Milhões por Fuscas: quem comprou carros de concessionária 'fantasma' da VW
Mostrada pelo UOL Carros em 2020, a coleção de veículos clássicos da Volkswagen em uma concessionária fechada por mais de 20 anos na cidade de Estrela (RS) terá um novo dono. Os seis modelos foram adquiridos por Claudinei Senhoreti, um brasileiro que mora na Flórida e, além de ser piloto amador da Ferrari, trabalha no comércio de carros de luxo.
Senhoreti já é dono de um acervo extenso de carros raros. Em entrevista ao UOL Carros, ele explicou que foram cinco meses de negociação até fechar o negócio, cujo valor não revela, mas confirma ter sido "muito maior" do que R$ 1 milhão.
"Tive o prazer de, junto aos meus amigos, cortar a porta soldada que guardava um dos Fuscas. Isso não tem preço, é memória, sentimentos, uma sensação que ficará para sempre de estar naquele lugar".
Senhoreti reforça que, sobretudo, cuida de carros antigos por paixão. "Meus amigos colecionadores, vendo pelo lado financeiro, já diziam: 'Deixa os carros no Brasil, pois eles têm mais valor lá'. Mas isso era inegociável, pois minha intenção não é revendê-los", explica.
Os Fuscas zero-km são as principais atrações da coleção. O modelo Última Série 1986 foi entregue a concessionários quando a produção do carro foi interrompida, sendo que apenas 850 unidades foram fabricadas. O acervo também reúne dois Série Ouro Itamar 1996, além de um modelo utilizado pelo antigo dono da concessionária, Otmar Essig.
A coleção ainda conta com outros dois clássicos zero-km: VW SP2 1975 e um Quantum 1996. Todos os carros ficaram durante décadas parados na concessionária, sendo que alguns ainda conservam o polimento original.
O planejamento de Senhoreti é levar a frota para os EUA, a fim de exibi-la em um novo showroom que o colecionador está preparando. Mas o empresário confessa que a repercussão foi tão grande que, o que antes era um plano "sólido e único e inegociável", agora pode ser diferente.
"Isso está realmente tirando meu sono, pois recebo muitas mensagens pedindo para não tirar os carros do Brasil, deixá-los em exposição, fazer um museu, o que seja. Realmente mexeu muito com meu lado sentimental", explica.
Acervo extenso
Claude Senhoreti tem experiência no ramo de colecionadores automotivos. Em um vídeo gravado por Enzo Fittipaldi, neto de Emerson e a quem o colecionador considera um 'sobrinho', o empresário revela uma sala de estar onde há um IndyCar usado pelo piloto brasileiro em 1989, quando foi campeão pela Penske. O bólido foi adquirido em 2009, em um leilão.
No mesmo cômodo, há uma mesa apoiada em um motor V12 da Ferrari, o motor V8 turbo do Indy e um capacete usado por Carlos Sainz na Fórmula 1. No andar de cima, entretanto, chama atenção uma motocicleta MV Agusta que pertenceu a Ayrton Senna.
A moto do Senna pertencia à coleção de um piloto da Indy, que prefiro não revelar.
Os xodós de seu acervo ainda incluem uma Lamborghini Huracán STO de série limitada, uma Diablo, um Porsche 993 Turbo com carroceria widebody, um Ford Mustang Fastback e duas Ferraris: uma 512 BBI e 448 Pista Piloto, vendida apenas para quem já competiu pela marca.
A paixão por Volkswagen também é notória, com a garagem guardando um Gol GTi 1993, um Passat GTS Pointer e uma Parati GLS. Além disso, uma Saveiro GTI, criada pelo prestigiado estúdio de customização By Deni, está a caminho.
A origem dos VW do RS
A discrição de Otmar Essig gerou, ao longo dos anos, muita expectativa sobre o real conteúdo de seu acervo. No fim das contas, tal expectativa se concretizou, principalmente pela existência de carros feitos há décadas.
Essig, no entanto, era avesso às câmeras a ponto de ter concedido uma entrevista somente em áudio ao Fantástico, há 14 anos. Segundo os pouco relatos a respeito, ele foi concessionário da Volks até a virada do século, quando perdeu a concessão devido a baixas vendas. De 2002 até a sua morte, em 2022, a loja seguiu abrindo, mas apenas para exibir a coleção de carros extremamente bem cuidados.
Agora, Senhoreti se inspira em Essig para prosperar ainda mais o seu trabalho de preservação. "São carros zero-km que, por 40 anos, ainda estavam dentro da concessionária original sem nunca terem sido faturadas. Deve ser uma história única, e é claro que ela deve ser preservada e lembrada em qualquer parte do mundo".