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'Embaraço diplomático': espionagem é comum, mas abala relação com Paraguai

Lula e o presidente do Paraguai, Santiago Peña - Pedro Ladeira/Folhapress
Lula e o presidente do Paraguai, Santiago Peña Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
do UOL

Do UOL, em São Paulo

02/04/2025 05h30Atualizada em 02/04/2025 11h41

O UOL apurou que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) executou uma ação de hacker contra autoridades do governo do Paraguai. O governo Lula (PT) nega que isso tenha ocorrido durante sua gestão. A atitude gerou uma crise diplomática com o país vizinho, já que o governo do Paraguai decidiu convocar de volta ao país seu embaixador no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, e pedir explicações detalhadas ao governo brasileiro sobre a ação.

Presidente do Paraguai é conservador e não tem problemas com Lula. O presidente brasileiro estava presente na posse de Santiago Peña, em 2023. Em uma de suas vindas ao Brasil, para discutir questões estratégicas com o governo, Peña declarou que considera Lula um dos políticos mais importantes da atualidade.

O que pode acontecer

Governos utilizam investigações digitais para obter informações sobre países vizinhos ou parceiros. Segundo Vinícius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da FAAP e da FGV, essa é uma prática comum. "O meio digital é um velho oeste. É ingenuidade achar que países não vão tentar obter informações que possam ser relevantes em negociações", diz.

Contudo, ele reforça que é necessário que isso seja feito de forma a não abalar as relações diplomáticas. A prática não é declarada. Segundo Vieira, essas investigações são realizadas dentro dos limites da lei de cada país. "Outra ingenuidade, para mim, é achar que um serviço secreto —e o Brasil tem um bom— não tem capacidade de engajar em mecanismos de espionagem cibernética", explica.

Brasil e Paraguai mantêm uma boa relação diplomática. O professor de direito internacional Manuel Furriela ressalta que, historicamente, o Brasil sempre optou por manter boas relações diplomáticas, mesmo quando o mundo se dividiu entre capitalismo e socialismo. No entanto, essa atitude pode abalar o relacionamento entre os governos. "Além de sermos parte do Mercosul, construímos com o Paraguai a maior usina hidrelétrica do mundo, Itaipu. Realizamos muitos projetos em conjunto, por isso essa ação envolvendo um hacker é tão grave", diz.

Estamos diante de um 'embaraço diplomático'. Para Vieira, a situação se torna ainda mais delicada devido às informações que o governo brasileiro supostamente tentou obter. "Causa um embaraço diplomático. É inegável que o Paraguai é um país amigo, e o fato de o Brasil ter buscado informações para aumentar seu poder de barganha torna tudo mais complicado", explica.

Paraguai sempre teve ressalvas sobre o acordo de Itaipu. O Brasil construiu sozinho a represa, mas divide a energia com o Paraguai —e a negociação só pode ser feita bilateralmente. As tarifas são objeto de disputa comercial há anos.

Espionagem dos EUA no Brasil causou mal-estar no governo Dilma. Segundo Furriela, foi descoberto que o governo Obama espionou o Brasil. "Isso abalou a relação dele com a nossa presidente. Questões envolvendo hackers podem ser ainda mais graves, pois significam que a busca era por acesso a dados sensíveis e que pode ter ocorrido manipulação de informações —algo que não acontece na espionagem tradicional", afirma.

Não há risco de crise energética. Mesmo com o possível abalo na confiança entre os dois países, Furriela não acredita que possa haver uma crise energética. "O Brasil pode usar metade da produção da usina, e o Paraguai, a outra metade. Além disso, não há alternativas contratuais para nosso vizinho além da venda de energia para nós. Eles ganham muito dinheiro com essa transação", conclui.

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