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Em Paris, Al Gore critica ataques de Trump à ciência e ao combate ao aquecimento global

29/03/2025 15h17

Em passagem por Paris, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, criticou neste sábado (29) as derivas "inaceitáveis" da administração de Donald Trump contra a ciência e a liberdade de expressão. Em entrevista a jornalistas à margem de um evento sobre mudanças climáticas, ele avaliou que a capacidade de Trump de desacelerar "a revolução da sustentabilidade" deve permanecer "limitada". 

"Não quero minimizar os desafios apresentados pela nova administração dos EUA, que é extremamente hostil a qualquer coisa que possa nos ajudar a resolver a crise climática", disse Al Gore. "Porém, acho que a sua capacidade de desacelerar a revolução da sustentabilidade é limitada", completou o ganhador do Prêmio Nobel da Paz (2007), que tem se dedicado nos últimos anos à luta contra o aquecimento global.

"Acredito que há uma grande roda que está girando na direção certa, e há uma série de pequenas rodas que estão girando na direção errada. Mas acredito que a grande roda vai prevalecer", disse ele, negando apresentar um "otimismo tóxico" nestes tempos "difíceis".

Ao questionar a ciência, destruir bancos de dados, Trump tem dado maus exemplos, na opinião do ex-vice-presidente americano (1993-2001). Al Gore descreveu a ofensiva do governo republicano contra cientistas e universidades americanas, principalmente a de Columbia, em Nova York, como "muito preocupante".

Ele considerou "inaceitável" a prisão de uma estudante da Universidade Tufts (Massachusetts),  acusada de expressar suas "opiniões" e disse estar "muito preocupado" depois que a ONG Greenpeace foi condenada, há alguns dias, a pagar uma quantia colossal a uma empresa americana - uma sentença denunciada por ativistas ambientais como um ataque "ao movimento climático como um todo".

Mas enquanto "a indústria de combustíveis fósseis é de longe o lobby empresarial mais rico e poderoso da história do mundo", Al Gore acredita que "o progresso nas energias renováveis ??continuará".

"Já estamos vendo muitas das ordens executivas de Donald Trump serem anuladas pelos tribunais. E para aqueles que se preocupam se ele pode desobedecer ordens judiciais, eu digo que isso é improvável no final", continuou. Al Gore enfatizou o comprometimento da opinião pública americana, "tanto entre republicanos quanto democratas", com "o estado de direito e a necessidade de autoridades governamentais, incluindo o presidente, obedecerem às ordens do judiciário federal".

Al Gore participou na capital francesa de uma conferência sobre o clima organizada pelo The Climate Reality Project, no Museu do Louvre. Um ativista climático incansável, Al Gore, 76, fez questão de injetar otimismo na batalha contra o aquecimento global, em uma palestra com duração de mais de duas horas e meia sobre a crise climática, suas causas e soluções. Entre os 800 participantes estavam líderes empresariais, funcionários públicos, professores, cientistas e estudantes.

Universidades ameaçadas

A educação superior americana está submetida a uma forte pressão pelo governo de Donald Trump, com cortes de fundos federais, programas de pesquisas à beira do fechamento, professores e corpo docente passíveis de serem presos e deportados por suas opiniões políticas. 

Diante da possibilidade de perder 400 milhões de dólares (2,3 bilhões de reais) em subsídios federais, a Universidade de Columbia de Nova York cedeu às mudanças exigidas por Trump, que havia acusado a instituição de tolerar o antissemitismo por permitir manifestações pró-palestinas em seu campus.

Outra importante instituição, a universidade Johns Hopkins, em Baltimore, viu evaporar 800 milhões de dólares (4,6 bilhões de reais) em fundos, o que a levou a anunciar mais de 2.000 demissões.

Milhares de pesquisadores que contribuem para alguns dos maiores avanços médicos e científicos do mundo tentam reduzir danos, ou se preparam para sua demissão.

A coerção da administração Trump "faz parte de uma estratégia autoritária clara destinada a esmagar a liberdade acadêmica e a pesquisa crítica na educação superior americana", declarou Todd Wolfson, presidente da Associação Americana de Professores Universitários (AAUP, em sua sigla em inglês). As "exigências sem precedentes de Trump e as ameaças de ações similares contra 60 universidades geraram instabilidade e um profundo efeito paralisante", alertou a AAUP. 

A volta do republicano ao poder trouxe decisões impactantes, como a proibição repentina do ensino de algumas disciplinas, o congelamento de bilhões de dólares em fundos de pesquisa e, até mesmo, a demissão de docentes por suas opiniões políticas.

"Há um medo e uma incerteza latentes", declarou à AFP uma pesquisadora em astronomia de Boulder, Colorado, sob condição de anonimato. "Qualquer coisa pode acontecer, a qualquer momento".

A preocupação aumentou ainda mais quando um cientista francês foi proibido de entrar nos Estados Unidos devido à sua opinião sobre as políticas de pesquisa da administração Trump. As informações foral obtidas após uma revista em seu telefone, na alfândega. Washington nega que essa tenha sido a razão pela qual o docente europeu não pôde entrar no país.

(Com AFP)

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