de trabalho que chegaram minutos depois na creche, Myriam disse que a criança tinha bebido tinta guache. Elas perceberam que a versão era mentirosa e chamaram uma ambulância. Transportada para um hospital próximo, Lisa não resistiu às queimaduras internas.

O Destop agiu como um fogo na boca e no trato respiratório do bebê, perfurando seu estômago e intestinos. Lisa morreu três horas depois de chegar ao pronto-socorro do hospital Bron. Os intensivistas não puderam fazer nada para lidar com as 'enormes' queimaduras químicas descreve o jornal Le Parisien

Myriam foi detida pela polícia na tarde dos acontecimentos, quando passeava em um parque de Lyon, e teve prisão provisória decretada. A creche "Danton Rêve" foi fechada.

"Erro de recrutamento", diz diretora da creche

As investigações do caso revelaram que a auxiliar de creche não demonstrou em qualquer momento empatia pelo sofrimento da criança, tendo ficado mais preocupada com a possibilidade de perder o emprego.

No laudo psiquiátrico apresentado à Justiça, Myriam é descrita por um ex-companheiro como "uma pessoa impulsiva". Ela sofre de uma "deficiência intelectual de leve a moderada" e tem "uma tendência à mitomania e à fabulação". A trajetória escolar da ré foi marcada por notas baixas, o que a impediu de avançar nos estudos. Myriam obteve apenas um diploma profissionalizante de ensino médio para trabalhar como auxiliar de creche.

No momento do crime, já fazia cerca de dez anos que a francesa trabalhava com crianças, mas sem registro de incidentes. No entanto, a diretora da creche na época dos fatos reconheceu no tribunal, nesta quarta-feira, que Myriam era impaciente com bebês. Outros pais já tinham se queixado que a auxiliar não tinha jeito para cuidar de crianças.

Essa tragédia contribuiu para conscientizar as autoridades francesas sobre problemas de funcionamento das creches privadas, principalmente as microcreches, que acolhem no máximo 12 crianças e contam com uma legislação menos rigorosa do que as adotadas nas creches públicas.

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