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"Rezbotanik": curta-metragem de diretor mineiro tem estreia mundial em Paris

26/03/2025 11h13

O curta-metragem "Rezbotanik", com roteiro e direção do cineasta mineiro Pedro Gonçalves Ribeiro, teve sua estreia mundial nesta semana na 47ª edição do Festival do Filme Documentário de Paris, conhecido entre os franceses como Le Cinéma du Réel (o cinema da realidade, em tradução livre). O filme nasceu para contar a história de uma planta imigrante no Jardim Botânico de Lisboa, mas acabou revelando a potência da artista transgênero Rezmorah, de dupla nacionalidade brasileira e portuguesa.

A ideia inicial de Pedro Gonçalves Ribeiro era falar sobre uma árvore amazônica trazida pelos colonizadores portugueses de presente para o imperador. Porém, plantada no Jardim Botânico de Lisboa, a guapeba nunca deu flores. 

Em entrevista à RFI, o cineasta mineiro conta ter conhecido a performer Rezmorah logo que chegou em Lisboa. Pedro foi "fisgado" por ela, fascinado pela intensidade com que Rezmorah encara a vida e sua transgeneridade. O cineasta e a artista trans têm em comum um forte laço com a natureza, com a liberdade, e compartilham a incompreensão de um país que destruiu o pau-brasil, que avança sem parar sobre os seus biomas, a ponto de promover uma poda constante, agressiva culturalmente, castrante, que impede os seus indivíduos de dar frutos. 

"O filme e o roteiro são meus, mas tudo foi muito construído em conjunto com ela", afirma o diretor mineiro. A câmera segue os passos de Rezmorah pelo jardim, às vezes em movimentos frenéticos, enquanto a artista reflete sobre a vida. A protagonista vê o sexo como o oposto da morte. O parque é um refúgio "para um descarrego" no fim de longas noites em que se deixou consumir pelo fogo, até se esvaziar. Em meio às árvores e aos passarinhos, que a reconhecem, tudo coexiste. Há um equilíbrio no pluralismo da floresta e também em Rezmorah.

O curta experimental foi filmado em película com uma câmera Super 8 e aborda uma dualidade de Rezmorah. "Ela é ao mesmo tempo colonizadora e colonizada, e eu acho que a própria condição dela como pessoa queer, transgênero, trinária, como ela se define, tudo isso tem um reflexo também na natureza", explica o diretor e roteirista. "É um filme que fala de um jardim em Lisboa do ponto de vista brasileiro", conclui.

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