Chernobyl em perigo? Ucrânia faz reparo em estrutura de proteção após ataque russo
Há semanas as autoridades ucranianas tentam fechar o grande buraco na cobertura protetora sobre o Bloco 4 danificado da usina nuclear desativada de Chernobyl, causado por uma ofensiva da Rússia
Na noite de 14 de fevereiro, um drone penetrou no invólucro denominado New Safe Confinement (NSC - Novo Confinamento Seguro). Um incêndio se sucedeu, provocando danos consideráveis nessa estrutura de proteção, que só foi apagado em 7 de março, três semanas após o ataque.
"A tarefa primordial é fechar o buraco de cerca de 15 metros quadrados, mas também mais de 200 furos menores, que a Defesa Civil Nacional fez no sarcófago durante os trabalhos de extinção", explica Hryhoriy Ishchenko, diretor da Agência Estatal da Ucrânia para Gestão da Zona de Exclusão (SAUEZM, na sigla em inglês).
Segundo ele, nos próximos dias especialistas de institutos de pesquisa se encontrarão em Chernobyl para começar o exame das avarias, e "recomendações provisórias para os trabalhos de reparação deverão ser apresentadas dentro de um mês".
O NSC foi construído por sobre o sarcófago de concreto provisório que cobre o Bloco 4 da usina, explodido em 26 de abril de 1986, com o fim de evitar a propagação de radioatividade. Para tal, 45 países doadores colaboraram com a Ucrânia, reunindo mais de 1,5 bilhão de euros num projeto que envolveu 10 mil participantes de 40 nações. Desde a assinatura do contrato até a entrada em funcionamento do abrigo, em 2019, transcorreram quase 12 anos.
Esforços internacionais pelo NSC quase perdido
Ishchenko informa que na área danificada as taxas de radiação são normais: "O pessoal continua trabalhando, só o sistema de regulagem de pressão não funciona mais, e se registrou umidade do ar levemente elevada. Isso se deve ao impacto e à queda de pressão sob o abrigo, que não está mais intacto."
Apesar de a queda de pressão no NSC não representar ameaça imediata, especialistas apontam outros perigos. No momento é impossível desmontar o velho sarcófago de concreto erguido logo após o desastre de 1986, explica Dmytro Humeniuk, do Centro Técnico-Científico Estatal para Segurança Radioativa da Ucrânia.
No entanto, a nova proteção foi instalada justamente para esse fim, pois o velho sarcófago está em más condições. Há 18 traves instáveis, e teme-se que uma das três vigas principais desmorone a qualquer momento. Caso partes da estrutura tombem dentro da cobertura danificada, poeira radioativa se espalharia, possivelmente provocando vazamento de radiação.
"No momento, o invólucro protetor não cumpre sua função, de isolar os produtos de fissão sob ele", observa Humeniuk. Agora não há necessidade de estocar comprimidos de iodo, nem de antecipar uma eventual evacuação, enfatizam especialistas, embora lamentando estarem praticamente perdidos todos os esforços da comunidade internacional que contribuiu para a construção da estrutura de confinamento.
"Será impossível soldar e consertar o invólucro danificado no local, pois a carga radioativa é alta demais, e atingiria os operários. O confinamento foi construído a uma certa distância e transportado sobre trilhos por sobre o antigo sarcófago. Como os trilhos foram desmontados, vamos ter que fazer alguma outra coisa", explica Dmytro Humeniuk.
Para Jan Vande Putte, do Greenpeace Ucrânia, contudo, só há uma opção para os trabalhos mais prolongados no NSC: "Devido às altas taxas radioativas sobre o sarcófago, vai ser preciso deslocar toda a cobertura sobre trilhos até o local onde foi construída, antes de poder começar com reparos custosos." A essa altura não é possível calcular os gastos envolvidos.
Como consta mo website da usina nuclear, em 18 de março representantes do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento estiveram em Chernobyl. Além de examinar as instalações técnicas do NSC e a área sob ele, conversaram com membros da diretoria. De início serão disponibilizados, para financiar um parecer técnico sobre os danos, 400 mil euros na Conta de Cooperação para Chernobyl (ICCA), administrada pelo banco.