Topo
Notícias

Conheça os destaques da programação oficial do Ano do Brasil na França em 2025

01/04/2025 13h19

Nesta terça-feira (1º), a Embaixada do Brasil em Paris, em colaboração com os Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores do Brasil, o Ministério da Cultura da França e o Institut Français, apresentou oficialmente a programação da temporada cultural cruzada do Ano do Brasil na França de 2025. O objetivo é fortalecer os laços históricos e culturais entre os dois países e consolidar as relações bilaterais, em comemoração aos 200 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e a França.

Com mais de 300 eventos previstos em cerca de 50 cidades francesas, o evento também buscar trazer à tona o impacto econômico da cultura no Brasil. "O setor cultural, que representa hoje cerca de 3% do PIB brasileiro, é um grande impulsionador da economia e será promovido durante todo o ano", disse Marco Antonio Nakata, diretor do Instituto Guimarães Rosa, representante da chancelaria brasileira que abriu o evento nesta terça-feira (1°).

O Ano do Brasil na França busca "revigorar as parcerias passadas, como o Ano do Brasil na França de 2005 e o Ano da França no Brasil de 2009, mas também cria novos e inovadores espaços de colaboração entre as duas nações", sublinhou. 

Eva Nguyen Binh, presidente do Institut Français, ressaltou as três vertentes principais desta temporada cruzada durante o lançamento da programação: "transição ecológica, democracia e sociedade inclusiva, com ênfase forte sobre a África."

Artistas brasileiros de diferentes gerações ganham destaque especial junto ao público francês. Na música, nomes como Seu Jorge (que celebra os 20 anos do álbum "Cru"), Lenine, Léa Freire (flautista brasileira homenageada durante a programação), Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Hamilton de Holanda se destacam entre outros, enquanto eventos dedicados a ritmos como o funk e o forró nordestino buscam "desmistificar estereótipos e aproximar o público francês das raízes culturais brasileiras".

Nas artes visuais, a presença brasileira será representada por nomes de diversas origens e gerações, com obras de Cildo Meireles, Lygia Pape (1927-2004), Jonathas de Andrade, Anna Maria Maiolino, Claudia Andujar, Ernesto Neto, Laura Lima, José Antônio da Silva (1909-1996), Lucas Arruda, Ivens Machado, Marina Rheingantz, Antonio Obá e Agrade Camiz, entre outros.

Ainda no campo das artes visuais, a Bienal de São Paulo fará uma parceria com a La Friche de la Belle de Mai, em Marselha (sul), para promover exposições que destacam artistas contemporâneos brasileiros.

O coletivo trans Themônias, de Belém do Pará, se apresentará no mítico cabaré parisiense Madame Arthur e também abrirá o desfile inaugural da programação do Ano do Brasil na França em 2025.

O Ano do Brasil na França será ainda marcado por 80 projetos cruzados, que envolverão artistas, instituições culturais e acadêmicas de ambos os países. A parceria entre a Academia da Ópera de Paris e o Theatro Municipal de São Paulo é um exemplo dessa colaboração, segundo os curadores, oferecendo concertos conjuntos com jovens artistas brasileiros e franceses, além de intercâmbios de formação.

Além disso, os Conservatórios de Cayenne e Belém trabalham em um projeto conjunto de uma orquestra formada por jovens da Amazônia. Na capital francesa, estruturas tradicionais como o Théâtre de la Ville e o Théâtre de la Concorde apresentarão espetáculos de artes cênicas brasileiras, como foco em resistência e contemporaneidade.

O cinema brasileiro será representado em mostras transversais, com a presença do Forum des Images de Paris, a Cinemateca Brasileira, de São Paulo, e o Festival do Rio, e a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, deve marcar presença no Festival de Cannes de 2025.

A Flup, a Festa Literária das Periferias, recebe escritores de Martinica e Guadalupe, e as cidades de Recife, no Brasil, e Toulouse, na França, farão intercâmbio especial sobre as artes do circo.

Além disso, a Cufa (Central Única das Favelas) desempenha um papel importante na programação do Ano do Brasil na França 2025, com a missão de levar a cultura das favelas brasileiras para o cenário internacional, com a presença de artistas de origem periférica e a organização de debates e palestras sobre temas como inclusão social, direitos humanos, empoderamento feminino e juventude nas favelas.

