Rasputin moderno? Quem é Dugin, o filósofo tido como 'cérebro de Putin'
O filósofo Aleksander Dugin, 63, tido por analistas políticos como o "cérebro de Putin", é conhecido por suas visões ultranacionalistas e considerado por alguns o pensador mais influente da Rússia.
Quem é Dugin
Nasceu em Moscou e seu pai era um coronel-general da GRU, a agência de inteligência militar soviética. Apesar de ter abandonado a família quando Dugin tinha três anos, o pai o teria tirado de saias justas com autoridades ao longo dos anos, segundo o livro "Black Wind, White Snow", do jornalista Charles Clover, ex-chefe do escritório de Moscou do jornal inglês Financial Times.
Expulso do Instituto de Aviação de Moscou por razões que não são claras, ele se tornou um autodidata. No início de sua carreira, ele varria ruas de Moscou, mas depois passou a traduzir livros e a atuar como jornalista.
Em 1980, ele entrou para o Círculo Yuzhinsky, grupo que experimentava com satanismo, com as facetas esotéricas do movimento nazista e outras formas de ocultismo. Entre elas estão experiências de transe, pentagramas, tabuleiro Ouija e etc., segundo pesquisas de Clover e da historiadora francesa Marlène Laruelle. Dugin teria ainda se interessado por fascismo, paganismo e maçonaria.
Dugin teria se aproximado da ideologia nazista como forma de rejeição à União Soviética em que cresceu. Ele seguiu se definindo, ao longo dos anos de ativismo político, como um anticomunista. Em 1987, durante o segundo ano de Mikhail Gorbachev no cargo, Dugin juntou-se à liderança da notória organização nacionalista russa antissemita Pamyat.
No início dos anos 90, ele passou a se associar a "patriotas estadistas". Daí sua breve relação com os políticos do novo partido comunista russo, como Gennady Zyuganov. Em 1993, ele fundou com Eduard Limonov, a sua própria sigla, o Partido Nacional Bolchevique, que fazia uma releitura nacionalista dos valores da Revolução Russa. Ele logo passou a cultivar boas relações com políticos neofascistas ou de laços militares.
Em 1997, ele publicou seu livro seminal, "Fundações de Geopolítica". Dois anos depois, fundou o Centro de Experiência Geopolítica de Moscou, com o objetivo de ser um "instrumento analítico da plataforma eurasiana" que serviria à administração presidencial. Desde que estreitou laços com Putin, Dugin atua como professor na Universidade Estatal de Moscou.
Por causa de sua ascendência sobre o presidente russo, alguns o chamam de "Rasputin de Putin". Trata-se de uma referência a Grigori Rasputin, guru do czar Nicolau 2º.
Defensor da invasão da Crimeia, em 2014, Dugin teve a filha assassinada em um atentado em 2022. À época, os ucranianos foram responsabilizados pelos russos pela morte de Daria Dugina, aos 30 anos, em um veículo-bomba, seis meses depois do início da guerra entre os dois países.
O que ele pensa?
A filosofia de Dugin é conhecida como eurasianismo. Nesta proposta de um novo imperialismo, a Rússia não é nem oriental, nem ocidental, mas uma meganação que reúne todos os povos que falam o russo em uma civilização separada e única, um "império eurasiano" engajado em uma batalha por seu lugar de direito entre as potências mundiais.
A principal missão dessa civilização deve ser desafiar a dominação americana do mundo. Paradoxalmente, suas teorias receberam apoio tanto da "nova direita" na Europa quanto da "alt right" (direita alternativa) nos EUA.
O globalismo a que Dugin se refere, no entanto, é um termo vago interpretado de diferentes formas por políticos mundiais, especialmente os conservadores. No Brasil, Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores da gestão Bolsonaro, classificou o globalismo como uma "configuração atual do marxismo" em texto de seu extinto blog Metapolítica 17. "É globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural", escreveu
Em 2000, Dugin conheceu Gleb Pavlovskii, um dos principais ideólogos do governo do recém-eleito Putin. Meses depois, o novo presidente declarou que "a Rússia sempre se viu como um país eurasiano", uma espécie de reconhecimento tanto da influência do filósofo sobre o líder quanto de suas teorias. Dugin, mais tarde, classificou a fala do presidente como "histórica, grandiosa e revolucionária" e disse que mudou "tudo".
Ele acredita que o presidente americano Donald Trump é mais próximo do russo do que de lideranças ocidentais."É óbvio. [Trump] é muito mais conservador. Ele é a favor dos valores tradicionais, a favor do patriotismo, da nação", comentou à rede americana CNN na semana passada. Dugin ainda classificou o alinhamento entre Putin e Trump como uma "ordem mundial dos grandes poderes" e comemorou que ambos concordem em "aceitar este novo modelo em vez do globalismo liberal".
O que ele diz sobre o Brasil?
O 'cérebro de Putin' saiu em defesa de Elon Musk e endossou as críticas do dono do X ao ministro do STF Alexandre de Moraes, em 2024. Segundo Dugin, conhecido por defender um visão ultranacionalista de Estado, as decisões judiciais da corte contra a plataforma são "erradas e desastrosas".
Dugin também disse que o X é a única rede social capaz de "mostrar corretamente as coisas como elas são". "Obviamente, o X não é a verdade definitiva nem pretende ser. Apenas a boa e velha liberdade de expressão que perdemos em qualquer outro lugar".
Com informações de agências publicadas em 17/04/2022 e 08/04/2024.