Topo
Notícias

Fala sobre 'dona de casa' agrada Janja, mas irrita filho de Lula com Marisa

do UOL

Do UOL, em São Paulo

30/03/2025 05h30Atualizada em 30/03/2025 15h28

A frase de Lula de que mulher dele "não nasceu para ser dona de casa" mirou no agrado a Janja, mas acertou na irritação do filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva.

Segundo apurou o UOL, Luís Cláudio considerou a frase ofensiva à memória da mãe, Marisa Letícia, que foi dona de casa no período em que o marido exerceu os dois primeiros mandatos como presidente da República —ela deixou o mercado de trabalho quando engravidou do segundo filho, o primeiro com Lula.

Publicidade

Lula disse a frase no Vietnã, em resposta às críticas da oposição à viagem de Janja a Paris, onde ela representou o Brasil na abertura da Cúpula Nutrição para o Crescimento.

Luís Cláudio não respondeu ao contato do UOL. Após a publicação da reportagem, negou a interlocutores que tenha ficado aborrecido com a frase do pai.

"Amainar a barra" de Janja

Um integrante do PT disse à reportagem que Lula elogiou o comportamento profissional de Janja porque ela sofre com as comparações com Marisa Letícia —reverenciada por alguns por ter sido uma primeira-dama discreta e pouco interessada em compromissos internacionais.

O comum, disse outra liderança petista ao UOL, era que Marisa perguntasse se "precisava mesmo" viajar, quando convocada a acompanhar o marido no exterior.

Um ex-parlamentar petista que conviveu com Marisa Letícia afirmou, também reservadamente, que ela era uma dona de casa "discreta, digna e ótima mãe", "não se envolvia com o governo" e que a frase de Lula, "contraditória com o passado dele", foi para "amainar a barra da atual esposa".

"A frase do presidente soa desrespeitosa, porque Marisa Letícia foi mulher dele durante muito tempo e foi dona de casa", afirma o jornalista Camilo Vannuchi, autor de "Marisa Letícia Lula da Silva", uma biografia sobre a antiga primeira-dama.

Vannuchi afirma que Marisa era conselheira do marido e apontava os erros dele. "Nunca foi subserviente ou submissa, mesmo sendo dona de casa. Hoje o presidente está cercado de bajuladores", diz.

Para Marco Aurélio de Carvalho, advogado de Janja e líder do grupo Prerrogativas, "há uma má vontade" em relação a tudo que Lula fala. "Ele não quis diminuir o papel da dona de casa. Todo o arcabouço jurídico de proteção às donas de casa foi criado por ele", afirmou.

Disse também ser natural que Lula, "por amar Janja", se sinta afetado pelas críticas a ela. "Estranho seria se isso não acontecesse."

Esses ataques, na avaliação da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, são "motivados por misoginia".

Janja é uma pessoa política, que participa dos debates, faz articulações e contribui com a elaboração das políticas públicas. Não existe o cenário em que ela ficará em silêncio ou trancada.
Cida Gonçalves, ministra das Mulheres

A cientista política Larissa Peixoto, pesquisadora da Universidade de Edimburgo, afirma que "não há nada que Janja possa fazer que não seja criticada".

Se ela não fizesse nada, diriam que estaria vivendo às custas do governo como uma primeira-dama inútil. A oposição sempre vai encontrar algo para reclamar.
Larissa Peixoto, pesquisadora da Universidade de Edimburgo

"História da minha mãe ninguém apaga"

Essa não é a primeira vez que Luís Cláudio se aborrece com menções, ainda que indiretas, à memória da mãe.

Em 10 de fevereiro de 2024, o perfil de Lula no X (antigo Twitter) postou um texto que havia sido publicado pela Fundação Perseu Abramo no aniversário de 44 anos do PT.

O texto original, que estava no portal da Fundação, dizia assim: "No começo era só um retalho de pano vermelho que a Marisa pegou e costurou uma estrela branca por cima".

Na publicação de Lula, no entanto, a referência a Marisa foi retirada. O novo texto dizia: "No começo, era só um retalho de pano vermelho com uma estrela branca por cima".

Luís Cláudio foi à rede social criticar a ausência da mãe. Ele escreveu: "Infelizmente, têm acontecido umas coisas estranhas! A história da minha mãe ninguém apaga, não".

A repercussão da publicação do caçula foi tamanha que o perfil de Lula apagou o texto modificado e repostou a homenagem original, que incluía o nome de Marisa.

A sindicalista Junéia Batista, ex-secretária de mulheres da CUT (Central Única dos Trabalhadores)— crítica frequente ao que chama de "apagamento" da memória de Marisa Letícia pelo atual governo— diz que a antiga primeira-dama, que conheceu em 1980, "sempre foi da luta".

"Fora isso ela cuidava dos afazeres domésticos, como tantas outras mulheres da classe trabalhadora. Tenho certeza de que Lula a via como uma dona de casa, mas ela não estava nem aí", disse.

Notícias

publicidade