Na Argentina, Leo Índio diz que vive a 2.000 km de região informada ao STF

Primo dos filhos mais velhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Leo Índio disse ao UOL que está na região de Mendoza, no oeste da Argentina, uma área a mais de 2.000 km de distância daquela informada ao Supremo Tribunal Federal e às autoridades argentinas. Ele afirmou que pretende voltar ao Brasil assim que a "perseguição injusta acabar".
O que aconteceu
Réu nos ataques de 8 de Janeiro e sem passaporte, Leonardo Rodrigues de Jesus mudou-se neste mês para a Argentina. O ex-assessor parlamentar vivia em Cascavel (PR), próximo à tríplice fronteira com Argentina e Paraguai.
Ao mudar, afirmou que poderia ser preso, mas não há mandado de prisão contra ele. O ministro Alexandre de Moraes pediu explicações da saída.
Leo Índio pediu refúgio à Argentina. Na sexta-feira, sua defesa protocolou no STF documento que mostra que ele pediu refúgio no dia 6 de março e informou um endereço em Puerto Iguazu, na província de Missiones, ao lado de Foz do Iguaçu (PR).
Mendoza fica a mais de 2.000 km de Puerto Iguazu, endereço fornecido por Léo Índio. Ele passou uma informação à Comissão Nacional para os Refugiados (Conare), ao solicitar pedido de refúgio ao governo argentino, e agora relata ao UOL outra localização.
Ex-assessor diz que seu 'pré-asilo é válido em todo o território argentino'. Ontem e hoje, ao UOL, Leo Índio disse que estava em deslocamento e que vive em Mendonza, uma região diferente da que foi informada ao Supremo na sexta-feira. O local fica a 1.000 km a oeste de Buenos Aires.
"Estou na região de Mendoza, e faço várias visitas a Buenos Aires." A declaração ao UOL ocorreu na tarde de hoje, por meio de mensagem de celular. A cidade de Mendoza fica próxima à fronteira com o Chile, a 360 km a leste de Santiago, a capital chilena.
Estou em deslocamento. Minha defesa apresentou a minha [autorização] precária [para morar e trabalhar]... a região em que eu fiz o pedido de asilo, nessa região de Missiones, e eu estou voltando agora para a região onde eu estou. Esse meu pré-asilo é válido por todo território argentino. Então, estou retornando à região onde eu estava.
Leo Índio, em áudio enviado ao UOL
Leo Índio esteve com foragido da Justiça brasileira. Na quarta-feira (28), ele apareceu em uma transmissão ao vivo na internet ao lado do corretor Gilberto Ackerman, foragido na Argentina pelos ataques de 8 de janeiro. Ackerman chegou a morar, ao menos por certo tempo, na região de Buenos Aires.
Ele foi candidato a vereador em Cascavel. "Fui convidado justamente pelo meu parentesco com a família e meu tio, o ex-presidente Jair Bolsonaro". E diz agora que pretende voltar para o Brasil. Na cidade, trabalhou com vendas e como assessor parlamentar. "Ainda resido em Cascavel e para lá voltarei assim que essa perseguição injusta acabar", afirmou Índio na mensagem à reportagem. "Esperarei tudo isso passar até poder voltar para o Brasil."
Leo Índio diz que não desobedeceu ao Supremo
Ex-assessor está sem passaporte desde março de 2023 por decisão de Alexandre de Moraes. Leo Índio diz ainda que, mesmo sem passaporte, não descumpriu nenhuma restrição do Supremo ao ir à Argentina.
Para se chegar à Argentina e a outros países do Mercosul, basta uma carteira de identidade. A decisão do ministro Alexandre de Moraes que ordenou a apreensão, o cancelamento do documento e a proibição de obter outros passaportes não o proibiu expressamente de deixar o país.
Leo Índio não tem mandados de prisão em aberto no Brasil. "Continuarei gozando do meu direito de ir e vir", disse Leo Índio em nota à reportagem.
Não estou na Argentina na condição de foragido pois não me fora imposta qualquer restrição ou condenação pela justiça brasileira.
Leo Índio, em nota ao UOL
Um desembargador ouvido pela reportagem entende que a proibição de sair do país deveria constar na decisão de Moraes desde o início, mas avalia que essa restrição estava implícita. O advogado dele, Rafael Castro Alves, discorda. Hoje, ele explicou ao UOL que as ordens da Justiça precisam ser claras e escritas.
Não houve descumprimento de cautelar. Não existe decisão judicial implícita.
Rafael Castro Alves, advogado
Moraes pode tomar novas decisões. De toda a forma, tanto o desembargador quanto a defesa avaliam que, nos próximos dias, Alexandre de Moraes deve expedir ordem de prisão contra Leo Índio.
"Sobrinho" diz confiar na Justiça
Leo Índio é réu nos ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 por cinco crimes: golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, dano a patrimônio tombado e associação criminosa. Ele nega.
Com intuito de preservar a minha integridade física, moral e intelectual, busquei asilo político. E reitero, nunca atentei contra o Estado Democrático de Direito nem promovi qualquer iniciativa ou colaborei com alguma tentativa de golpe de Estado e de depredação ao patrimônio público.
Nota de Leo Índio
Ele disse confiar na Justiça. "Acredito que esta [Justiça brasileira] cumprirá o seu dever constitucional respeitando o devido processo legal, o direito à defesa e o contraditório, e a presunção de inocência até que seja concluído o processo que me colocou na condição refutável de réu por pura e exclusivamente perseguição política", continuou Índio. "Não sou quadrilheiro, terrorista nem golpista", completou, em mensagem de celular enviada neste domingo (30).