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Megassecas aumentam no mundo: Brasil teve 2 das 10 mais severas em 40 anos

Vista aérea mostra o rio Negro, afetado pela seca novamente no Amazonas em outubro de 2023 - REUTERS - BRUNO KELLY
Vista aérea mostra o rio Negro, afetado pela seca novamente no Amazonas em outubro de 2023 Imagem: REUTERS - BRUNO KELLY
do UOL

Colaboração para Ecoa

25/03/2025 05h30

As megassecas, períodos intensos e prolongados de estiagem, estão crescendo no mundo todo, concluiu um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Federal Suíço para Floresta, Neve e Pesquisa de Paisagem (WSL) em Birmensdorf, publicado em janeiro na revista científica Science.

Os cientistas ainda identificaram que duas das dez piores megassecas dos últimos 40 anos aconteceram no Brasil.

O que aconteceu

Seca nem sempre é visível a olho nu. A não ser que haja dano a plantações ou florestas, as megassecas nem sempre são tão facilmente identificadas. Por isso, para determinar exatamente quais os períodos e áreas afetadas nas últimas décadas, pesquisadores recorreram a dados meteorológicos coletados pela instituição entre 1980 e 2018.

Florestas tropicais e os Andes ainda são pouco observados. Mas alterações nos padrões de chuvas, evaporação do solo e das plantas (evapotranspiração), além de mudanças observadas na vegetação usando imagens via satélite foram essenciais para o trabalho.

Extensão das megassecas aumentou 50 mil km² por ano durante o período estudado. "Secas que duram muitos anos causam enorme dano econômico, por exemplo para a agricultura e geração de energia", apontou o autor principal do estudo, Dirk Karger, do WSL.

Brasil teve duas das dez piores megassecas das últimas quatro décadas. Ambas duraram anos. A primeira delas afetou o sudoeste da Amazônia entre 2010 e 2018, já a segunda impactou o leste do país entre 2014 e 2017.

Seca amazônica foi a sétima pior do período. Ela afetou parte dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de porções de Bolívia e Peru, provocando o ressecamento de rios como o Madeira, o Negro e o Solimões. Em 2016, a Amazônia atingiu o maior pico de seca em cem anos, e um crescimento de 30% no desmatamento tornou o risco de repetição do fenômeno ainda maior.

Já a seca do leste brasileiro foi a nona pior do mundo e afetou os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, principalmente. Na época, o estado de São Paulo atingiu sua maior seca em 45 anos, segundo a USP. O Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água para milhões de pessoas na Grande São Paulo, chegou a operar com o volume morto —menos de 5% de capacidade. Em Minas, a seca afetou a produção de energia nas usinas de Furnas.

Por que megassecas estão aumentando

O motivo para o crescimento em frequência das megassecas, concluíram os cientistas, é o aumento da temperatura global. Ondas de calor aumentam a variabilidade das chuvas, levando a períodos secos mais extremos que se alternam com chuvas mais intensas e enchentes. Além disso, o calor também aumenta evaporação do solo e da vegetação, um fator que era subestimado em pesquisas anteriores.

A gravidade das secas perenes se tornará cada vez maior com as mudanças climáticas. Philipp Brun, co-autor do estudo, do WSL

Efeitos das megassecas nos ecossistemas também têm piorado. Campos e pastagens, em particular, estão reagindo sensivelmente às secas, o que fica evidente pela perda da coloração esverdeada nas imagens via satélite. Apesar disso, estas áreas são capazes de se recuperar rapidamente.

Florestas tropicais e zonas frias são mais capazes de resistir a períodos de seca, mas quando há estiagens muito extremas, as árvores acabam morrendo. Por isso, o dano a elas costuma durar mais tempo. É possível que o resultado das últimas megassecas na Amazônia ainda seja sentido por anos, especialmente porque os eventos já voltaram a se repetir após o período estudado. Em 2024, a Amazônia teve um aumento de 2.000% na área afetada por seca extrema.

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