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Filho de Herzog sobre escola se tornar cívico-militar: 'Afronta à memória'

do UOL

Do UOL, em São Paulo

31/03/2025 18h39

O engenheiro Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog (1937 - 1975), jornalista torturado e assassinado pelo regime militar, classificou como "afronta à memória" a intenção do governo de São Paulo em transformar o colégio que leva o nome do pai em uma escola cívico-militar. A declaração de desaprovação à iniciativa foi feita durante entrevista ao UOL News, do Canal UOL.

A gente cuida há mais de 50 anos do legado deixado pelo meu pai, que foi assassinado barbaramente. Mas se a comunidade do entorno [da escola] acha que essa decisão seja o melhor da discussão, a gente vai respeitar.

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A única coisa que a gente não aceita é a sucessão do nome do meu pai, afinal de contas ele foi assassinado pelos militares. Então, realmente, é uma afronta à memória dele. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog

Em 2024, a escola estadual que fica em São Bernardo do Campo (SP) já havia indicado sua intenção de entrar para o programa. Mas a revelação na imprensa e a pressão de ativistas de direitos humanos levaram a direção do local a anunciar que estavam desistindo da ideia.

Agora, porém, o estabelecimento de ensino volta a aparecer entre as unidades que se mantiveram na consulta para fazer parte do programa, o que levou a família Herzog a protestar formalmente enviando carta ao governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Então, associar o nome do meu pai a um projeto com militares... não dá para se misturar essas coisas. É uma deseducação, é uma afronta. A gente está realmente muito indignado com esse movimento. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog

Críticas a Lula e a Bolsonaro

Ao Canal UOL, Ivo também criticou a demora do presidente Lula (PT) para fazer menção ao período do regime ditatorial no Brasil.

[Sim, o Lula] Demorou muito. Há exatamente um ano, quando o golpe completa 60 anos, e seria uma data redonda para se relembrar, o presidente Lula proibiu que os órgãos oficiais do governo federal fizessem essa lembrança.

Eu volto a dizer que acredito no perdão, mas antes disso é preciso haver uma apuração dos fatos, precisa ter um entendimento. Eu acho que ainda falta [por parte do] governo brasileiro faça um pedido de perdão, não só ao meu pai, mas para todos aqueles que sofreram a violência. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog

Ivo também comemorou a admissão de denúncia, na semana passada, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros militares por tentativa de golpe.

Eu estive aqui, na semana, a primeira parte da admissão dos processos, quando eles se tornaram réus. Eu estava sentado na primeira fileira do auditório no STF. E o Bolsonaro passou a meio metro de mim. Foi uma sensação muito estranha.

Ele [Bolsonaro] é uma pessoa muito do mal. Não tem a empatia... A desumanidade. Ele é um ser desumano. E, sendo mais objetivo e menos sentimentalista na resposta, [o julgamento de Bolsonaro] é um momento histórico.

Eu acho que é a primeira vez que militares da alta patente... alguns deles estão presos. É a primeira vez que eles estão sendo levados a um julgamento por crimes cometidos contra a democracia. É uma mensagem muito importante para todos, mas, principalmente, para as novas gerações mostrando a força de instituições democráticas. Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog

Quem foi Vladimir Herzog?

Na noite do dia 24 de outubro de 1975, Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, o jornalista foi morto aos 38 anos.

Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de jornalistas presos na mesma época, Vladimir foi assassinado sob forte tortura.

Por ser judeu, o corpo de Herzog foi encaminhado ao Shevra Kadish (comitê funerário judaico). Ao prepará-lo para o funeral, um rabino percebeu que havia marcas de tortura no corpo do jornalista, prova de que o suicídio tinha sido forjado.

Sakamoto: Lula errou ao se calar sobre ditadura em nome da governabilidade

No UOL News, o colunista Leonardo Sakamoto afirmou que o presidente Lula errou ao ficar em silêncio por dois anos sobre a ditadura militar, que durou 21 anos no Brasil, em nome de sua governabilidade.

É importante relembrar [o aniversário do golpe] para que coisas, como 2022 ou 2023, não aconteçam. E aí, o governo Lula errou retumbantemente ao evitar isso em nome da governabilidade, que é uma palavra que está pichada com sangue e fezes no muro do inferno. Não quis bater de frente com as Forças Armadas, em sua maioria, bolsonarista. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

O presidente Lula quebrou o silêncio e falou, pela primeira vez no mandato, sobre o aniversário do golpe militar de 1964. O início da ditadura militar completa hoje 61 anos. Em publicação no X (antigo Twitter), o petista afirmou que as ameaças autoritárias "insistem em sobreviver" no Brasil e que a data simboliza a "importância da democracia".

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h, com apresentação de Fabíola Cidral, e às 17h, com Diego Sarza. Aos sábados, o programa é exibido às 11h e 17h, e aos domingos, às 17h.

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Veja a íntegra do programa:

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