Bolsonaro se queixa de rapidez do STF, mas Moraes e PGR justificam ritmo
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que os ministros do STF "estão com pressa" para julgar a denúncia que o acusa de tentativa de golpe. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, porém, nega.
O que aconteceu
"O processo contra mim avança a uma velocidade 14 vezes maior que o do mensalão", disse Bolsonaro (PL) em publicação nas redes sociais. Segundo o ex-presidente, que se tornou réu hoje, isso aconteceria porque o STF tenta evitar que ele seja julgado em 2026 para impedir que "chegue livre às eleições".
Moraes afirma que deu ao caso "a mesma celeridade que dá aos demais processos de sua relatoria". A declaração foi dada à Folha para uma reportagem que foi compartilhada por Bolsonaro na mensagem em que se queixa sobre a suposta perseguição. O mesmo texto destaca que a rapidez nos processos de destaque sob sua condução tem sido uma das características da passagem do ministro pelo Supremo.
PGR dividiu a denúncia em núcleo justamente para agilizar o andamento dos processos. O julgamento desta semana mira o chamado "núcleo crucial". O núcleo é formado por aqueles acusados pela PGR de liderar a tentativa de golpe. Outros quatro núcleos terão seus casos julgados posteriormente.
Defesa reclama de falta de acesso a provas
"O resultado está posto. Vamos nos defender durante a ação penal", afirma advogado de Bolsonaro. Após a aceitação da denúncia, Celso Vilardi voltou a dizer que o ex-presidente não teve envolvimento com o 8/1 e reclamou sobre a falta de acesso ao material produzido durante investigações que embasaram a denúncia.
Eu avisei que a defesa teria um prejuízo concreto com a questão de não ter a totalidade dos elementos de prova (...) E hoje, o que aconteceu aqui? Trechos de diálogo, partes de depoimentos. Não sabemos em qual contexto eles foram colocados. Não sabemos de que forma eles foram colocados.
Celso Vilardi, advogado de Jair Bolsonaro
Entenda a denúncia
Ex-presidente foi denunciado pela PGR em fevereiro. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou denúncia contra Bolsonaro e outras 33 pessoas pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Ministros analisam se a denúncia da PGR tem os elementos necessários para abertura de um processo. Se a acusação trouxer pontos que descrevam condutas que poderiam ser enquadradas como criminosas, a ação penal será iniciada. Se não houver elementos suficientes tiver, a denúncia é arquivada e termina o processo.
Somente após ser concluída esta etapa, é que os ministros irão se debruçar, de fato, sobre o mérito das acusações. É nessa fase que eles irão decidir pela condenação ou não dos envolvidos. Caso a ação seja aberta, a expectativa é que o STF ouça todos os envolvidos e testemunhas ao longo do segundo semestre.