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Mianmar: socorristas continuam busca por sobreviventes; oposição anuncia cessar-fogo para facilitar resgates

30/03/2025 12h04

Dois dias após o violento terremoto que deixou pelo menos 1.700 mortos em Mianmar e também foi sentido na Tailândia, onde 18 pessoas morreram, equipes de resgate continuam, neste domongo (30), a procurar sobreviventes soterrados sob "montanhas" de destroços. Apesar da chegada gradual de ajuda internacional, uma das dificuldades é prestar assistência às vítimas devido à escassez de equipamentos médicos e remédios.

Com informações da correspondente da RFI na região, Carol Isoux

Especialistas temem que o número de mortos aumente ainda mais em Mianmar, não apenas porque o país fica sobre a junção das placas tectônicas Indiana e da Eurásia, mas também porque o conflito civil em curso desde o golpe de Estado de 2021 dizimou o sistema de saúde, expondo o país a uma grande crise.

O terremoto de magnitude 7,7 que ocorreu ao meio-dia de sexta-feira (horário local), foi seguido, alguns minutos depois, por um tremor de magnitude 6,7. Desde então, tremores secundários ainda eram sentidos na manhã deste domingo, piorando a angústia dos moradores.

De acordo com a junta no poder, o terremoto deixou cerca de 1.700 mortos, 3.400 feridos e 300 desaparecidos no país. Porém, a escala do desastre continua sendo difícil de avaliar com precisão neste país isolado e fragmentado, onde generais lutam contra dezenas de grupos armados em diversas regiões.

Há uma probabilidade de 35% de que o número de mortos fique na faixa de 10.000 a 100.000 pessoas, de acordo com o modelo de previsão do Serviço Geológico dos EUA (USGS).

Em Mandalay, a segunda maior cidade de Mianmar, perto do epicentro do terremoto, prédios residenciais e pontes desabaram e estradas racharam. Um tremor secundário atingiu a antiga capital real por volta das 7h30 (01h00 GMT e 22h de sábado pelo horário de Brasília), levando os ocupantes da recepção de um hotel a correrem para a saída, observaram jornalistas da AFP.

Outro tremor, com magnitude 5,1 segundo o USGS, ocorreu por volta das 14h deste domingo (07h30 GMT e 04h30 no horário de Brasília) criando uma onda de pânico semelhante e interrompendo, temporariamente, os esforços de resgate.

Oposição armada suspende operações

As agências internacionais alertaram que Mianmar não tem recursos para lidar com um desastre dessa magnitude. Uma "grave escassez" de suprimentos médicos dificulta a ajuda, alertou a ONU, ao afirmar que os socorristas não têm equipamentos, bolsas de sangue, anestésicos e medicamentos essenciais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) enviou com urgência quase três toneladas de suprimentos médicos para hospitais em Mandalay e Naypyidaw, a capital, onde milhares de feridos estão sendo tratados.

Enquanto a junta apelava por ajuda internacional, a oposição armada, que luta contra o governo desde o golpe de 2021, anunciou que interromperia as suas operações militares nas áreas do desastre por duas semanas. A resistência está se retirando para facilitar as operações de resgate e ressalta que muitas estruturas foram afetadas: estradas, pontes, edifícios, pagodes, templos, mesquitas, etc.

Os rebeldes estão pedindo à ONU que envie ajuda humanitária com urgência e estão prontos para trabalhar com organizações internacionais para garantir sua segurança e apoiar o estabelecimento de clínicas médicas. Num gesto raro, os rebeldes estenderam a mão à junta militar, com a condição de obterem garantias de segurança. Os dissidentes propõem enviar seus próprios profissionais de saúde para áreas controladas pelo governo. 

O terremoto atingiu um dos redutos da oposição ao governo militar, a região de Sagaing. Esta cidade, localizada a cerca de 20 quilômetros de Mandalay, se estabeleceu como um dos refúgios da resistência aos militares. Grupos de jovens das principais cidades do país se reuniam ali e formavam pequenos grupos conhecidos como PDFs. Eles gradualmente foram sendo treinados, depois se armaram e até conseguiram retomar parte do território da junta.

O terremoto colocou esse frágil equilíbrio em cheque. Alguns combatentes temem que a junta aproveite a emergência humanitária criada pelo terremoto para retomar o controle de todas as principais estradas do país. Vários relatórios publicados na imprensa da oposição apontam que os bombardeios foram retomados nas primeiras horas após o terremoto em posições rebeldes.

Organizações internacionais estão sendo orientadas a ter cautela na entrega de ajuda humanitária para garantir que os recursos cheguem às populações afetadas sem discriminação política.

(Com RFI e AFP)

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