'Breque dos apps': em ato em SP, entregadores pedem 'melhores condições'
Entregadores de São Paulo se reuniram hoje em uma manifestação para marcar a paralisação da categoria, que deve afetar até amanhã 59 cidades pelo Brasil. Eles pedem melhores condições de trabalho em serviços de delivery dos principais aplicativos em operação no país, como iFood, Uber Flash e 99 Entrega.
O que aconteceu
Centenas de entregadores e apoiadores se reuniram na praça Charles Miller, no Pacaembu. Por volta das 11h, eles seguiram para o MASP, na avenida Paulista, escoltados por viaturas da PM. "Quem faz o iFood e qualquer outro aplicativo andar somos nós. Sem nós, eles não funcionam e viemos aqui mostrar nossa força", diz um dos organizadores em cima do carro de som, sob aplausos.
Grupo foi até a sede do iFood, em Osasco, exigir que um representante receba lideranças para uma reunião. A empresa é líder do mercado de entrega de comida na América Latina. "Não vamos sair daqui enquanto não receber nossas lideranças", diz um dos organizadores em frente à sede, onde agentes de trânsito e policiais militares interditaram a via.
"Queremos hoje e amanhã mandar recado para os aplicativos e para as corporações que estamos insatisfeitos com a nossa condição de trabalho. Queremos reajuste já", afirma outra liderança.
Manifestantes foram chamados para reunião com o iFood. Após cerca de duas horas de negociações, mediadas pela PM, entre organizadores do ato e representantes do iFood, nove lideranças presentes no ato foram convocadas para entrar na sede da empresa e participar da reunião em nome da categoria. Em nota enviada após o encontro, a empresa informou que "foram discutidas as principais demandas apresentadas pelo movimento e ficou acordado que o iFood retornará com devolutivas para as lideranças".
Organizadores do "breque dos apps" alegam precarização do trabalho e pedem aumento da remuneração aos entregadores. A reivindicação principal é um "aumento justo" do valor das taxas pagas à categoria, segundo Junior Freitas, uma das lideranças do ato em São Paulo. "Somos precarizados há muito tempo e sabemos que é a remuneração que dita o quanto tempo precisamos trabalhar e ficar na rua se arriscando", diz.
Greve nacional tem quatro pautas centrais. São elas: a definição de uma taxa mínima de R$ 10 por corrida; o aumento da remuneração por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50; a limitação da atuação das bicicletas a um raio máximo de três quilômetros; e o pagamento integral de cada um dos pedidos, nos casos em que diversas entregas são agrupadas em uma mesma rota.
Trabalhadores de 59 cidades aderiram à paralisação. Além de São Paulo, atos nas ruas também ocorreram hoje em ao menos outras 18 capitais. São elas: Maceió, Manaus, Belém, Salvador, Fortaleza, Goiânia, Distrito Federal, Belo Horizonte, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Floripa, Curitiba, Porto Velho, Cuiabá e São Luís.
O que dizem as empresas
Associação que representa iFood, 99, Uber e Zé Delivery, diz que "respeita o direito de manifestação" dos entregadores. Em nota, a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) afirma que suas empresas associadas "mantêm canais de diálogo contínuo com os entregadores" e "apoiam a regulação do trabalho intermediado por plataformas digitais, visando a garantia de proteção social dos trabalhadores e segurança jurídica das atividades".
Empresas buscam "equilibrar demandas" entre entregadores e clientes, segue Amobitec. Suas associadas, conclui em nota, "atuam dentro de modelos de negócio que buscam equilibrar as demandas dos entregadores, que geram renda com os aplicativos, e a situação econômica dos usuários, que buscam formas acessíveis para utilizar serviços de delivery".
iFood avalia novo reajuste de taxas para 2025. Os novos valores, porém, ainda estão em fase de análise e ainda sem prazo para serem implementados. "Estamos atentos ao cenário econômico e estudando a viabilidade de um reajuste para 2025", disse a empresa em nota ao UOL. O iFood argumentou que, nos últimos três anos vem aumentando os valores do quilômetro rodado e da taxa mínima paga à categoria — elevada de R$ 5,31, em 2022, para R$ 6,50, em 2023. A empresa observou ainda que no passado introduziu adicional de R$ 3,00 por entrega extra em rotas agrupadas.
O ganho bruto por hora trabalhada hoje no iFood é quatro vezes maior do que o ganho do salário mínimo-hora nacional. De 2022 até 2024, os ganhos líquidos médios por hora trabalhada na plataforma foram 2,2 vezes superiores ao salário mínimo-hora, de acordo com os custos apontados em pesquisa realizada pelo Cebrap em 2023. (...) O iFood segue disponível para o diálogo com os entregadores na busca por melhorias para os profissionais e para todo o ecossistema. iFood, em nota ao UOL