Topo
Notícias

Israel promove conferência sobre antissemitismo com lideranças da extrema-direita internacional

26/03/2025 14h58

Líderes estrangeiros da extrema direita, como o francês Jordan Bardella, foram convidados para uma conferência em Jerusalém sobre antissemitismo. Segundo observadores internacionais, isso reflete a disposição de parte da direita israelense em buscar aliados com interesses convergentes. Contudo, a presença de representantes de partidos fundados por lideranças ligadas ao nazismo ou com histórico antissemita tem gerado polêmica na opinião pública israelense.

Apesar de um histórico associado ao antissemitismo, o partido francês Reunião Nacional (RN), fundado pelo clã Le Pen, e o Fidesz, da Hungria, estão entre os convidados deste encontro, que discute formas de combater o antissemitismo no mundo ? uma das prioridades declaradas pelo governo de Benjamin Netanyahu, um dos mais conservadores da história de Israel.

Dado o histórico da sigla RN, ex-Frente Nacional liderada por Jean-Marie Le Pen, esta visita já é considerada histórica. Jordan Bardella, presidente do partido, percorreu nesta quinta-feira (26) os locais do ataque de 7 de outubro, em uma visita rigidamente supervisionada pelo governo israelense e pelo ministro da Diáspora, Amichai Chikli. Durante o percurso, Bardella prestou homenagem às vítimas, fazendo um momento de silêncio diante de suas fotos, enquanto aviões militares israelenses sobrevoavam a região do Negueve

Bardella ouviu atentamente um jovem sobrevivente de 25 anos do massacre. "Você tem muita coragem. É importante que as pessoas na França entendam o que aconteceu aqui", disse ele. 

Estratégia de normalização

À primeira vista, poderia parecer que a estratégia de renovação do partido de extrema direita francês comandado por Bardella estava consolidada após os anos Jean-Marie Le Pen e seus comentários antissemitas.

Na noite de terça-feira (25), o presidente do RN fez algumas selfies no aeroporto de Tel Aviv. Em entrevista ao Jerusalem Post, ele classificou o regime de Vichy [que colaborou com os nazistas durante a Ocupação alemã na França, durante a Segunda Guerra Mundial] como "uma mancha muito sombria na história da França", mas isso não é suficiente para tornar sua visita completamente banal.

"Não foi manchete, mas também não passou despercebido", resume Denis Charbit, cientista político da Universidade Aberta de Israel. Os meios de comunicação israelenses que abordaram a conferência antes de sua realização, na quinta-feira (26), destacaram principalmente as ausências de convidados, como o intelectual francês Bernard-Henri Lévy, que criticou a presença de representantes da extrema direita, especialmente europeus, e cancelou sua participação no evento.

"Jordan Bardella não é um homem de extrema direita, mas um amigo extremo de Israel", reagiu o Ministério da Diáspora de Israel em um comunicado. 

Partidos que foram antissemitas no passado 

"Quando um partido com histórico antissemita afirma que mudou, os israelenses reagem geralmente com desconfiança. Eles querem verificar se não é apenas uma estratégia oportunista", explicou Charbit.

Embora o RN tenha tentado suavizar sua imagem junto à comunidade judaica francesa - a maior da Europa -, seu fundador, Jean-Marie Le Pen, era conhecido por declarações negacionistas, que lhe renderam condenações judiciais.

Nesta primeira participação da extrema direita francesa em um evento oficial do governo israelense, Jordan Bardella será um dos poucos convidados a discursar, recebendo tratamento especial.

A eurodeputada húngara Kinga Gal, do Fidesz, participará de uma mesa-redonda sobre "islamismo radical", ao lado do sueco Charlie Weimers, um político anti-imigração.

"O governo israelense atual vê o mundo de forma simplista. Seus ministros não conseguem mais considerar meio século de engajamento e luta por Israel, como no caso de Bernard-Henri Lévy, diante dos seus 'novos amigos'", aponta Charbit.

"Há também quem acredite que, diante do cenário desfavorável para Israel, o país precise de novos aliados ? mesmo que tenha de superar as divergências", acrescenta o acadêmico. Para ele, "essa aproximação se deve menos a um cálculo pragmático e mais a uma convergência ideológica estreita".

"Visão securitária"

"Aqueles que se mobilizam atualmente contra um Estado não liberal não estão satisfeitos, mas tampouco surpresos com a realização da conferência", observa Charbit.

"Para os movimentos progressistas e a esquerda histórica israelense ? hoje reduzida a poucos integrantes ? está claro que essa extrema direita não é uma aliada", concorda Thomas Vescovi, pesquisador da EHESS em Paris e da Universidade Livre de Bruxelas.

Segundo esse especialista da esquerda israelense, essa minoria enfrenta um "sentimento profundo de ameaça" presente na sociedade israelense, acentuado pelo ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro de 2023.

Vescovi avalia que, desde os atentados da Segunda Intifada (2000-2005), as autoridades israelenses adotaram uma "visão de mundo" que posiciona Israel como um "país ocidental no coração de um Oriente Médio ameaçador, dominado por organizações islamistas", o que "despolitiza a questão palestina e fortalece uma abordagem securitária".

No outro extremo do espectro político, o pesquisador lembra que "uma parte da direita israelense vê o mundo como antissemita, e o que importa para eles é saber quem apoia Israel". Assim, ao defender ideias ligadas ao "choque de civilizações", a extrema direita israelense converge com outros movimentos, especialmente na Europa.

"Quando analisamos o voto dos israelenses, vemos que uma parcela significativa da sociedade compartilha essas ideias reacionárias ou de extrema direita. Não é a maioria, mas é um grupo de peso", conclui Vescovi. 

(RFI com AFP)

Notícias

publicidade