Arte das ruas, entre o Brasil e a França

Os eventos não se limitarão a espaços fechados, segundo os organizadores. Em Paris, a famosa avenida Champs-Élysées será palco de um desfile do Carnaval Tropical Brasil, que reunirá as cores e os ritmos do Rio de Janeiro, enquanto o Carreau du Temple, no coração da capital francesa, sediará um festival gastronômico trazendo os sabores da culinária brasileira. O Grand Palais será ainda o cenário de uma grande exposição sobre o carnaval, com carros alegóricos e a história do evento.

Intercâmbios

Além disso, a programação prevê intercâmbios acadêmicos e científicos, com destaque para o estreitamento das relações entre universidades brasileiras e francesas, somando mais de 1.000 acordos de cooperação universitária. A educação superior será fortalecida com colóquios e projetos de pesquisa, com temas como as florestas e a transição ecológica, em colaboração com o Museu de História Natural de Paris e outras instituições.

Visitas de alto nível e parcerias econômicas

O evento também terá um forte componente econômico, com a presença de mais de 1.100 empresas francesas no Brasil e o fortalecimento de relações bilaterais, segundo dados da organização. A visita do presidente Lula à França, que deve ocorrer em meados de 2025, deverá ser um marco importante para o aprofundamento das parcerias, especialmente nas áreas de transição ecológica e sustentabilidade, segundo Anne Louyot, curadora francesa desta temporada.

A realização da COP30 em Belém, no final de 2025, também será um dos grandes momentos de visibilidade para o Brasil no contexto internacional, segundo os organizadores da temporada cruzada, sendo um evento citado diversas vezes durante a apresentação da programação do Ano do Brasil na França em Paris nesta terça-feira.

Critérios de seleção

Para Emilio Kalil, curador do Ano do Brasil na França 2025, o evento é um marco, "pois traz um Brasil que normalmente o público francês desconhece, mostrando a diversidade do país de norte a sul". Ele destaca que, tradicionalmente, "o francês que visita o Brasil se concentra no eixo Rio-São Paulo, mas o evento foi pensado para quebrar essa visão restrita". "Por isso, fomos buscar projetos em Belém, na Paraíba, Pernambuco, Salvador, Belo Horizonte, fomos ao Paraná, e claro, Rio de Janeiro e São Paulo. Estamos trazendo uma programação múltipla e diversa, como é o Brasil", explica Kalil.

O processo de seleção dos projetos, segundo o curador, foi desafiador, dado o curto período de tempo disponível. "O critério foi muito diverso porque estávamos trabalhando em um período muito curto de tempo. Então, tínhamos que ter o senso de oportunidade, saber quais instituições estavam disponíveis e que tipo de projetos elas desejavam", afirma. Ele explica que, com essas indicações, a equipe procurava encaixar os projetos nas instituições que estavam abertas para colaborar. "Não adiantava pensar em projetos impossíveis, especialmente com um tempo tão curto", completa Kalil.

Sobre as parcerias estabelecidas, o curador destaca algumas relações importantes, como a com o Museu Picasso, em Paris. "Quando fomos trabalhar com o Museu Picasso, eles queriam uma artista mulher, tinham interesse na Anna Maria Maiolino, que nunca tinha exposto por lá, e então tivemos a oportunidade de estabelecer essa ponte", conta Kalil.

Além disso, ele menciona o trabalho com o Grand Palais, o Museu D'Orsay e outras instituições em cidades como Nîmes, Nantes e Arles, ressaltando que todas as parcerias foram construídas em colaboração com os curadores locais. "Cada projeto foi moldado de acordo com as especificidades de cada instituição e o que elas estavam buscando", afirma.

Entre os destaques dessa temporada na França, Kalil aponta eventos tradicionais do calendário parisiense e francês. "Um dos maiores destaques acabou se tornando o Paris Plages, um dos pontos mais importantes da programação. O francês, como disse a própria representante da Prefeitura de Paris, não tem muita oportunidade de sair durante o verão. Então, esse francês que fica e se diverte ali vai poder ter um pouco do 'cheiro' dessa praia brasileira, desse litoral brasileiro, que tem oito mil quilômetros de extensão. Estamos falando de um projeto que com certeza vai deixar marcas", afirma o curador.

Ele também destaca outra parceria que afirma lhe trazer "grande esperança": a colaboração com as bibliotecas de Paris. "Essas instituições trazem um programa tão diverso para essa temporada cruzada, fazendo um apelo à juventude e trazendo novas sementes para essa retomada da relação entre o Brasil e a França", conclui Kalil.

Notícias

publicidade