Evento com 7.000 pastores em SP tem de Caiado e Nunes a ministro da Saúde
O congresso nacional das Assembleias de Deus Ministério Madureira teve palanque para políticos da direita e da esquerda e presença do Zé Gotinha, além de uma campanha em defesa da anistia de quase 15 minutos pelo pastor Silas Malafaia, líder da denominação Vitória em Cristo.
O que aconteceu
Quem chegasse ontem à Assembleia de Deus do Brás poderia se perguntar se estava no endereço correto. Ao longo do dia, o púlpito da igreja recebeu ministros do governo federal, secretários, governador, prefeito, vereadores e deputados, que discursaram aos mais de 7.000 pastores que passaram pelo local durante o dia.
No período da manhã, políticos da direita foram recepcionados pelo bispo Samuel Ferreira. O líder religioso falou abertamente sobre uma possível candidatura do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), ao governo e fez elogios ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União) —que já disse que, como pré-candidato à Presidência, busca ser mais conhecido pelos brasileiros.
Ferreira disse que Nunes se comprometeu a sancionar projeto que quer mudar nome de viaduto para bispa Keila Ferreira. A proposta foi apresentada pelo vereador João Jorge (MDB), membro da Assembleia de Deus do Brás, que diz enxergar como uma "justa homenagem" —a líder religiosa morreu em fevereiro deste ano. O viaduto alterado é o da Mooca, na zona leste. Procurado, o prefeito afirmou ao UOL que caso a Câmara aprove, "não tenho por que vetar".
Ao discursar, o prefeito disse ser "amigo do povo evangélico" e que defende os cristãos desde sua atuação como vereador. Nunes afirmou que ele e outros vereadores "ficavam o tempo todo vigiando" para nenhuma lei atrapalhasse o trabalho das igrejas ou a construção da família.
Políticos de direita são conhecidos antigos da igreja. Nos últimos anos, dentro ou fora de campanhas eleitorais, Ferreira cedeu espaços nos cultos para que eles falassem com os fiéis. Em 2022, a candidatura de Jair Bolsonaro (PL) foi defendida sem nenhum filtro. Após o primeiro turno, o ex-presidente visitou a unidade com a ex-primeira-dama Michelle (PL), essa sim evangélica. Nunes participou de atividade na Assembleia de Deus no ano passado, quando buscava à reeleição —ontem, o bispo se definiu como "coronel eleitoral" do prefeito.
Quem voltou a dar as caras na unidade do Brás, na zona leste de São Paulo, foram representantes do governo federal. Essa foi a primeira vez, desde o início do terceiro governo Lula, que os assembleianos viram e ouviram ministros do petista. Alexandre Padilha (Saúde) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) tiveram uma recepção tímida, mas harmoniosa. Ficaram por quase uma hora no templo, receberam oração e discursaram.
Padilha levou o Zé Gotinha para o púlpito da igreja, que fez sucesso ao receber pedidos de fotos dos fiéis. Ao lado do personagem símbolo da vacinação no país, o ministro da Saúde pregou a favor da vacina e pediu que a igreja continue "ajudando a defender a vida". Padilha disse que vai levar o Zé Gotinha para outros templos e religiões. "Faço questão de procurar todos os espaços que a gente puder para falar sobre a vacina", afirmou à imprensa após o evento.
Messias, evangélico da igreja Batista, discursou por quase 20 minutos e chegou a puxar coro para louvores tradicionais. O ministro da AGU falou da conversão dele e de sua mãe, e advertiu pais que têm trocado a "escola bíblica pelo celular". "É na infância que nós ganhamos o coração dos nossos filhos para Jesus, não desistam, não terceirizem a educação dos seus filhos a ninguém, a obrigação é nossa", disse.
Ao final de sua palavra, o ministro citou o nome de Lula, disse que havia ligado para o presidente antes de chegar à igreja. Só neste momento que a reação dos fiéis foi de maior apatia. Quando o bispo Abner Ferreira pediu para que os pastores orassem pelo petista e pela primeira-dama Janja não houve resistência, mas troca de olhares nos bancos.
A recepção foi maravilhosa, sobretudo, porque a gente veio trazer uma mensagem que não é só do governo, é do país, que é a defesa da vida, da vacinação. [...] É muito importante para o nosso país unir todo mundo em defesa da vida, em defesa da vacina.
Alexandre Padilha, ministro da Saúde
Temos que ter a coragem de fazer aquilo que o nosso Senhor Jesus Cristo espera de nós, que é fazer uma gestão focada naquilo que está escrito na Bíblia, cuidar da família, cuidar das igrejas. Vocês vão ter de mim sempre isso.
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo
Defesa da anistia
Antes da pausa para o almoço, Malafaia foi convidado a levar uma palavra aos pastores assembleianos. Antes de abrir a Bíblia, o líder religioso defendeu o projeto que propõe anistia aos manifestantes dos atos golpistas de 8 de Janeiro.
O pastor da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo é responsável por organizar os atos bolsonaristas. Mesmo nas primeiras manifestações, quando o ex-presidente decidiu não atacar o STF, nem os ministros da Corte, Malafaia fez o discurso "mais duro" —o que é visto por aliados como uma forma de resistência.
"Nós não teremos dificuldade de ir às ruas, ou onde quer que seja, para te defender", disse o bispo. Segundo Ferreira, para falar o que Malafaia diz "é só Deus guardando" e afirmou que a igreja tem defesa, que ele não irá se tornar mártir. Depois de falar por 15 minutos um discurso político, o pastor pregou uma tradicional palavra aos fiéis presentes.