Paraguai convoca embaixador do Brasil a dar 'explicações' por espionagem
O Paraguai convocou, nesta terça-feira (1º), o embaixador brasileiro em Assunção para que dê "explicações" e chamou para consultas seu representante em Brasília devido a uma operação de espionagem reconhecida na segunda-feira pelo Brasil, mas que o governo do presidente Lula atribui a seu antecessor.
A espionagem tinha como objetivo conhecer a posição paraguaia nas negociações entre os países ? agora suspensas ? sobre o preço da energia da Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional, segundo revelou a imprensa brasileira.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva negou "categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência" e a atribuiu à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2023), em um comunicado do Itamaraty publicado na segunda-feira.
"A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da ABIN [Agência Brasileira de Inteligência] em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato", acrescenta a nota.
O governo paraguaio convocou o embaixador do Brasil, José Antônio Marcondes de Carvalho, para que "ofereça explicações detalhadas" sobre a operação, explicou o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, em coletiva de imprensa nesta terça.
Ramírez também informou que chamou para consultas o representante diplomático paraguaio em Brasília "a fim de que informe sobre os aspectos relacionados à ação de inteligência em assuntos do governo do Paraguai por parte desse país".
Segundo a imprensa brasileira, a Abin invadiu os computadores das instituições do Estado paraguaio para obter informações reservadas.
O objetivo seria conhecer a posição do Paraguai na negociação do "Anexo C", um documento do Tratado de Itaipu que estabelece as bases financeiras e de prestação de serviços de eletricidade da central hidrelétrica.
Ramírez assegurou nesta terça que estão "suspensas todas as negociações do Anexo C, até que o Brasil ofereça os esclarecimentos correspondentes à satisfação do governo da República do Paraguai".
As negociações giram em torno da redução do preço da energia, que é de interesse do Brasil, que compra há décadas todo o excedente que corresponde ao Paraguai, que consome menos de 10% da energia produzida.
A represa hidrelétrica, com capacidade instalada de 14 mil megawatts (a maior do mundo), conta com 20 turbinas. Uma só delas pode abastecer 1,5 milhão de casas.
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