Musk perdeu quase R$ 1 tri desde que entrou para governo Trump
Nos Estados Unidos, o movimento "Tesla Takedown" planeja transformar este sábado (29) em um dia de mobilização contra o bilionário e suas empresas. Entre apelos ao boicote e críticas severas às suas declarações políticas, Elon Musk enfrenta uma pressão crescente ao redor do mundo. Mas ele tem recursos suficientes para enfrentar a tempestade, embora seu prejuízo seja estimado hoje em ? 150 bilhões, cerca de R$ 934 bilhões pelo câmbio atual.
Nos Estados Unidos, o movimento "Tesla Takedown" planeja transformar este sábado (29) em um dia de mobilização contra o bilionário e suas empresas. Entre apelos ao boicote e críticas severas às suas declarações políticas, Elon Musk enfrenta uma pressão crescente ao redor do mundo. Mas ele tem recursos suficientes para enfrentar a tempestade, embora seu prejuízo seja estimado hoje em 150 bilhões de euros, cerca de R$ 934 bilhões pelo câmbio atual.
Esse seria o valor do patrimônio perdido por Elon Musk desde o retorno à Casa Branca de seu agora grande amigo, Donald Trump. O homem mais rico do mundo sofre principalmente com a desvalorização em bolsa da Tesla, sua empresa de carros elétricos, que perdeu mais de US$ 900 bilhões em capitalização, em três meses.
Entre a vontade de desmontar os serviços públicos, o polêmico gesto de saudação nazista e o apoio à extrema direita europeia, essa personalidade natural de Pretória (na África do Sul) divide opiniões e os apelos ao boicote se multiplicam. Um dia mundial de protestos é até organizado, neste sábado (29), pelo coletivo internacional "Tesla Takedown" (em português, "Derrubem a Tesla"). Mas qual seria o impacto desse protesto?
Os números parecem implacáveis à primeira vista. Em fevereiro de 2025, as vendas da Tesla, por exemplo, caíram 25% na França. Na escala europeia, esse número foi reduzido pela metade entre janeiro de 2024 e 2025, segundo a Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis (ACEA). "Os compradores da Tesla são, em sua maioria, pessoas comprometidas com o clima. [...] Um movimento forte de boicote que persiste e pode ser global, pode causar danos significativos a uma multinacional como a Tesla", explica Boris Manenti, autor do livro "Elon Musk, o vendedor de ilusões".
Tarifaço de Trump e concorrência chinesa
Mas a revolta contra Musk não é o único fator a ser considerado: as ameaças de tarifas alfandegárias altíssimas lançadas por Donald Trump, especialmente sobre o setor automotivo, e ainda mais a concorrência chinesa em forte expansão nesse mercado de veículos elétricos também pesam na balança. De fato, entre 17 de dezembro de 2024 e 10 de março de 2025, o valor das ações da Tesla caiu quase 55%.
Se os compradores estão se tornando mais escassos, os investidores, que não gostam do clima de incerteza, deixaram de se lançar sobre as ações da empresa e reagem a qualquer declaração. No cargo de conselheiro sênior do presidente dos Estados Unidos, Elon Musk afirmou no dia 10 de março, durante uma entrevista ao canal Fox Business, que estava conduzindo seus negócios "com muita dificuldade" devido ao seu papel na Doge, a recém-criada agência de controle da eficácia governamental dos EUA. Na sequência, o valor das ações da Tesla despencou violentamente, caindo 15%.
"Patrimônio fictício"
"Os acionistas gostam do que podem prever com razoável certeza. E é verdade que os compromissos políticos são muito incertos [nos EUA], isso cria uma relutância em recomprar ações da Tesla", reconhece Boris Manenti, que também é editor-chefe de economia da revista francesa Le Nouvel Obs.
No entanto, o especialista em Musk relativiza o impacto direto nas finanças do bilionário: "Seu patrimônio está em queda, o que é bastante espetacular, mas não devemos esquecer que isso não é a conta bancária dele. É um patrimônio fictício. E este pode voltar a crescer com o tempo, dependendo dos anúncios", diz.
Manenti considera que "ele não está devastado por essa situação. Sua prioridade não é acumular dinheiro, sua prioridade é o poder. Se amanhã ele não for mais o homem mais rico do mundo, isso não mudará nada. Ele continuará no topo.Ainda mais porque outros de seus negócios [não cotados na bolsa] parecem estar indo bem", considera.
Em janeiro de 2024, o valor financeiro da rede social X (ex-Twitter) não representava mais do que US$ 12,5 bilhões, segundo o gestor de fundos Fidelity. Mas, de acordo com o Financial Times, ela valeria hoje mais de US$ 44 bilhões, o valor que o bilionário investiu em outubro de 2022 para se tornar o proprietário. Deserta por diversos anunciantes como Disney e IBM, que criticavam a política de Elon Musk, esses anunciantes todos voltaram desde a eleição de Donald Trump, prova de que não se deve contrariar o chefe.
Outro ponto é o sucesso de seu chatbot de inteligência artificial: o Grok. Sob a égide da xAI, outra empresa de Elon Musk, que recentemente comprou o X em uma transação exclusivamente em ações, o valor dessa última é estimado em US$ 75 bilhões, segundo a Bloomberg.
Com essa IA, o poderoso empresário espera conquistar vários contratos federais para equipar as administrações e impulsionar o desenvolvimento do Optimus, seu robô assistente de vida para ajudar idosos em casa. Uma posição que "levanta questões reais de conflito de interesse", observa Boris Manenti.
Musk pode ainda conquistar outras fatias de mercado
O novo administrador da Nasa, Jared Isaacman, é um defensor do "New Space" (o desenvolvimento de programas baseados na agilidade das startups) e nunca escondeu sua proximidade com Musk, cujos foguetes provavelmente serão beneficiados no futuro.
Quanto à Starlink, a constelação de satélites comercializada pela SpaceX, ela pode conquistar mais fatias de mercado nos Estados Unidos devido à nomeação de Arielle Roth para a liderança do fundo governamental (US$ 42 bilhões) destinado a levar internet de alta velocidade para regiões do país mal ou não atendidas. Pelo menos, é isso que os democratas temem.
Para quem havia investido mais de US$ 120 milhões na campanha do candidato Trump, a fidelidade e o compromisso com o novo presidente dos Estados Unidos poderiam ainda ser particularmente vantajosos.
Muito egocêntrico para deixar os holofotes
A força de Elon Musk reside em suas múltiplas propriedades. Apesar das dificuldades com a Tesla, o homem naturalizado norte-americano em 2002 possui várias fontes de receita. Mas é possível realmente manter tantas frentes de atuação? Ross Gerber, investidor histórico da Tesla, declarou à Sky News que a empresa "precisa de um novo CEO". "Ou Elon volta para a Tesla e se torna o CEO da Tesla, abandonando seus outros cargos, ou ele se concentra no governo e continua fazendo o que está fazendo, mas encontra um CEO adequado para a Tesla."
Uma escolha que Boris Manenti tem dificuldade em acreditar: "Esses apelos pela renúncia enfrentam o maior problema de Elon Musk: seu ego. Ele é alguém que adora os holofotes. Ele é alguém que quer ser o centro das atenções e quer ser reconhecido pelos sucessos de suas empresas", contextualiza.
Elon Musk, apesar de seus bilhões em perdas, ainda continua sendo o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 350 bilhões, segundo a Forbes.