"Fora de questão", respondem empresas francesas à carta dos EUA encorajando fim de programas de inclusão
O chefe da maior associação patronal francesa afirmou neste domingo (30) que estava "fora de questão" "desistir" das regras de inclusão nas empresas. A declaração é uma resposta ao que a França considera intromissão americana, depois que a embaixada dos Estados Unidos no país enviou uma carta a várias empresas francesas perguntando se elas tinham programas internos para combater a discriminação, uma iniciativa considerada "inaceitável" por Paris.
"Isso é inaceitável porque reflete uma mudança no governo americano, e no próprio presidente americano, que quer afirmar o controle sobre a economia global e os valores europeus", afirmou Patrick Martin, presidente do Medef. "Não podemos ceder; temos valores e regras; devemos respeitá-los", reiterou, em entrevista ao canal de notícias francês LCI. "Não há a mínima possibilidade de desistir", afirmou.
"Não acho que esteja errado ao dizer que essas empresas manterão seus valores", disse Martin, presidente do Medef (Movimento Empresarial Francês). "E na medida do possível, o Estado e a União Europeia devem apoiar, de alguma forma, estancando essa decisão americana, que é desastrosa", acrescentou.
Várias empresas francesas receberam, no sábado (29), uma carta e um questionário da embaixada dos Estados Unidos na França, perguntando se possuem programas internos de combate à discriminação. A carta da diplomacia norte-americana adverte que isso poderia impedir as empresas franceses de trabalhar com o governo dos EUA.
Paris reagiu fortemente descrevendo a iniciativa como "interferência inaceitável" e alertando que a França e a Europa defenderiam "seus valores"
"A interferência americana nas políticas de inclusão de empresas francesas, como ameaças de taxas alfandegárias injustificadas, é inaceitável", reagiu o Ministério do Comércio Exterior francês, no sábado, em mensagem enviada à AFP.
Os destinatários da carta foram informados de que a "Ordem Executiva 14173", emitida por Donald Trump em seu primeiro dia de retorno à Casa Branca para encerrar programas que promovem a igualdade de oportunidades dentro do governo federal, "também se aplica obrigatoriamente a todos os fornecedores e prestadores de serviços do governo americano", conforme um documento revelado na sexta-feira (28) pelo jornal Le Figaro, confirmando informações do diário de negócios Les Echos.
"É claro que tínhamos conhecimento desse decreto, mas não imaginávamos que ele seria aplicado com uma forma de extraterritorialidade, como parece ser o caso agora", reagiu o presidente do Medef. "Não devemos colocar mais lenha na fogueira, mas devemos ser muito firmes na reafirmação dos nossos interesses e dos nossos valores", continuou Patrick Martin.
Desde que voltou à Casa Branca, o presidente Donald Trump tem investido no rastreamento de gastos governamentais considerados desnecessários ou contrários às suas políticas, assim como programas de apoio à diversidade e inclusão.
(Com AFP)