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Às vésperas de greve, ferroviários protestam contra privatização da CPTM

Funcionários da CPTM fizeram manifestação contra privatização na frente da bolsa de valores de São Paulo - Manuela Rached Pereira/UOL
Funcionários da CPTM fizeram manifestação contra privatização na frente da bolsa de valores de São Paulo Imagem: Manuela Rached Pereira/UOL
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Do UOL, em São Paulo

25/03/2025 10h18Atualizada em 25/03/2025 17h12

Manifestantes contrários à privatização da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) protestam na manhã de hoje na frente da Bolsa de Valores de São Paulo. O local deve receber na próxima sexta-feira, o leilão da concessão de três linhas da companhia à iniciativa privada.

O que aconteceu

O ato público reuniu cerca de cem pessoas e faz parte das movimentações dos ferroviários contra a privatização de três linhas da companhia. O governo de São Paulo projeta o leilão das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade. Estão previstos investimentos de R$ 14,3 bilhões ao longo de 25 anos de concessão.

"Empresas executam lucro, mas não retornam em investimentos à população", diz representante de sindicado. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil, que representa as bases das linhas 11, 12 e 13 da CPTM, Fernando Ricardo Santos da Costa, avalia que, enquanto a companhia pública investiu em trens, reformas e capacitação de funcionários ao longo dos últimos 30 anos, usuários de linhas privatizadas nos últimos anos sofreram com corte de gastos e pouco conhecimento técnico das equipes contratadas pelo setor privado.

Dirigente cita casos de lentidão e maior espera por trens em linhas privatizadas. "Hoje, na linha 9, por exemplo, operada pela ViaMobilidade, vemos frequentes reclamações de lentidão e que os intervalos de espera entre um trem e outro é muito maior do que era antes da privatização", diz Costa. Ele atribui os atrasos à "falta de experiência dos profissionais que estão lá, de capacitação e treinamento de pessoas contratadas pelo setor privado, e de investimento em profissionais com experiência e conhecimento apurado". E acrescenta: "Como qualquer empresa privada, o objetivo final será o lucro, não o serviço".

"Desde 2022, a população de SP amarga as consequências da privatização das linhas 8 e 9", diz presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Ao UOL, Camila Lisboa afirmou que o governo Tarcísio "não reconhece que a privatização deu errado" . Ela cita a queda na aprovação por parte dos usuários como comprovação da falta de qualidade do serviço prestado. As linhas operadas pela ViaMobilidade desde 2022 também foram alvo de investigação pelo Ministério Público de São Paulo por causa de seguidas falhas e acidentes. "As concessionárias que vencem esses leilões não estão preocupadas com a qualidade do serviço, com a segurança da população, mas com esses contratos bilionários que oneram os cofres públicos", completou Lisboa.

Privatização é sinal de um governo para "empresários e empreiteiros", diz deputada da oposição. "A gente sabe que quando você privatiza linhas da CPTM quem é atingido não são eles, mas os mais pobres e a maioria da classe trabalhadora, que são as mulheres e as pessoas negras", disse durante o ato a codeputada Sirlene Maciel, da Bancada Feminista.

Além de integrantes de movimentos sociais, parlamentares do PSOL estavam presentes no ato. Entre eles, Toninho Vespoli e representantes da Bancada Feminista, que também discursão contra a privatização das linhas da CPTM.

O UOL procurou o governo de São Paulo por um posicionamento. O texto será atualizado em caso de resposta.

Funcionários prometem greve

Decisão sobre greve deve ser confirmada em assembleia hoje. Uma reunião com ferroviários da CPTM foi marcada para as 20h de hoje, quando será votada a adesão à paralisação, que ainda não tem prazo de duração definida.

A previsão dos ferroviários é de que, se aprovada, a paralisação contra a privatização comece nesta madrugada. Segundo previsão, a partir da meia-noite a circulação será interrompida - mas o indicativo de greve ainda será debatido em assembleia, na noite de hoje.

A greve deve interromper o atendimento nas linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade. O movimento destaca que mesmo se "houver demissões por conta da greve, ela continuará e não será encerrada."

A direção do sindicato dos ferroviários declarou que só vai acabar a greve se o leilão for cancelado ou o governo demonstrar interesse em diálogo com a categoria. "Queremos que o governo seja democrático, converse com os ferroviários e consulte a população da região metropolitana de SP, que vai ser afetada, para paridade de diálogo para os dois lados" [setor privado e ferroviários], afirmou ao UOL o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil.

Mais de 4,6 milhões de pessoas residem nas regiões atendidas pelas três linhas. As linhas a serem leiloadas conectam a região central da capital paulista à zona leste e cidades como Mogi das Cruzes, Suzano e Guarulhos.

Governo prevê investimentos de R$ 14 bilhões

O governo de São Paulo estima o investimento total de R$ 14,3 bilhões ao longo de 25 anos de concessão das três linhas de trens da CPTM. Segundo a SPI (Secretaria de Parcerias em Investimentos), três grupos estudam o empreendimento, além de grandes operadoras do setor ferroviário.

O projeto do governo lista que serão construídas oito novas estações e outras 24 passarão por reformas. O edital também prevê a eliminação de todas as passagens em nível, com a implantação de passarelas ou viadutos para aumentar a segurança, além da redução no tempo de espera entre os trens.

A linha 11-Coral deve ganhar mais 4 km, com quatro novas estações. Ela se estenderá até a Barra Funda e terminará na estação César de Souza, em Mogi das Cruzes.

Já a linha 12-Safira será prolongada em 2,7 km de novos trilhos e duas novas estações devem ser construídas. Segundo o plano do governo paulista, haverá integrações com as linhas 13-Jade da CPTM e 2-Verde do metrô.

Para a linha 13-Jade o plano é uma extensão adicional de 15,6 km com seis novas estações. A linha chegará até Bonsucesso e Gabriela Mistral, atualmente terminando no aeroporto de Guarulhos.

As linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda já são operadas pela ViaMobilidade, da iniciativa privada.

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