Dinamarca critica 'tom' dos EUA na Groenlândia
A Dinamarca afirmou, neste sábado (29), que não aprecia o tom usado pelo vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, que criticou a suposta inação de Copenhague na ilha autônoma da Groenlândia, um território estratégico cobiçado pelo presidente americano, Donald Trump.
"Estamos abertos a críticas, mas, para ser honesto, não apreciamos o tom em que elas foram expressas", disse o ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, em um vídeo em inglês na rede X.
"Não é assim que você fala com seus aliados próximos, e ainda considero a Dinamarca e os Estados Unidos aliados próximos", acrescentou.
A resposta da Dinamarca põe fim a uma semana de grande tensão entre os dois países, desencadeada pelo anúncio dos Estados Unidos de uma visita não anunciada de líderes americanos ao território autônomo.
Centenas de pessoas se reuniram neste sábado em frente à embaixada dos EUA em Copenhague, segurando faixas em inglês que diziam "Trump/Putin estão roubando países" e "Façam cubos de gelo, não façam guerra", observou um jornalista da AFP.
"Estamos preocupados com a nossa família que vive na Groenlândia e com o que pode acontecer com eles se a anexação ocorrer, como Trump ameaçou", disse Kista Lynge Høegh, uma groenlandesa.
"Queremos nos reunir para dizer que a retórica americana em relação à Groenlândia e à Dinamarca é inaceitável", insiste outro groenlandês, Mimik Rosing.
Durante a visita da delegação americana, que foi limitada na sexta-feira à única base militar americana na ilha do Ártico, Vance afirmou que a Dinamarca "não fez um bom trabalho para garantir a segurança da Groenlândia".
"O acordo de defesa de 1951 oferece aos Estados Unidos muitas possibilidades de ter uma presença militar muito mais forte na Groenlândia. Se é isso que vocês querem, vamos conversar sobre isso", respondeu o ministro dinamarquês, referindo-se ao texto que regulamenta a presença americana na ilha.
Em 1945, os Estados Unidos tinham 17 bases e instalações militares na Groenlândia, com milhares de soldados, ele lembrou.
"Podemos fazer mais, muito mais, dentro da estrutura atual", acrescentou.
A base de Pituffik, na costa noroeste da Groenlândia, é uma parte importante da infraestrutura de defesa antimísseis de Washington, já que sua localização no Ártico a coloca na rota mais curta para os mísseis disparados da Rússia para os Estados Unidos.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, já lamentou as críticas "injustas" dos Estados Unidos na sexta-feira, lembrando que a Dinamarca os apoiou "em algumas situações muito difíceis", referindo-se ao compromisso do país em apoiar as tropas americanas, especialmente no Iraque e no Afeganistão.
- "Status quo não é uma opção" -
O presidente dos EUA, Donald Trump, reiterou na sexta-feira que eles precisam da Groenlândia porque ela é "muito importante" para a segurança internacional.
"Até agora, todos nós agimos partindo do pressuposto de que o Ártico era e deveria permanecer uma área de baixo risco, mas esses dias acabaram", disse o ministro das Relações Exteriores dinamarquês.
"O status quo não é uma opção e é por isso que redobramos nossos esforços investindo" na segurança do Ártico, acrescentou.
Em janeiro, Copenhague anunciou que alocaria quase US$ 2 bilhões (R$ 11,5 bilhões na cotação atual) para fortalecer sua presença no Ártico e no Atlântico Norte.
Apesar do tom ameaçador de Trump, o vice-presidente dos EUA descartou o uso da força para tomar o território autônomo dinamarquês, afirmando que Washington conseguiria convencer os groenlandeses a se juntarem aos Estados Unidos.
"Acreditamos que o povo da Groenlândia é racional e (...) que chegaremos a um acordo ao estilo de Donald Trump para garantir a segurança desse território e também a dos Estados Unidos", disse Vance.
O vasto território de 57.000 habitantes, quase 90% dos quais são inuítes, goza de autonomia dentro da Dinamarca, que mantém poderes sobre diplomacia, defesa e política monetária e fornece uma ajuda anual que representa 20% do PIB da ilha.
A Groenlândia acaba de inaugurar um novo governo de coalizão e a maioria de seus habitantes quer a independência do território.
De acordo com uma pesquisa publicada no final de janeiro, a maioria também rejeita qualquer perspectiva de se tornar parte dos Estados Unidos.
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