Nunes recicla metas não cumpridas para 2º mandato e foca em segurança
A versão preliminar do plano de metas do segundo mandato do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), apresentada ontem, recicla compromissos não alcançados no passado pela administração municipal.
O que aconteceu
Entregar piscinões, viabilizar o BRT da Radial Leste e alcançar a alfabetização na idade certa estão entre as metas recicladas. Os objetivos não foram concluídos pelo prefeito até o final de 2024. Ao todo, são 126 compromissos para o mandato que se encerra em 2028.
Nunes já havia feito mudanças no plano produzido por Bruno Covas em 2021. Dois anos após morte de seu antecessor, o emedebista desistiu, por exemplo, de "implantar corredores de ônibus no modelo BRT" para "viabilizar a implantação". As metas de transporte foram as que mais sofreram adaptações no passado e aparecem novamente agora.
A entrega de novos terminais de ônibus também voltou a ser prometida. No passado, a prefeitura se comprometeu a implantar quatro novos terminais de ônibus, entre eles o de Itaquera e Itaim Paulista, na zona leste. Em 2023, o verbo mudou para "viabilizar". Agora, no novo plano, as metas são "entregar o novo Terminal Itaquera" e "iniciar as obras do novo Terminal Itaim Paulista".
Outra mudança diz respeito à frota de ônibus. Durante a campanha, Nunes prometeu que trocaria todos os anos 1.000 veículos a diesel por modelos elétricos. Agora, o total caiu para 2.200 nos quatro anos.
Durante o primeiro mandato, Nunes justificou que muitas das obras foram paralisadas por decisões do TCM. Em 2023, o órgão suspendeu a licitação do BRT Radial Leste por suspeita de sobrepreço de R$ 66,7 milhões —o edital foi liberado após cinco meses. O prefeito travou momentos de tensão com o Tribunal de Contas do Município e no início da segunda gestão chegou a desautorizar secretários a tratarem diretamente com o órgão.
O plano de metas coloca como expectativa um investimento de R$ 34,6 bilhões para os próximos quatro anos. A entrega do documento está prevista na legislação paulista. O prefeito eleito deve apresentar um planejamento completo de sua gestão até 90 dias do início do mandato. Incluídas como emenda à Lei Orgânica do Município, as metas devem ser definidas em parceria com a sociedade e dispor de um mecanismo transparente de controle. O cumprimento, no entanto, não é obrigatório.
Entre 2021 e 2024, Nunes cumpriu 65 das 86 propostas apresentadas —75% do total. As áreas que tiveram menos sucesso foram mobilidade, educação, zeladoria e política para pessoas com deficiência. Em transportes, apenas três dos 11 compromissos foram alcançados. A gestão deixou de entregar, por exemplo, 40 km de corredores de ônibus e a adaptação de 20% da frota em veículos elétricos — metas agora replicadas no atual planejamento.
Smart Sampa e privatizações
Nunes também promete incorporar 500 armas não letais ao equipamento dos GCMs (Guardas Civis Municipais). O objetivo é ampliar a "capacidade de atuação com base em protocolos de uso proporcional da força". Nessa área, Nunes também se compromete a criar um centro de monitoramento dos parques municipais para "reforçar a segurança e garantir tranquilidade aos frequentadores".
Smart Sampa, programa de monitoramento, também tem promessa de ampliação. A administração municipal diz que vai atingir a marca de 40 mil câmeras integradas ao sistema de vigilância. Conforme o UOL mostrou, Nunes tem mirado a área de segurança pública em meio a possíveis articulações políticas para uma candidatura ao governo em 2026.
A promessa da campanha à reeleição em ampliar o efetivo da GCM também faz parte do documento apresentado. O prefeito diz que vai abrir 2.000 novas vagas —na eleição, Nunes disse que seriam ao menos 500 por ano.
O plano inclui o início da construção do túnel na avenida Sena Madureira como meta para melhorar a mobilidade na região da Vila Mariana, zona sul da cidade. Avaliada em R$ 218 milhões e alvo de críticas, a obra teve o contrato rescindido no mês passado pela prefeitura após recomendação do Ministério Público. Agora, um novo processo licitatório deve ser iniciado por Nunes.
Inauguração de CEUs não entregues vira nova meta. Agora, Nunes se compromete a entregar 12 novos Centros de Educação Unificados e "viabilizar" outros dez. O prefeito não concluiu a obra de nenhuma unidade herdada por Covas.
Na área de privatizações, Nunes promete viabilizar dez novos projetos no plano municipal de desestatização. Chama a ainda a meta 87, que estabelece a realização de 25 obras, novas ou de reforma, em cemitérios municipais. Os equipamentos, no entanto, estão sob a gestão de iniciativa privada desde março de 2023.
Nunes classifica o programa como "ambicioso e factível ao mesmo tempo, coerente com a realidade da prefeitura e a grandeza de São Paulo". O cronograma agora prevê a realização de audiências públicas entre os dias 7 de abril e 11 de maio. Ao final do processo, conforme prevê a legislação, o município deverá lançar um site para acompanhamento público das metas e prazos estabelecidos.