EUA reforçam presença na Groenlândia em meio a tensões sobre possível anexação
A visita do vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, à Groenlândia, agendada para esta sexta-feira (28), ocorre em um momento de crescente tensão entre Washington, Copenhague e os habitantes locais. Inicialmente, a viagem incluía compromissos culturais, mas, diante da insatisfação da população, o itinerário foi alterado. Agora, JD Vance e sua esposa, Usha, visitarão exclusivamente a Base Espacial Pituffik, uma instalação militar americana no território groenlandês.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
O governo dinamarquês recebeu com alívio a decisão de reduzir a visita do casal Vance à Groenlândia, limitando-a a uma base militar dos EUA. Inicialmente, Usha Vance passaria vários dias na ilha, visitando a capital Nuuk e participando de eventos culturais, como uma tradicional corrida de trenós puxados por cães. Havia rumores de que o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, e o secretário de Energia, Chris Wright, também fariam parte da visita.
No entanto, na última quarta-feira (26), a Casa Branca anunciou que somente o vice JD Vance e a esposa finalmente visitariam a ilha, e que ambos permaneceriam apenas um dia na Groenlândia, na Base Espacial Pituffik, localizada no noroeste do território.
A decisão de limitar a visita ao território militar norte-americano foi considerada menos controversa do que a presença em eventos locais. O presidente dos EUA, Donald Trump, continua pressionando pela anexação da Groenlândia, afirmando que o território é essencial para a segurança internacional.
O chefe de governo interino da Groenlândia, Mute Egede, chamou a visita original de uma "provocação". Já o ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, disse que a mudança foi "muito positiva" e descreveu a alteração no itinerário como uma "jogada de mestre" para transformar uma escalada em uma aparente redução de tensões.
Protestos
Nos últimos meses, centenas de groenlandeses têm protestado contra a influência americana na ilha, exibindo cartazes com frases como "Respeitem os acordos internacionais" e "Ianques, vão para casa". Em março, os principais partidos políticos da Groenlândia divulgaram uma declaração conjunta condenando a postura de Trump.
O primeiro-ministro interino também se manifestou nas redes sociais, afirmando que a Groenlândia "nunca será parte dos EUA" e que os groenlandeses "nunca serão americanos". A insatisfação popular cresceu ao ponto de que, na última quarta-feira, veículos militares haviam sido enviados para ajudar na segurança durante a visita de Usha Vance à ilha.
A Groenlândia é um ponto estratégico no Ártico, região de crescente interesse geopolítico devido às mudanças climáticas e à exploração de recursos naturais. Embora tenha autonomia em assuntos internos, suas políticas de defesa e relações exteriores são controladas pela Dinamarca.
Os EUA mantêm presença militar na ilha desde a Segunda Guerra Mundial, e a Base Espacial Pituffik desempenha um papel crucial na defesa aérea e na vigilância espacial.
Sua localização no Ártico a posiciona na rota mais curta para mísseis disparados da Rússia em direção aos Estados Unidos. Antigamente chamada de Base Aérea de Thule até 2023, a instalação desempenhou um papel crucial como posto de alerta para possíveis ataques da União Soviética durante a Guerra Fria.
Além disso, é considerada um ponto estratégico para a vigilância aérea e de submarinos no hemisfério norte, uma responsabilidade que Washington alega ter sido negligenciada pela Dinamarca.
Em um vídeo publicado na rede social "X" JD Vance afirmou que sua visita tem como objetivo avaliar a segurança da ilha, argumentando que "outros países ameaçaram a Groenlândia e suas rotas marítimas", representando um risco para os EUA, o Canadá e os próprios groenlandeses. Segundo ele, a administração Trump busca reforçar a segurança da ilha, alegando que a questão tem sido negligenciada tanto pelos EUA quanto pela Dinamarca por "tempo demais".